por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com
O terreno do documentário continua em plena expansão formal, e observar isso é interessante sempre. Dois filmes recentes representam bem isso, o Standard Operating Procedure, de Errol Morris, que passou em Berlim (prêmio especial do júri), filme equipado com todo tipo de luxo áudio-visual de reconstituição factual, e o outro é esse que acabo de ver agora, Waltz With Bashir (Valsa Com Bashir, Israel/Alemanha, 2008), filme de Ari Folman que está na competição.
O documentário é uma animação rotoscopada, estilo Waking Life. Depoimentos e reconstituições (ou dramatizações) são animadas, dando ao filme uma aura de ficção sistematicamente quebrada pela verdade dos depoimentos, todos de homens israelenses no presente (na faixa dos 40/50) que lembram de detalhes (ou tentam recuperar, eles mesmos, esses detalhes) de suas participações no exército de Israel nos anos 80.
Folman, ele mesmo um ex-combatente que parece ter feito o filme para conseguir negociar traumas pessoais, constrói toda a sua narrativa em torno do notório massacre de Sabra & Shatila, no Líbano, em 1982, e o filme lenta, mas seguramente, nos leva a um clímax de selvageria bem construído através de uma dezena de pequenas histórias que ilustram a crueldade dos conflitos naquela região.
Durante a projeção, um certo desconforto foi sendo criado pela semelhança não muito saudável com o universo proposto ano passado por Persépolis, de Marjane Satrapi, que, esse ano, nada mais é do que uma jurada.
O conceito de lembranças muito pessoais da história recente do oriente médio e animação moderna temperada por música pop ocidental (Orchestral Manoeuvres in the Dark, PIL) me pareceu estranho, embora, rumo ao final, Folman parece conseguir se desvencilhar da sombra com um final inegavelmente potente que parece entender muito bem o significado e o peso de imagens, especialmente num filme que repensa toda uma idéia de "documento".
Também riquíssimo no filme é o subtexto histórico e cultural de um povo (o israelense) que sobreviveu atrocidades sob os nazistas para, num ciclo demente e vicioso, ver-se, 30 anos depois, supervisionando (ou como o filme coloca muito bem, "iluminando") uma ação dantesca de extermínio nos campos do Líbano.
Filme visto na Sala Bazin, Cannes, 14 de maio 2008
O documentário é uma animação rotoscopada, estilo Waking Life. Depoimentos e reconstituições (ou dramatizações) são animadas, dando ao filme uma aura de ficção sistematicamente quebrada pela verdade dos depoimentos, todos de homens israelenses no presente (na faixa dos 40/50) que lembram de detalhes (ou tentam recuperar, eles mesmos, esses detalhes) de suas participações no exército de Israel nos anos 80.
Folman, ele mesmo um ex-combatente que parece ter feito o filme para conseguir negociar traumas pessoais, constrói toda a sua narrativa em torno do notório massacre de Sabra & Shatila, no Líbano, em 1982, e o filme lenta, mas seguramente, nos leva a um clímax de selvageria bem construído através de uma dezena de pequenas histórias que ilustram a crueldade dos conflitos naquela região.
Durante a projeção, um certo desconforto foi sendo criado pela semelhança não muito saudável com o universo proposto ano passado por Persépolis, de Marjane Satrapi, que, esse ano, nada mais é do que uma jurada.
O conceito de lembranças muito pessoais da história recente do oriente médio e animação moderna temperada por música pop ocidental (Orchestral Manoeuvres in the Dark, PIL) me pareceu estranho, embora, rumo ao final, Folman parece conseguir se desvencilhar da sombra com um final inegavelmente potente que parece entender muito bem o significado e o peso de imagens, especialmente num filme que repensa toda uma idéia de "documento".
Também riquíssimo no filme é o subtexto histórico e cultural de um povo (o israelense) que sobreviveu atrocidades sob os nazistas para, num ciclo demente e vicioso, ver-se, 30 anos depois, supervisionando (ou como o filme coloca muito bem, "iluminando") uma ação dantesca de extermínio nos campos do Líbano.
Filme visto na Sala Bazin, Cannes, 14 de maio 2008
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