Sunday, February 8, 2009

Berlim Domingo


por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Desculpem a lerdeza do blog nesses primeiros dias, a tendência é melhorar a partir de hoje. Por ter visto 6 filmes ontem e dois hoje, estou mais à vontade para escrever. Na verdade, bom lembrar que eu adoro essas coberturas de festival, especialmente Cannes e Berlim, acho que é quando eu mais tenho o prazer de escrever, e que bom que os resultados normalmente funcionam tão bem, e a resposta é sempre bem grande.

Berlim está fria hoje, 0 grau, deve nevar nos próximos dias. Eu adoro essa cidade, uma das minhas preferidas no mundo, não tem nada igual a Berlim, talvez a melhor coisa que pode-se dizer sobre cada cidade que adoramos. Ontem vi um maluco com porta-cartaz afirmando que os nazistas estão na lua. É uma coisa meio Berlim, mas bem mais festival de cinema como esse ou Cannes, vai aí postada a foto da criatura.

Quero escrever sobre a Retrospektive 70mm – Bigger Than Life, mas ainda não, depois posto, claramente uma das coisas mais bacanas que já vi num festival de cinema. Rever esses filmes nessas condições traz à tona uma série de questões essenciais para a forma como vejo o cinema, e como se vê o cinema, e que permanecem importantes sempre.

Por ser a 3a. Berlinale, estou achando o nível geral melhor do que nos dois últimos anos, quando os primeiros finais de semana me assustaram um pouco, especialmente se rola comparação obrigatória com Cannes. Ao mesmo tempo, nada de incrível, mas alguns filmes que eu gostei e outros que respeito, com dois que ... er... eu NÃO gostei.

Findo esse primeiro final de semana, é possível enxergar conexões claras entre os filmes da competição, sendo a principal delas o mundo como uma rede interligada de finanças, políticas e pessoas. Predominam narrativas poliglotas filmadas em múltiplos países. Além do thriller que abriu a Berlinale quinta-feira, o bizarramente sério (ou melhor, que leva-se a sério) The International (fora de competição), de Tom Tykwer, os destaques nesse sentido foram duas euro-produções, Storm (Tempestade), do alemão Hans Christian Schmidt, e Mammoth, do sueco Lukas Moodysson, ambas em competição.

Tem saído nas revistas de mercado como Screen International que a melhor maneira de burlar a atual crise mundial de crédito é armar um filme com múltiplas fontes de dinheiro, aspecto já disseminado no cinema internacional, e que tem atraído Hollywood.

No sábado, por exemplo, deu na Variety que o fundo regional de apoio ao cinema da cidade de Berlin, Berlin-Brandenburg, está dando 8 milhões de euros para o novo filme de Quentin Tarantino, Inglorious Basterds, um filme de guerra onde supostamente, dizem os críticos, a imagem dos alemães não será das melhores (e que deve estrear em Cannes!).

Ei, adoro Tarantino, mas estou apenas reproduzindo o que ouvi, pois seria o mesmo que o edital da Fundarpe (Pernambuco) dar sua maior fatia do orçamento a uma produção estrangeira já rica, e que provavelmente não morreria de fome. De qualquer forma, um dos ouros do cinema é exatamente esse, o crédito (seja ele na tela ou no banco), e Tarantino tem os dois créditos. O filme dele novo, aliás, foi filmado em Berlim, no Studio Babelsberg, o que faz a coisa mais interessante no sentido de co-produção.

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