Friday, January 23, 2009
REC
"It's a Sony!"
Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com
Sabendo do ouro que tinham em mãos, os produtores do divertido trem fantasma espanhol REC (2007) soltaram uma publicidade no YouTube, onde uma câmera registrava as reações físicas de uma platéia durante sessão do filme. Muito engraçado ver um grupo de pessoas tranqüilas e, em um segundo, dando pulos histéricos, mãos instintivamente usadas como plano de defesa, entes queridos se agarrando em posição de socorro. O filme é bem bacana, as imagens publicitárias devem ser reais, como um curto documentário de observação.
Curiosamente, a linguagem aqui é, mais uma vez, "documental", câmera ofegante, sempre ligada. Grande sucesso na Espanha e na comunidade de cinema do gênero 'fantastique', REC chega um mês antes da sua refilmagem americana, Quarentena, que já está pronta e lançada nos EUA. Vai ser curioso ver a reação do público pagante desavisado que for desembolsar R$16 para ver a refilmagem de uma obra que talvez ainda esteja em cartaz. Mostra a voracidade da indústria e como em mercados periféricos como o brasileiro, produtos europeus podem (raramente) concorrer com a máquina hollywoodiana nos multiplex, algo que não ocorre nos EUA.
O REC espanhol, feito em vídeo pelo que parece ter custado dois mil reais (perfeitamente empregados, aliás) é um primor de simplicidade eficaz, algo que os americanos imediatamente pagaram para refilmar. Vale ponderar que REC (ou Quarentena, seu remake) são crias de toda uma leva recente de vídeo-terror (Bruxa de Blair, Cloverfield, Diário dos Mortos), e que talvez tenham como raiz o clássico Canibal Holocausto (1980), feito 20 anos antes da explosão de imagens digitais.
A repetição do conceito apenas prova que não importa quantas vezes você ouve a mesma piada, o que vale talvez seja o movimento e o medo do escuro (pelo menos para este observador...). Esse conceito, de fato, parece pedir um pouco de generosidade do espectador. O filme utiliza uma câmera como dispositivo do próprio filme, e exige que um dos personagens não largue a mesma nunca, não importa o quão grotescas as coisas fiquem. Se é para correr da morte certa, corra dando um .REC.
A situação aqui é a seguinte: uma simpática repórter de programa de final de noite ("Enquanto Você Dorme" é o nome do programa, piscadela de olho em direção aos nossos adorados pesadelos filmados) irá acompanhar a madrugada no corpo de bombeiros, em Barcelona, mostrando o que fazem e como dormem. Felizmente, chega uma chamada e lá vai ela com o seu câmera ver o que se passa num edifício residencial. Ali, uma senhora idosa parece ter enlouquecido.
O filme apresenta tudo isso com muita clareza, e logo o espectador estará no prédio, tão atônito quanto os policiais, bombeiros e vizinhos, pois entendemos que a velha virou zumbi.
Curiosamente, o fato de nossa repórter estar acompanhando bombeiros nos lembrou a participação dos documentaristas franceses Gédéon e Jules Naudet, que também acompanhavam bombeiros no 11 de setembro de 2001, quando registraram o primeiro avião entrar na primeira torre. Os diretores Jaume Balagueró
Paco Plaza também parecem fazer menção especial a um outro filme espanhol de anos recentes, A Comunidade, de Alex de la Iglesias.
Começa, portanto, mais um filme de zumbi, e por mais que já tenhamos visto essas criaturas que babam, grunhem e mordem, não há como negar o apelo das mesmas. As regras são simples, fique longe deles e, se for mordido, vai virar zumbi, uma morte sebosa de sangue e insanidade. E, claro, o filme contém pelo menos dois pulos de cadeira que merecem a gritaria vista na publicidade viral divulgada e medalha de honra ao mérito. Lembram que o bom cinema é feito de ponto de vista, luz e sombras bem orquestrados.
Filme visto no Espaço Unibanco 2, Festival do Rio, setembro 2008.
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