Sunday, May 18, 2008

Indiana Jones - coletiva


Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com

Toda edição do Festival de Cannes tem alguma bomba atômica de mídia travestida de filme evento, capaz de gerar tumulto e deixar jornalistas rangendo dentes. Guerra Nas Estrelas e Matrix em anos anteriores, o filme 3D do U2, ano passado, esta foi a vez do filme mais esperado de 2008, e que terá lançamento mundial no final desta semana, Brasil incluído, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, EUA, 2008), nova produção de George Lucas com direção de Steven Spielberg. Eles escolheram Cannes como plataforma principal de lançamento do filme, pois o festival reúne a mídia global em todas as suas formas atuais, trampolim de divulgação fantástico que gera material como este publicado hoje no JC.

Com sessão marcada para as 13 horas de ontem no gigante auditório Lumiere, os precavidos começaram a fazer fila às 11h30, pois nem a hierarquia colorida de credenciamento garantiria lugar. Com uma sala de mais de dois mil lugares que encheu em menos de 20 minutos, muitos ficaram do lado de fora, algo que repetiu-se de maneira ainda mais dramática na coletiva de imprensa, restrita aos credenciados com crachás branco e rosa com bolinha amarela (esta última, o caso da reportagem do JC). Nas primeiras imagens do filme projetadas na tela gigante, aplausos de uma platéia claramente excitada, cantarolando aos berros ("Ta-tã-rã-tã... Ta-tã-rã..."), a conhecida marcha de Indiana Jones.

A última passagem de Spielberg em Cannes foi com E.T., filme que encerrou o festival de 1982 com uma ovação de mais de 20 minutos, exibido um mês antes do seu lançamento nos EUA. O cinema de entretenimento mudou muito desde aquela época, e foi em 1981 que surgiu um filme de aventura como nenhum outro antes chamado Os Caçadores da Arca Perdida, de Spielberg.

"Ao longo da minha carreira, os dois filmes que, não importa aonde eu esteja, sou cobrado para ter continuação, por crianças e adultos, são ET e Indiana Jones. 'Quando vai fazer outro ET? Outro Indiana Jones?', sempre ouço isso, e levou tanto tempo, nesse caso, porque, sei lá, entrei na minha fase séria, meus dramas históricos, e ia deixando de lado, George foi fazer os Guerras nas Estrelas dele, eu abri um novo estúdio, fiz uma série de outros filmes, e se passaram quase 20 anos do último episódio (1989). Engraçado que ninguém nunca me pergunta quando farei A.I. 2 ou 1941 2", explicou e ironizou o cineasta na coletiva, acompanhado de Lucas, Harrison Ford, Cate Blanchett, Shia Labeouf, Jim Broadbent e Ray Winstone.

Ford falou do filme como "uma grande celebração do que filmes eram para começar, e o vejo como uma maneira de refamiliarizar as pessoas com a alegria que existe na experiência de ver um filme numa sala escura. Depois desses 19 anos, existe toda uma nova geração que só conhece Indiana Jones através do vídeo, e creio que será maravilhoso oferecer esse novo filme numa sala de cinema".

Spielberg é um defensor ferrenho da "moda antiga", só filma em película 35mm e ainda faz a montagem em moviolas, sem auxílio de computadores. Lucas é o oposto, defensor da tecnologia digital em todas as etapas da realização. "O filme, ao contrario do que foi divulgado, terá um lançamento menor nos EUA em cerca de 300 salas digitais, mas é essencialmente um filme película 35mm. Acho que rodar em digital e também exibir nesse formato é algo muito interessante, é o futuro que está chegando. Mas não vejo muito sentido em exibir um filme filme em digital".

Ele lembrou também que não consegue sentir-se entusiasmado a colocar atores contra um fundo azul e fazer um filme. "Em grande parte, o filme foi feito à moda antiga, com cenários, dublês, gosto disso". Lucas ressaltou que "não estamos tentando ganhar das imitações, apenas fazer com que a aventura saia naturalmente dos personagens".

Spielberg falou do seu próximo projeto, adaptação do personagem dos quadrinhos Tintin, do belga Hergé, que será feita em parceria com Peter Jackson (de O Senhor dos Anéis). "Eu conheci o personagem na época do lançamento de Caçadores da Arca Perdida depois que eu li uma crítica que associava as aventuras de Indiana Jones às de Tintin, os dois têm muita coisa em comum".

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