Thursday, September 4, 2008

A Banda



Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


O muito simpático A Banda (Bikur Ha-Tizmoret, Israel, 2007), filme de Eran Kolirin, chama a atenção por propor uma interação não-militar, ou explosiva, entre judeus e árabes, numa narrativa que demonstra a curiosidade, de ambas as partes, para elucidar não tanto questões políticas e históricas, mas aspectos humanos como "quem é você e o que estás fazendo aqui?". Se a língua que os une no filme é quase sempre o inglês, Kolirin parece utilizar os créditos finais com a equipe técnica como delicada mensagem: os créditos passam em árabe e hebreu, simultaneamente.

Vale esclarecer que, de fato, ao citar o binômio indissociável "judeus e árabes", o filme não estará falando sobre Israel e Palestina, mas sobre um grupo de músicos egípcios - a Banda Cerimonial da Polícia de Alexandria - convidada para tocar no interior de Israel. Com uniforme azul piscina, chapéus e cada músico carregando curiosas malas que revelam seus instrumentos, eles mostram-se um grupo difícil de não ser enxergado à distância, principalmente depois de tomarem um ônibus errado e irem parar no meio do nada.

Essa narrativa tem claramente o tom, pejorativo talvez, de um inofensivo "world movie", o equivalente cinematográfico da world music. De qualquer forma, revela-se melhor do que isso, e ergue-se com discreta naturalidade. Os conflitos, um a um, vão se aproximando da verdade em pequenos sopros de humor que o espectador deverá, sozinho, captar, sem o auxílio de música ou claque de riso.

Alguns dos músicos são delicadamente desenvolvidos com personalidades bem sugeridas (outros permanecem figurantes), com destaque para o enorme sucesso junto às mulheres, Khaled (Saleh Bakri), que se transforma num professor de naturalidade e delicadeza com o sexo oposto para um angustiado nativo.

Liderados pelo conservador Tawfiq Zacharaya (Sasson Gabai), o grupo ganha interlocução com a interessante dona de uma lanchonete, Dina (Ronit Elkabetz), questionadora, curiosa sobre esse grupo (em particular, Tawfiq), e que parte para não só dar-lhes abrigo na sua casa, mas também, e esta é a melhor coisa do filme, mostrar-lhe um pouco da vida normal num lugar distante que é o pequeno mundo onde vive. Na verdade, tem-se a sensação de que a visita inesperada desta banda foi a melhor coisa que aconteceu no lugarejo em tempos recentes.

A Banda traduz muito bem a estranhíssima sensação de estar num lugar onde você, na verdade, não deveria estar. Estadias acidentais em certas viagens, no fim das contas, podem ser experiências ricas, pois a interação vem da naturalidade instintiva. Essa crônica capta bem o clima de uma viagem, esse deslocamento físico para um outro lugar que, frequentemente, te deixa mudado ao final, ou pelo menos capaz de enxergar novas possibilidades.

Filme visto no Jean Eustache, Bordeaux, França, Janeiro 2008

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