Tuesday, July 22, 2008
A Tela Grande, o Foco, CinemaScope & Imax
Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com
Voltando agora de uma projeção problemática do novo Arquivo X (perdendo o foco teimosamente ao longo de praticamente toda a sessão de pré-estréia, sala 4 do UCI Boa Viagem), lembrei de uma conversa que tive umas duas semanas atrás com um profissional importante do setor de exibição no país, e cuja opinião sobre o formato de cinema eu não compartilho.
Na verdade, representa um pouco da morte da experiência cinematográfica que o próprio mercado vem promovendo, e que, já de um outro lado, ganha adesões nervosas no sentido de renová-la. De qualquer forma, se deixar, algumas dessas lógicas internas de comércio terminam machucando o cinema em si, num processo de autofagia.
Essa pessoa acredita que o formato ideal (inclusive já difundido pela rede Cinemark e também algumas salas da UCI - inclusive no Recife -, mas felizmente não dos Box aqui instalados) de que o que é realmente bom é ter uma tela plana "de parede a parede" onde filmes normalmente mais estreitos (1.85/1.66) ficam grandes, enquanto os filmes do formato CinemaScope, tradicionalmente os filmes GRANDES aparecem, na verdade, menores, um retângulo ocupando a parte de cima desse tipo de tela.
Ou seja, só nesse tipo de pensamento é possível ver instruções de incêndio ou uma publicidade de xampú GRANDE e, para dar exemplo atual, The Dark Knight, o filme em si (a atração principal!), menor, feito vemos em casa numa TV 16X9.
É uma lógica de home theater, onde a tela da TV widescreen 16X9, por questões atualmente incontornáveis de tecnologia, faz a mesma coisa - filmes 1.85 tomam todo o espaço, filmes grandes como, sei lá, Ben Hur ou La Dolce Vitta, mostram-se numa tira com espaços pretos em cima e embaixo. Ok para casa, inaceitável no cinema.
Bom, para os empresários da exibição que de fato espalham esse tipo de visão do cinema e da sua apresentação (por mais que a cultura multiplex tente destroçá-la, a apresentação de um filme é a coisa mais importante de uma sala de cinema), posto logo abaixo essa apaixonada defesa do cinema widescreen, comentada (em inglês sem legendas, infelizmente) por quem realmente entende da coisa: os diretores (lista rápida, para instigação: John Carpenter, Michael Mann, Paul Verhoeven, John Boorman...).
Vale acrescentar que outras facções desse mesmo mercado vão na direção oposta, à procura de novas maneiras de levar gente ao cinema nessa era onde muitos já têm em casa alta definição e telas grandes de LCD, plasma ou projetores DLP.
O maior exemplo atualmente é Christopher Nolan experimentando com Imax (seis cenas do The Dark Knight rodadas em formato 1.44 gigante, o resto do filme em 2.40:1), e esse investimento "naquele extra" tem sido bem recompensado com os números de bilheteria colhidos nas apresentações Imax do filme estourando o teto de todas as expectativas, nos EUA.
Na verdade, o sucesso do Imax via The Dark Knight (depois de uma sequência de filmes apresentados/adaptados para o formato grande ao longo dos últimos anos - de Matrix a Poseidon, 300 e Harry Potter) nada mais é do que uma remixagem do 70mm, que, entre os anos 50 e inicio dos 90 foi o formato de luxo nas grandes cidades do mundo para oferecer "aquele extra" à experiência cinematográfica (imagem cristalina, som magnético de seis canais).
É exatamente esse "aquele extra" que meu diálogo com esse estimado expert em exibição terminou revelando-se "aquele menos", e que mostra claramente que esse modelo de mercado é exatamente o que precisa ser abandonado. A experiência de exibição no Brasil deve ser uma das mais frustrantes do mundo.
A saber, Arquivo X hoje foi apresentado numa tela de formato mezzo-scope de aproximadamente 2.10:1, com alguns cortes nas laterais (o filme é scope 2.40:1), e para ser feliz. Pior ainda foi o problema de foco.
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6 comments:
Caro Kleber, esse "profissional importante" deveria saber que não há NADA mais frustrante do que pagar absurdos 16 reais por pessoa para ver esses blockbusters e, na hora do início do filme, ver aquele movimento do projetor jogando "para baixo" o filme, exibido em tamanho menor do que o total da tela. Você fica lá em cima, e ve um filmezinho lá embaixo, dá até dor no pescoço! Outra bobagem é imaginar que o público de DVDs seja tão exigente a ponto de PREFERIR ver filmes com as ridículas tarjas pretas. Que importa se bobagens à lá "Quarteto Fantástico" foi feito em "Anamorphic",
"Cinemascope" ou "Academy"? DOWN WITH THE DAMN BLACK STRIPES!!!
Eu nunca tive problema com as faixas pretas, nem quando a TV era 4.3. Acho uma adaptação mais interessante do que saber que há perda de imagem nas laterais. Não sei se viu uma cópia em VHS dos anos 80 de DERZU UZALA, onde dois homens conversavam ao redor de uma fogueira, e ouvíamos as vozes e só víamos a fogueira no meio. Os homens estavam fora da tela da TV.
Anonymous lê e não vê filmes. Porque só isso explica não ser importante o formato de um filme, não?
Bem, aqui em SP, gasta-se 16, mas tbém 18 reais pra mais nos cinemas.
Kleber, o fato é que temos de seguir com as nossas metralhas contra isso. A idéia de nivelar por baixo arruina o cinema e tbém o DVD. Vide Warner, Fox, majors etc empobrecendo as edições de homevideo, esquecendo-se que há uma parcela de colecionadores. Enfim
"psl" VÊ bons filmes, mas não LEU o que foi escrito por mim. Porque só isso explica tanta agressividade contra mim, não? Caros, leiam minhas declarações e entendam: não sou contra formatos, sou contra frescura demais quando o assunto é entretenimento barato (à lá, repito, Fantastic Four). Nada do que escrevi se aplica a Kurosawa, Kubrick, Truffaut e outros mestres, porque estes a gente NEM VÊ nos multiplexes. A pergunta (humilde) que faltou eu fazer no primeiro texto é: por que as televisões LCD comumente comercializadas por aí não seguem esses padrões que parecem ser tão melhores para visão de filmes, como atestam os diretores consultados no documentário? Seremos eternamente condenados às faixas pretas?
Caro anonymous:
os formatos largos (2.35, 2.55, 2.76) não são adaptáveis para TVs, onde o padrão moderno (já uma melhoria, pois antes era quadrada) é 1.77. Só no cinema é possível ver a tela larga. Na TV, tem que adaptar com as tarjas.
O que é ridículo, retomando o que já mencionei acima, é ir a um cinema que apresenta tela quase que 4:3 e assistir um filme exibido na parte inferior. São cada vez mais raras as oportunidades de ver um filme em tela realmente WIDE (capital "W"). Curiosamente, em Londrina, cidade de porte médio do Paraná, onde estive por uns tempos (sou de Sampa) eles têm duas salas com telas excelentes, longas e curvadas. Concordo com você, Kleber: a aposta do tal "profissional importante" ainda vai acabar matando a já combalida experiência de IR ao cinema. Curiosidade: você prefere ver filmes em sala stadium à lá, digamos, Cinemark (modelo moderno), ou em salas à moda antiga, como a do CineSesc de São Paulo, onde o público assiste "olhando para cima" a uma tela descomunal?
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