Monday, September 15, 2008
Linha de Passe e o Oscar
Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com
Desde que saiu a lista dos brasileiros inscritos por seus produtores para uma possível vaga brasileira no Oscar de Filme Estrangeiro (indicação), que a pergunta feita por todos é, "onde está o Linha de Passe?"
Eu havia ligado para Anna Luiza Muller (assessora de imprensa de Walter) no dia da divulgação dos inscritos, e ela me falou motivos pessoais "em off", o que me deixou, em termos jornalísticos, a ver navios, pois não poderia divulgá-los. Agora, ela me avisa que saiu esse texto, escrito pelo próprio Walter, postado no site do filme, http://www.paramountpictures.com.br/linhadepasse.
Reproduzo-o aqui, abaixo.
No mais, acho bom que Walter Salles faça o que acha melhor para ele mesmo em termos pessoais, o track record dele não é pequeno. Na verdade, sempre me interessa entender as movimentações pessoais que existem por trás do filme público que temos acesso, seja ver o meninão quarentão que é um Guillermo del Toro se esbaldando com suas criaturas, um Ben Stiller torrando toneladas de dinheiro numa gréia industrial como Tropic Thunder, ou um David Lynch vendendo café e transcendência, que me faz lembrar essa tomada de atitude de Salles e Daniela Thomas.
Sobre o Oscar de Filme Estrangeiro, por Walter Salles (14/9/08)
"Participar da campanha pelo Oscar de melhor filme estrangeiro é um processo mais complexo do que parece. Já percorri essa estrada e sei que sem uma dedicação de vários meses, as chances de um filme selecionado por um país chegar à final e possivelmente ganhar são escassas.
Fazer parte da Mostra Competitiva dos mais importantes festivais do mundo é um processo altamente seletivo, que oferece um retrato amplo do cinema independente mundial e se encerra em poucas semanas. A corrida para o Oscar, ao contrário, não se decide em um único evento e sim em etapas sucessivas. É como a diferença entre uma corrida de 400 metros e uma maratona - só que com barreiras...
Uma campanha realmente competitiva para o Oscar começa nos prêmios que são outorgados no final do segundo semestre pelo National Board of Review, a mais antiga associação de críticos dos Estados Unidos, e continua com os prêmios da crítica especializada das maiores cidades daquele país. Para cada um desses eventos, é necessário apresentar o filme, realizar debates, fazer dezenas de entrevistas desde meados do segundo semestre.
Em anos especialmente disputados, lançar o filme nos Estados Unidos até outubro ou novembro é um trunfo importante. Quando "Central do Brasil" ganhou o prêmio de melhor filme estrangeiro do National Board of Review em dezembro de 1998 e depois o Globo de Ouro, já tínhamos lançado o filme nos Estados Unidos e realizado dezenas de debates através do país. Roberto Begnini, que ganhou o Oscar em março de 1999, lançou o seu filme ainda mais cedo, mudou-se para Los Angeles e passou vários meses em campanha.
"Linha de passe" foi realizado sem incentivos fiscais, graças ao financiamento de uma companhia especializada em viabilizar filmes independentes e à pré-compra feita por vários distribuidores independentes europeus. Esses distribuidores que acreditaram no filme antes dele existir estão lançando o "Linha" nos próximos meses em seus países. Para ajudar esses lançamentos, me comprometi a estar presente de setembro a janeiro em festivais e debates na Inglaterra, Bélgica, Grécia, Dinamarca, França, Itália, etc. Para se ter uma idéia, só nessa semana, temos debates no National Film Theater em Londres, apresentações na London University e em outras universidades, projeções para membros do Bafta e mais de cem entrevistas com a mídia inglesa.
Não há possibilidade de se fazer um trabalho de fundo em duas frentes ao mesmo tempo. Daniela Thomas e eu conversamos longamente sobre isso e, como ela deverá estar filmando um novo projeto em outubro e novembro, não teremos como dividir as atenções até o final do ano.
Para fazer algo pela metade, é melhor não fazer. Se tivéssemos inscrito "Linha de passe" e ganhado a indicação do Brasil, não teríamos como representar o país com a responsabilidade que se faz necessária. Agradecemos a todos que torcem pelo filme e desejamos o melhor ao longa brasileiro que for escolhido pela comissão".
Walter Salles
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2 comments:
precisava ne citar? aha, beijosss
Excelente! Esta decisao, que você chamou de pessoal, eu considero extremamente profissional, na verdade. Como o proprio Walter Salles disse em seu texto, é uma questao de comprometimento total com o projeto profissional que é a realizaçao E divulgaçao de um filme. Quanto à escolha em si, cada um com o seu gosto; eu, particularmente, aprovo integralmente a priorizaçao do mercado europeu e "independente". Que isso sirva para mostrar que nem todos consideram o Oscar como o Santo Graal da cinematografia.
Abraços,
Bruno
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