Tuesday, February 10, 2009

The Messenger


por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Passou na competição ontem no Festival de Berlim o razoável The Messenger (O Mensageiro), um amerindie (filme americano com toque 'independente') que chega à Alemanha da safra mostrada no último Festival de Sundance. O filme do diretor estreante Oren Moverman (roteirista de Não Estou Lá, de Todd Haynes) enfoca um soldado americano que volta ferido do Iraque, e assume a função de notificar fria e objetivamente pais, maridos e esposas que seus entes queridos morreram. Possibilidades de prêmio não são remotas, especialmente para Woody Harrelson, que reprocessa muito bem décadas de clichês do militar duro americano.

O personagem principal é Will (Ben Foster), que volta do Iraque para a namorada que já não mais o quer, início do conceito de más notícias que o filme trabalha. Já triste, recebe a missão de, antes de dar baixa do exército, trabalhar com o oficial Tony Stone (Harrelson), um tipo hedonista que tenta administrar o alcoolismo enquanto segue rígidas regras de conduta nas notificações pessoais feitas às famílias dos soldados mortos. Eles vão de casa em casa anunciar verbalmente a morte de um parente, informação que soa como um telegrama falado, a humanidade por baixo das regras militares de conduta. Um tanto obviamente, Moverman põe a câmera tropegamente na mão em cada cena de notificação, me pergunto se para seguir regras esquemáticas de dramaticidade estudada ou se foi para deixar atores livres para pirar.

O filme parece claramente bem pesquisado. "Nunca toque na pessoa, por mais que ela desmorone emocionalmente, não faz parte da nossa função. A exceção é, claro, se a pessoa tiver um ataque cardíaco. Homens são mais difíceis de lidar, pois eles podem tentar bater em você", diz Stone para o mais jovem. Seguindo as ordens, os dois soam como droids de recado, mensageiros da morte.

Inicialmente, The Messenger vai muito bem, com um tom que soa anormalmente adulto para uma produção tipicamente amerindie. Não há música, sexo é tratado com franqueza, e cenas longas parecem mais preocupadas em respeitar os atores/personagens do que apressar tudo para manter uma idéia de ritmo.

Mesmo assim, já no final, percebemos que The Messenger tira a máscara (ou perde a vergonha de escondê-la) e mostra a estrutura pré-moldada de "buddy-movie", sub-gênero bem hollywoodiano onde dois homens se tornam os melhores amigos do mundo, e seguimos suas aventuras. A aparição repentina de Steve Buscemi como um pai que recebe más notícias reforça aspecto amerindie e tira o espectador totalmente da cena ("olha lá! Steve Buscemi!"), com a entrada de figura tão típica. A participação de Samantha Morton como uma viúva que envolve-se com o jovem militar desenvolve-se como alívio dramático, e ela é sempre um prazer de olhar.

Na coletiva de imprensa, foi o diretor Moverman que começou perguntando o que a critica tinha achado do filme, com respostas geralmente muito positivas. Ele refletiu que The Messenger talvez reflita um momento de transição política nos EUA que marca precisamente as eras Bush/Obama. "Creio que estamos mudando de uma cultura 'reativa' para uma cultura 'reflexiva'.

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