cinemascopio@gmail.com
O gênero por excelência do multiplex deve ser mesmo a comédia romântica. É a atração fatal de casais que saem à noite para "pegar um cineminha", o que casa com mantra machista largamente difundido entre distribuidores cinematográficos: "filme que mulher não gosta não dá bilheteria". Na última terça-feira, tudo foi confirmado outra vez. Numa das pré-estréias de Jogo de Amor em Las Vegas (What Happens in Vegas, EUA, 2008), sala quase cheia, gargalhadas em todas as direções para Cameron Diaz e Ashton Kutcher, dois representantes legais da feminilidade e masculinidade cinematográficas de Hollywood hoje, colírios para todas as orientações sexuais atualmente disponíveis.
A personagem dela (loira, magra, bronzeado de micro-ondas) acaba de levar um fora do noivo, o dele (alto, forte, contratualmente sem camisa) acaba de perder o emprego. Suas trajetórias paralelas os levam a Las Vegas, espécie de shangri-lá da cultura americana, "cidade do pecado" onde tudo é permitido em finais de semana regados a dinheiro, bebida e sexo, válvula de escape moral. E os dois lá se encontram para afogar mágoas e, trêbados, casam-se numa cerimônia a jato, horas antes de acordarem com a obrigatória ressaca física e moral.
O roteiro arremessa toda essa informação em cusparadas de imagens maníaco-obsessivas, aparentemente com a intenção de transmitir a loucura que é estar na manguaça em Las Vegas. Vamos Nessa (Go!) havia captado esse clima de farra de maneira bem mais eficaz, e aqui o recado é apenas levemente dado.
Um desdobramento engraçado traz para o casal (que já discute um rápido divórcio) um jackpot de três milhões de dólares, saído de uma máquina onde ela pôs a moeda e ele acionou a alavanca. E o casamento fugaz entre esses dois vira, claro, 'big business', e todos nós (desde o trailer) passamos a desconfiar para onde o filme estará indo.
Em alguns dos melhores momentos (até mais ou menos a audiência com o juiz), eu estava gostando razoavelmente. Há um estilo claramente 'screwball comedy' americana no ar, e o jackpot me pareceu uma idéia cínica sobre a idéia que os americanos têm de um casamento, tema tratado por último no filme do Sex and the City.
Sob ordem judicial, os dois são obrigados a viver seis meses sob o regime de casamento, e entram as piadas sobre tampa de sanitário para cima, cuecas espalhadas pela casa e as horas que ela passa no banheiro mexendo no cabelo. Comentários sobre o mundo corporativo onde ela trabalha marcam presença, e os dois amigos dela e dele ameaçam roubar a graça.
Em alguns momentos, Jogo de Amor em Las Vegas anima bastante a patifaria à mostra na tela com um estilo hiperativo anabolizado que é engraçado por si só. Contra o filme vai a clara higienização de uma história sobre adultos, sexo, bebida, farras e relacionamentos, o que nos sugere um filme melhor que poderia ter sido. Esse filme, aliás, já foi feito e chama-se A Guerra dos Roses (1990), aquela vitamina reforçada de fel que Danny de Vito dirigiu para adultos, com Kathleen Turner ("Woof! Woof!) e Michael Douglas.
Sobre o filme que foi feito, um dos preceitos da comédia romântica é o de que todos os caminhos levam ao casório, mesmo que ao final molenga você sinta uma estranha saudade dos personagens no início da projeção. O ponto de partida num produto como esse sempre soa mais livre do que o final de novela ruim.
Filme visto no UCI Recife, Junho 2008
O gênero por excelência do multiplex deve ser mesmo a comédia romântica. É a atração fatal de casais que saem à noite para "pegar um cineminha", o que casa com mantra machista largamente difundido entre distribuidores cinematográficos: "filme que mulher não gosta não dá bilheteria". Na última terça-feira, tudo foi confirmado outra vez. Numa das pré-estréias de Jogo de Amor em Las Vegas (What Happens in Vegas, EUA, 2008), sala quase cheia, gargalhadas em todas as direções para Cameron Diaz e Ashton Kutcher, dois representantes legais da feminilidade e masculinidade cinematográficas de Hollywood hoje, colírios para todas as orientações sexuais atualmente disponíveis.
A personagem dela (loira, magra, bronzeado de micro-ondas) acaba de levar um fora do noivo, o dele (alto, forte, contratualmente sem camisa) acaba de perder o emprego. Suas trajetórias paralelas os levam a Las Vegas, espécie de shangri-lá da cultura americana, "cidade do pecado" onde tudo é permitido em finais de semana regados a dinheiro, bebida e sexo, válvula de escape moral. E os dois lá se encontram para afogar mágoas e, trêbados, casam-se numa cerimônia a jato, horas antes de acordarem com a obrigatória ressaca física e moral.
O roteiro arremessa toda essa informação em cusparadas de imagens maníaco-obsessivas, aparentemente com a intenção de transmitir a loucura que é estar na manguaça em Las Vegas. Vamos Nessa (Go!) havia captado esse clima de farra de maneira bem mais eficaz, e aqui o recado é apenas levemente dado.
Um desdobramento engraçado traz para o casal (que já discute um rápido divórcio) um jackpot de três milhões de dólares, saído de uma máquina onde ela pôs a moeda e ele acionou a alavanca. E o casamento fugaz entre esses dois vira, claro, 'big business', e todos nós (desde o trailer) passamos a desconfiar para onde o filme estará indo.
Em alguns dos melhores momentos (até mais ou menos a audiência com o juiz), eu estava gostando razoavelmente. Há um estilo claramente 'screwball comedy' americana no ar, e o jackpot me pareceu uma idéia cínica sobre a idéia que os americanos têm de um casamento, tema tratado por último no filme do Sex and the City.
Sob ordem judicial, os dois são obrigados a viver seis meses sob o regime de casamento, e entram as piadas sobre tampa de sanitário para cima, cuecas espalhadas pela casa e as horas que ela passa no banheiro mexendo no cabelo. Comentários sobre o mundo corporativo onde ela trabalha marcam presença, e os dois amigos dela e dele ameaçam roubar a graça.
Em alguns momentos, Jogo de Amor em Las Vegas anima bastante a patifaria à mostra na tela com um estilo hiperativo anabolizado que é engraçado por si só. Contra o filme vai a clara higienização de uma história sobre adultos, sexo, bebida, farras e relacionamentos, o que nos sugere um filme melhor que poderia ter sido. Esse filme, aliás, já foi feito e chama-se A Guerra dos Roses (1990), aquela vitamina reforçada de fel que Danny de Vito dirigiu para adultos, com Kathleen Turner ("Woof! Woof!) e Michael Douglas.
Sobre o filme que foi feito, um dos preceitos da comédia romântica é o de que todos os caminhos levam ao casório, mesmo que ao final molenga você sinta uma estranha saudade dos personagens no início da projeção. O ponto de partida num produto como esse sempre soa mais livre do que o final de novela ruim.
Filme visto no UCI Recife, Junho 2008
1 comment:
Esse filme é uma merda da merda da merda da merda.
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