Thursday, July 10, 2008

Kung Fu Panda (um PC)



Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Semana passada estreou Wall-e, a animação da Pixar que é uma feliz experimentação sobre um robozinho solitário. Hoje, de olho no mercado das férias brasileiras de inverno, a estréia nacional (mundial, aliás) é Kung Fu Panda (EUA, 2008), animação digital com ênfase na 'ação' sobre urso sedentário que sonha em tornar-se herói das artes marciais. Se fossem computadores, Wall-e seria um Mac e Kung Fu Panda um PC, mas pelo menos um que faz o serviço bem e sem travar.

Com Wall-e, havia alguma dúvida se o estilo tranqüilo e visual do filme manteria a atenção das crianças. Como criança não é boba, há relatos de conhecidos de que Wall-e tem encantado os pequenos, e essa dúvida inexiste em relação a Kung Fu Panda, uma super movimentada sessão de videogame com personagens engraçados e ação visualmente estapafúrdia. É para ver, divertir-se e esquecer.

O filme da Dreamworks Animation, vice já há dez anos no mundo da animação digital, sempre atrás criativamente da Pixar, é aquela coisa de programa perfeito para as crianças, que, em grande parte, não vão dormir. Teve o tratamento tapete vermelho no último Festival de Cannes, onde passou fora de competição com a presença dos atores que dão suas vozes aos personagens, Jack Black, Angelina Jolie e Dustin Hoffman. No Brasil, por causa das cópias dubladas, eles não estão no filme, e os distribuidores tentam destacar os trabalhos de dois astros televisivos nacionais, de longe sem o mesmo efeito: Difícil imaginar alguém pulando de alegria para ouvir Lúcio Mauro Filho e não ver (categoricamente) Juliana Paes, embora sua dublê animada seja gatosa.

Kung Fu Panda explora o universo oriental cinematográfico das artes marciais com personagem titular fofinho de grande identificação. Esse panda chama-se Po, construído como aquele cara legal um pouco obeso que ainda mora com a família, dona de um restaurante de macarrão chinês. Ele é fã de cultura pop (da antiga China), e lá estão referências à comida, fogos de artifício, Bruce Lee, num universo re-popularizado recentemente no ocidente por O Tigre e o Dragão, de Ang Lee, e Kill Bill, de Quentin Tarantino.

Investindo no conceito de "o escolhido", Po é apontado por uma antiga profecia como sendo predestinado a ser um mestre das artes marciais, escolha que choca toda a comunidade. Como pode um urso sem fôlego virar lenda e salvador do Vale da Paz? A escolha inesperada de Po também decepciona os lendários 5 Furiosos, talvez a mais engraçada criação do filme.

São cinco animais, alguns claramente raquíticos geneticamente, todos treinados por Shifu, clássico mestre no estilo Pei-Mei, do filme de Tarantino. Foi ele quem preparou uma tigresa bem 'gata' (Paes), um macaco, uma víbora, uma cegonha e um louva-Deus bem macho. A escolha dessas espécies reflete a própria escolha incomum de Po, e cada um deles revela-se uma máquina de sopapos quando o negócio aperta.

O vilão da história é um outro discípulo de Shifu, um tigre da neve chamado Tai Lung, um cabra tão mal humorado pelo seu treinamento inclemente que virou uma ameaça à sociedade, isolado numa prisão de segurança máxima só para ele, e que quer voltar para vingar-se da comunidade de Po.

Esse tipo de produto é feito por gente profissional que não dá ponto sem nó, explorando o universo infantil contemporâneo como quem segue os resultados de uma pesquisa de mercado. A movimentação dos 5 Furiosos tem muito de Matrix e de videogames como Tekken. A fuga de Tai Lung da prisão é uma partida de videogame já pronta para ser comercializada, e que também demonstra o grau de dificuldade que Po terá no sentido de defender sua comunidade.

A mensagem final de Kung Fu Panda também chega como um alívio para crianças e adultos sedentários. Parece que a conclusão é "basta você ser seu próprio herói com a ajuda dos seus amigos, e tudo dará certo". Que bom.

Filme visto no UCI Boa Viagem, Recife, Julho 2008

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