Friday, January 23, 2009

A Duquesa



Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Uma semana antes da estréia do pernambucano Deserto Feliz, de Paulo Caldas, entra em cartaz um outro relato sobre as agruras vividas por uma mulher, em conflitos que revelam algumas coisas sobre a condição feminina na sociedade. Em A Duquesa (The Duchess, Inglaterra, 2008), que se passa na Inglaterra, na época da Revolução Francesa, uma adolescente – a duquesa de Spencer – casa-se com um outro aristocrata que vê nela única e exclusivamente um útero capaz de gerar um herdeiro. Se o filme é de uma mediocridade paralisante, espectadores poderão ver sua atenção mantida com os desdobramentos de uma vida amorosa animada, adaptada de personagem real, cheia de frustração, dor de cotovelo, paixão e chifre.

Essa estrela de proveta, Keira Knightley (Piratas do Caribe), interpreta a ancestral de Lady Di (que também era Spencer), o nobre útero já citado. O Duque de Devonshire (Ralph Fiennes) é um aristocrata de olhar vago, sempre frio, o marido dela. Sem muita conversa para a coisinha feminina que é a sua esposa, e sempre cobrando um menino (inicialmente, ela lhe dá duas meninas), a duquesa tenta equilibrar o ar de cafetina da mãe (Charlotte Rampling) com a sua solidão palacial frente ao abandono proposto pelo marido, algo que lembra a biografia conhecida da moderna Lady Di.

Seu espírito livre e língua afiada transformam-na numa das mulheres mais populares do Reino Unido, sua solidão aos poucos aplacada pela amizade de uma outra nobre solitária, Bess (Hayley Atwell), foragida do próprio casamento e que irá ensinar a Spencer que o sexo não existe apenas para gerar rebentos, mas também como fonte de prazer, conceito que nossa heroína apenas desconfiava existir. Earl Charles Grey (que tornou-se primeiro ministro britânico), sua paquera dos tempos da adolescência, seu envolvimento extra-conjugal.

Os envolvimentos passionais e sexuais são pratos cheios para um filme interessante, mas o tratamento aqui aplicado é de uma anemia profunda, especialmente para os espectadores que tiverem a péssima idéia de ficar lembrando saudosos de Barry Lyndon (1975), de Stanley Kubrick. Aquele filme, claro, parece ter sido filmado no século 18 não apenas visualmente, mas também nas observações cristalinas e reveladoras da vida naquele tempo.

Em A Duquesa, que, de qualquer forma, é melhor do que A Outra (The Other Boleyn Girl), exibido há alguns meses, temos esse tratamento diluído para adolescentes que numa história tão passional nos concede apenas um rápido bumbum anônimo passando ali, e onde a sexualidade ganha não mais do que 60 segundos de sugestão apavorada, para ninguém na platéia correr o perigo de se enojar com algumas verdades sobre a natureza humana.

Knightley parece esticada até quebrar, enquanto Fiennes mostra-se sempre interessante como o totalmente desinteressante duque, o roteiro garantindo que até os créditos finais ele irá se transformar num homem melhor. Drama de época comercial sem grandes conquistas.

Filme visto no Multiplex UCI Recife, Outubro 2008

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