Monday, July 21, 2008

Cinema São Luiz (Recife): a Restauração



Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Num anúncio feito na última quarta-feira, durante o encerramento do I Festival de Cinema de Triunfo, o governador Eduardo Campos informou que o estado entrará para garantir a reabertura do Cine São Luiz, fechado há quase dois anos depois que o Grupo Severiano Ribeiro decidiu, depois de cinco décadas, não mais explorá-lo como cinema comercial. O anúncio trouxe o nome de um dos grandes cinéfilos do Brasil, Lula Cardoso Ayres Filho, como o responsável por um novo conceito para trazer o São Luiz de volta.

O São Luiz teve uma tentativa de resgate através da Aeso – Faculdades Integradas Barros Melo, ao longo de 2007, projeto que, infelizmente, não foi concluído. A instituição privada de ensino divulgou ter investido cerca de R$ 400 mil na recuperação da estrutura do prédio, inaugurado em 6 de setembro de 1952. A Aeso teria encontrado um cenário mais difícil de contornar financeiramente do que o originalmente previsto, o que levou à desistência.

Há também a informação, confirmada por Pedro Pinheiro, diretor regional do Grupo Severiano Ribeiro, de que uma outra instituição privada de ensino, a Faculdade Mauricio de Nassau, teria mostrado interesse no espaço depois da saída da Aeso. A sala é agora confirmada como espaço a ser administrado pela Fundarpe – Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco.

Para Pinheiro, que foi o programador do São Luiz desde a segunda metade dos anos 80, até o seu fechamento em 2006, a notícia do arrendamento via Fundarpe é das mais felizes. "Aponta para a criação de um corredor cultural na Rua da Aurora, unindo o Mispe – Museu da Imagem e do Som de Pernambuco, o cine Teatro Arraial e também o São Luiz". Pinheiro também chama a atenção para o fato de a Fundarpe ter agora a possibilidade real de dar ao Recife mais duas salas alternativas, o Arraial e o próprio São Luiz.

Integrado ao processo que está em andamento através do seu trabalho junto ao Grupo Ribeiro, Pinheiro revela que falta efetivamente assinar os contratos, "algo que poderá ocorrer já na próxima semana. Tudo dando certo, a Fundarpe poderá começar o seu projeto no São Luiz a partir de 1o de agosto". Ele informa ainda que o aluguel do espaço está fixado em $ 20 mil mensais, quantia que deverá ser reajustada anualmente pelo IGP – Índice Geral de Preços. Gastos com água, luz e condomínio também deverão ser arcados pelo governo. O contrato deverá cobrir sete anos, renováveis para mais sete.

RESTAURAÇÃO - A partir de um projeto escrito por Lula Cardoso Ayres à Fundarpe, ele acredita que com um investimento de aproximadamente R$ 600 mil o São Luiz possa estar em forma para reabrir as portas dentro de um conceito maior de fomento ao áudio-visual.

Curiosamente, a relação de Lula com o São Luiz é das mais íntimas. Ele não apenas começou a freqüentar o cinema ainda criança, em 1958, como a sala de espera da grande sala exibe um mural criado e executado pelo seu pai, o artista Lula Cardoso Ayres, falecido em 1987.

Do ponto de vista prático, seu nome é diretamente ligado à idéia de manutenção da memória cinematográfica, à frente não apenas do Instituto que leva o nome do pai, cuja obra ele guarda e divulga, mas também da sua Cinemateca pessoal, incorporada ao Instituto Cultural Lula Cardoso Ayres, criado em 1993, com mais de três mil títulos em super8, 16mm e 35mm, acervo que começou a ser formado em 1975.

Sua preocupação inicial confirma suas credenciais pessoais e profissionais: "restaurar o cinema São Luiz que eu conheci na minha infância. A sala voltará a ter 1190 lugares, platéia e balcão".

A recuperação do sistema de projeção reside especialmente na compra de novas lentes. Ele também deseja equipar o São Luiz com excelente projeção em 16mm. Defensor radical do filme película, admitiu que as projeções que tem visto em cinema digital têm lhe surpreendido, e conta também com esse tipo de equipamento no novo São Luiz, "idéia que já era defendida pela própria Fundarpe", diz.

Do projeto Estação Cinema São Luiz, Lula também destaca a criação da Cinemateca Pernambucana, passo importante para a manutenção da memória do audiovisual feito aqui, e cuja preservação (dos materiais que estão, de fato, guardados) reside, em grande parte, centralizada na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. "Isso segue uma tendência muito discutida atualmente o sentido de descentralizar as cinematecas".

O São Luiz também seria uma central de educação para o cinema, atraindo desde atividades escolares voltadas para o audiovisual, como espaço para integração com cursos de nível técnico ou superior.

Para Carla Francine, coordenadora de audiovisual da Fundarpe, um prazo realista seria o de seis meses para vermos o São Luiz de volta. Para Lula, já há até um palpite pessoal seu para o filme a ser exibido na noite de reinauguração: o clássico da chanchada brasileira de 1959, O Homem do Sputnik, de Carlos Manga, em cópia restaurada.

3 comments:

Anonymous said...

Excelente notícia e matéria! Obrigado, Kleber.

Victor Rodrigues said...

Muito boa notícia! Com o governo entrando pesado nos recursos, espero que a sala tenha menos filme do tipo Homem Aranha, acho que seria ideal mesmo que o espaço fosse uma vitrine pro cinema nacional em Recife (mas de preferência com uma curadoria non-CINEPE né ehehe). Comentaram alguma coisa sobre a estratégia de exibição da sala?

E você sabe algo do projeto lendário dos cinemas da fundação Unibanco no Recife Antigo? Vim morar aqui pelas bandas do centro já faz oito anos, e desde aquela época a obra do Chanteclair quase que não sai do canto. Saiu o Paço faz tempo, e a igreja ainda agorinha, e a miragem das oito salinhas de filmes "de arte", cadê que num chega nunca :P

[]s

CinemaScópio said...

parece que há sinais de fumaça positivos para as salas do Chanteclair, mas agora via parceria com a Prefeitura e não mais com o shopping Alf, que foi vendido para grupo carioca.

São Luiz teria prog alternativa.