Monday, July 28, 2008

'Vá e Veja' em DVD no Brasil



por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


A Lume Filmes dá um belo golpe nas preocupações mecanicamente comerciais das demais distribuidoras de DVD com o próximo pacote do selo, no que mais parece uma mini-mostra de cineastas iconoclastas. De uma só vez, a Lume traz O Conformista (Il Conformista), de Bernardo Bertolucci, Seul Contre Tous (1998), de Gaspar Noé, e Vá e Veja (Idi i Smotri, URSS, 1985), de Elen Klimov.

Com isso, chega finalmente ao DVD brasileiro uma coisa bela e estranha chamada "Vá e Veja", provavelmente o filme de guerra mais expressivo já feito, e que, obviamente, anulou boa parte dos filmes de guerra que eu havia visto antes, e certamente que vi depois. O filme saiu em VHS pela Globo Video no final dos anos 80, e permanecia uma lacuna inexplicável no DVD brasileiro.

Elen Klimov, russo que cresceu na sua Terra Mãe, país onde a guerra raramente foi pop ou aventuresca, tem visão diferente da forma como os EUA venderam o conflito armado no cinema desde o final da II Guerra Mundial, playground nostálgico da "última boa guerra".

A visão de Klimov para a guerra é a da sujeira humana no seu tom bíblico e apocalíptico, e o olhar hipnotizado pelo horror do personagem principal, um garoto lidando com os resultados da campanha de extermínio da wehrmacht no fronte leste, na União Soviética, em 1942, é o fio condutor desse filme fascinante que precisa ser descoberto.

Descoberto pois Vá e Veja por questões políticas e de mercado, permanece criminosamente desconhecido, enquanto obras claramente influenciadas por ele ganharam fama e fortuna, especialmente Império do Sol (1987) e O Resgate do Soldado Ryan (1998), ambos de Spielberg.

Para quem comprar o DVD, vale saber que o formato original de tela escolhido por Klimov é o clássico 1.37:1, o que significa que a tela cheia reproduz as intenções originais do realizador. O 1.37 permaneceu formato comum até os anos 80.

Seul Contre Tous (que a Lume deverá registrar como Só Contra Todos) foi ponta de lança de uma noção anos 90 de "cinema extremo", ao lado de Aconteceu Perto de Sua Casa (C'est Arrivée Prés de Chez Vous, Bélgica, 1992), Funny Games (1997), de Michael Haneke, Os Idiotas, de Lars Von Trier, A Humanidade (L'Humanité, 1999), de Bruno Dumont, Baise Moi (2000), de Virginie Despentes, a lista é bem longa.

Talvez não precise informar muita coisa além sobre Seul Contre Tous a não ser lembrar que esse é o primeiro longa do diretor de Irreversível, menos qualquer noção de glamour.

Noé filma a triste história de uma vida frustrada via personagem de homem comum, um açougueiro francês (Philippe Nahon). Pancadas no som e zoom violentos nas imagem deixam o espectador num estado de nervos precário, e logo nosso herói descerá lentamente a áreas ainda mais sombrias da sua vida, e isso incui uma relação incestuosa com a filha.

Sobre O Conformista, vale apenas lembrar que alunos de cinema não são os únicos beneficiários desse marco de Bertolucci, mas também os de arquitetura, design e história.

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