Sunday, February 8, 2009

Mammoth



por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Bem menos calorosa foi a recepção de Mammoth, de Lukas Moodysson, o cineasta que atraiu admiradores com os pequenos e muito interessantes Amigas de Colégio (Fucking Amal!), Benvindos (Together) e Para Sempre Lylia (Lylia 4Ever). Ele foi para o lado negro da força com duas obras “experimentais” (na falta de palavra mais educada), A Hole in the Heart e Container, e volta agora com esse paquiderme de tamanho médio, fazendo o titulo Mammoth soar algo de pretensioso.

Gael Garcia Bernal não é o único motivo que fez a palavra “Babel!” ecoar pela multidão de críticos que deixava a sessão no final, uma vez que a comparação é bem óbvia. Como o filme do mexicano Alejandro EuMeIrrito-Iñarritu, esse também tem Bernal, e entrecorta cenas em múltiplos países. Algo de Lost in Translation também é sentido, e durante a primeira metade o espectador assiste com algum interesse.

Há um bom coração de Moodysson para com seus personagens. A personagem médica de Michelle Williams é casada com o empresário de games de Bernal no filme, que viaja para Bangkok a serviço. Eles têm uma filha que desenvolve grande afeição pela empregada filipina da família, que deixou os dois filhos com a avó do outro lado do mundo. Todos são minimamente interessantes, e, pelo menos para mim, isso não deve ser ignorado.

Com nossa dieta diária/semanal de filmes americanos com visão restritíssima de mundo externo (extra-EUA), onde o estrangeiro é sempre visto de cima para baixo, ou sinônimo de vilão fumante, gente estranha ou feia, um panorama humano como o de Moodysson tem o seu valor.

A filha do casal se apega à empregada, e não apenas isso, ela se interessa pela cultura da mulher, inclusive pela língua. A mãe relaciona-se bem com isso, e quando acha problemático, não é uma questão de rejeição ao estrangeiro, mas pelo ciúme natural materno associado à sua vida profissional que lhe deixa pouco tempo para fazer as coisas que deveria fazer com a filha. O personagem de Bernal, diferente do seu parceiro de business, parece realmente interessado pela viagem que está fazendo (o aspecto Lost in Translation do filme), tendo que lidar com questões éticas pessoais ao longo dessa viagem, todas elas do bem.

É claro que ao final o filme desmorona, especialmente (e ironicamente) do ponto de vista emotivo. Afunda num poço de sentimentalismo, o uso de música (Moodysson repete de maneira infeliz no contexto do festival Cat Power e sua canção The Greatest, também usada como tema em Ricky, de Ozon) resvala para o solene no último rolo, piorando tudo. Juntando o tal bom coração, efeito déja vu paralisante e sensação de tempo não muito saudável, logo temos a sensação de estarmos vendo o lento enterro de um simpático elefante. Uma pena.

Filme visto no Berlinale Palast, Berlim, fevereiro 2009

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