Thursday, May 22, 2008

La Frontière de L'Aube


Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com

Não foi muito feliz a sessão da prata da casa La Frontiere de L'Aube (A Fronteira da Alvorada), filme francês em competição de Phillippe Garrel (de Os Amantes Constantes) que passou para uma imprensa talvez já cansada do festival, e com o cinismo ligado em alta. Um dos três franco-filmes na competição (Un Conte de Noel, de Arnaud Desplechin, exibido semana passada, e Entre Les Murs, de Laurent Cantet, que passa amanhã -, essa obra rodada em preto e branco e podre de romântico de uma maneira literária, encontra semelhanças temáticas com um outro título na competição, o americano Two Lovers, de James Gray.

Em ambos, um homem vê-se dividido entre os dois arquétipos femininos que geram ansiedade masculina: a bela instável que enlouquece o homem como uma amante em relação fugaz e a bela equilibrada que será uma grande companheira.

As palmas pedindo para que a trama fosse concluída logo, gargalhadas em desdobramentos místicos e, finalmente, uma vaia digna de nota (com os aplausos de apoio indo contra) assinala o filme como sendo talvez o protótipo de um cinema largamente rejeitado por espectadores pragmáticos. La Frontiere de L'Aube seria, aliás, o "filme francês" por excelência, uma mística que marca um preconceito muito típico do espectador médio.

Louis Garrel (filho do diretor) é François, um fotógrafo que apaixona-se por Carole (Laura Smet), estrela de cinema que ele fotografa para um ensaio. Carole é o tipo de garota que tem na testa a palavra "problema" escrita em letras garrafais. Casada, ela funciona, como bem sugere um amigo, na dinâmica de um limpador de pára-brisa – "quando ele se aproxima, ela se afasta, quando ela se aproxima, ele se afasta" -. Carole enlouquece de amor.

Ele conhece Eve (Clementine Poidatz), e decide casar, embora a perspectiva de abraçar uma vida burguesa talvez seja demais para esse espírito livre, nos levando a um final que, por um lado, chama apaixonadamente o tipo de reação desmoralizante (para filme e autor) que teve, por outro marca um gol de idéias: SPOILER:::::::::::::::::::: Melhor seria se matar do que obedecer às normas de um destino burguês. Oh, mas que coisa mais maio de 68...

Será interessante dar uma segunda chance ao filme no seu lançamento brasileiro (distribuição já garantida), sem as gargalhadas que, em muitas cenas, alegravam bastante os desdobramentos trágicos.

PS: O filme todo tem um 'feel' de ter sido encaixotado em 1964 e a cópia descoberta há três meses num baú de Paris. A notícia secreta chegou à organização de Cannes e prontamente programado no festival 2008.

PS 2: as duas francesas estão lindas via foto de William Lubtchansky.

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