Wednesday, May 21, 2008

A Festa da Menina Morta


Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com

Passou hoje como parte da seleção Un Certain Regard o filme brasileiro A Festa da Menina Morta, primeiro trabalho como realizador do ator Matheus Nachtergaele. O filme teve uma boa recepção para seu painel humano, político, religioso e racial ambientado numa pequena localidade distante da Amazônia. Primeira impressão que fica é a de uma obra pessoal, que parece condensar aspectos essenciais da cultura brasileira numa narrativa marcada por um olhar investigativo não apenas em direção ao Brasil como fonte de multiculturalismo, mas também para dentro de si próprio. Parece dar continuidade a uma escola de cinema feito no Brasil, e que muito chama a atenção no exterior, que explora o sincretismo e uma idéia enraizada de identidade cultural brasileira.

Logo após a projeção, a equipe, composta pelo diretor Nachtergaele (também roteirista), o co-roteirista Hilton Lacerda, o fotógrafo Lula Carvalho, a produtora Vânia Catani, a co-montadora Karen Harley, a diretora de arte Renata Pinheiro e os atores Daniel Oliveira e Conceição Camarotti receberam alguns jornalistas brasileiros para uma primeira conversa sobre o filme.

Nachtergaele nos falou que a idéia para o seu roteiro, incentivado por fundos estrangeiros como Hubert Bals do Festival de Roterdã, e Ibermedia, veio de uma observação sua de uma festa religiosa não muito diferente da explorada pelo filme e seu título. No filme, um "santinho" (Oliveira) ocupa posição de poder místico-religioso na localidade distante e cercada de selva. É amante do seu pai (Jackson Antunes) e o portador de mensagens da menina morta, que morrera 20 anos antes e que existe como uma entidade religiosa para a população local.

"Essencialmente é um filme sobre o luto. Inicialmente, a idéia era fazer o filme no nordeste, mas acho que a Amazônia permanece um grande mistério para o brasileiro, assim como o fator isolamento me pareceu muito importante. Tive a sorte de ter tido uma produtora que bancou (Catani) a idéia de filmar a 400 kms de Manaus, em locação tão distante de tudo".

Matheus, veterano de dois longas de Cláudio Assis (Amarelo Manga e Baixio das Bestas), rodados em Pernambuco, trouxe para sua primeira experiência colaboradores desses dois trabalhos, como Lacerda, Pinheiro, Camarotti e Dira Paes, mantendo uma aura de influência saudável. "O cinema de Cláudio é essencial para mim", disse Nachtergaele, que, de qualquer forma, fez um filme de voz própria. Também no elenco estão Paulo José, num momento notável onde contracena com o vento, e Cássia Kiss, como a presença forte e ausente da mãe.

1 comment:

Rafael Carvalho said...

Se esse filme tiver a cara dos filmes do Cláudio Assis, não me parece coisa boa. Não me agrada muito os filmes que parecem querer provocar um impacto muito grande no espectador mas não tem muito a dizer. Sei que você adora Baixio das Bestas, mas espero que o Hilton Lacerda tenha tido mais inspiração nesse novo trabalho.

Mesmo assim, quero acreditar que o Nachtergaele fez um ótimo filme, sem afetções. Mais um brasileiro aguardadíssimo. Será que já tem previsão de estréria por aqui?