Sunday, February 15, 2009
Novo Costa Gavras
por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com
Eden a L'Ouest foi o filme de encerramento do Festival de Berlim 2009, exibido em sessão de gala na noite de sábado. É o mais novo filme do cineasta greco-francês Costa Gavras, ganhador da Palma de Ouro de Cannes em 1982 por Desaparecido – Um Grande Mistério (Missing). Na coletiva de imprensa, Gavras me confirmou que estará no Recife em abril, quando Eden L'Ouest (O Édem é o Oeste) irá abrir a próxima edição do Cine PE. O filme teve sua estréia internacional em Berlim.
Como todos os outros autores maduros cujos novos trabalhos tiveram estréias mundiais em Berlim ao longo das últimas duas semanas (o francês Claude Chabrol, o grego Theo Angelopoulos, o português Manoel de Oliveira), Gavras mostrou seu filme novo longe da competição, onde esteve pela última vez em 2002 com o fraco drama sobre o Holocausto e a Igreja Católica, Amém. Na noite de sábado, a Berlinale parabenizou Gavras pelos seus 76 anos, comemorados quinta-feira. Ele foi também presidente do júri ano passado, responsável pelo Urso de Ouro de Tropa de Elite.
Sobre os filmes de autores maduros exibidos em Berlim, Eden a L'Ouest tem um ritmo em alta rotação para narrar a história de Elias (o ator italiano Riccardo Scamarcio), um jovem imigrante que vai dar numa praia da costa européia depois de viagem difícil no porão de um navio cargueiro. Elias representa os milhares de imigrantes que chegam ao mundo rico sem uma identidade definida e de forma ilegal, à procura de uma vida melhor, um dos temas mais filmados do cinema europeu atualmente.
O material de imprensa do filme nos informa que há semelhanças com a Odisséia, de Homero, inclusive com o início da aventura no Mar Egeu. Elias, que pula do navio antes da abordagem da guarda costeira grega, vê-se preso num resort onde as classes mais ricas pagam por estadias higiênicas, distantes do mundo real, confirmando o tom de fábula do filme, repleto de simbolismos encaixados pelo roteiro de Gavras e Jean Claude Grumberg.
Inicialmente, a interpretação de Gavras sugere que esse clube (chamado Édem) seria um reflexo da própria Europa. Os ricos ali hospedados são egoístas e insensíveis, e querem explorar Elias em diversos níveis, inclusive sexualmente. Passada a primeira meia hora, o filme efetivamente toma as estradas do continente em direção a Paris, que Elias acredita ser a resposta para todos os seus problemas. Paris é também a promessa de um mágico, prova de que algumas metáforas escolhidas não têm tanta qualidade.
Gavras sempre foi bem sucedido ao longo da sua carreira com thrillers políticos ágeis, mas em Eden a L'Ouest ele parece bater alguns recordes de velocidade. Elias, composto como uma versão do bom selvagem, algo lamentável num filme sobre imigrantes, corre e se esconde durante a totalidade das duas horas de projeção, quando o espectador passa a ter a sensação de estar vendo uma bola batendo pra lá e para cá dentro de um fliperama.
Cada situação, algumas com não mais do que 30 segundos, também não parecem se sustentar bem. Lembranças de Depois de Horas, de Martin Scorsese (onde um personagem vê-se fugindo freneticamente da noite de Nova York) sublinha o quão menor esse filme de Gavras é.
Outra coisa que chama a atenção é o fato de Gavras sempre ter trabalhado personagens que agem contra alguma coisa. No caso de Elias, ele é apenas um boneco passivo, e outra vez esta não deve ser uma imagem a ser apreciada dos pobres imigrantes. Aos 76 anos, Gavras fez um filme de subversão zero.
COLETIVA – Exibido numa Berlinale já esvaziada, no sábado, Eden a L'Ouest foi, mesmo assim, relativamente bem recebido. Gavras, mesmo assim, sentiu críticas negativas no contato com os jornalistas, como uma colega francesa que perguntou com discreta irritação, "poquê seu personagem é tão ingênuo?" O diretor e co-roteirista não acredita que ele é ingênuo, mas que é um otimista, e citou Cândido, de Voltaire, como referência.
Perguntamos sobre a idéia do clube fechado como metáfora da Europa, e Gavras respondeu que, de fato, a idéia original seria ambientar o filme inteiro no "Édem", mas que logo perceberam que o resort nada mais é do que uma bolha onde as pessoas passam poucos dias".
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