Walter Salles numa visão extremamente lúcida sobre o nosso cinema e o dos nossos vizinhos argentinos. Mas é uma pena constatar os rumos que o cinema brasileiro vem tomando com a grande quantidade de produções comerciais e chinfrins que chegam às salas de exibição. Quase impossível não citar a Globo Filmes como o bad guy da história.
Temos que acabar de uma vez por todas com esse "complexo de vira-latas" e "coitadinhismo" da cultura brasileira em geral e do cinema brasileiro em particular. Cieneasta brasileiro não tem que se preocupar em fazer cinema "brasileiro", mas em fazer CINEMA. Esse conceito de "cinema comercial" e "cinema cabeça" também tem que ser banido do nosso vocabulário. Existe filme ruim e filme bom, cinema mal-feito e cinema bem-feito. "Psicose" de Alfred Hitchcock é um filme que foi feito pra ganhar dinheiro, e ganhou muito, e nunca se preocupou em achar o "foco" do cinema inglês nem do hollywoodiano. Mas fez história no Cinema e até hoje todo mundo bebe dessa fonte, tanto os cineastas "comerciais" quanto os "cabeças". Já chega de procurar a identidade, nós brasileiros já estamos carecas de saber quem somos. Temos é que criar vergonha na cara, parar de botar a culpa no darwinismo predatório dos americanos, pra ter a desculpa de fingir uma cultura nacional pra inglês ver e mamar nas tetas do governo. Grande parte dos países europeus também cedem a essa tentação, diga-se de passagem. Temos é que fazer cinema de boa qualidade pra ganhar dinheiro e se pagar. Sobre qualquer assunto, inclusive sobre temas ditos brasileiros.
(Miguel Falcão, chargista e ilustrador do Jornal do Commercio)
acho uma tristeza essa cobrança de um movimento, uma unidade, um cinema brasileiro deve se pensar em fazer cinema, puro e simples, produzir o melhor filme que puder e nada mais não existe necessidade de um cinema pra gringo ver, com padrões regionais e essas coisas (epitafios, um seriado argentino, é uma obra brilhante, que apesar de argentina na equipe pode se passar em qualuqer lugar, e continua uma obra excelente) obviamente não sou contra a presença desses aspectos proprios no cinema ou em qualquer outra arte, só não acho que tenhamos que coloca-los obrigatoriamente nem que devemos fazer nada só em função deles, fica ridiculo (a serie filhos do carnaval é um otimo exemplo disso, pois é genial ao implementar o carnavl e o samba na narrativa sem tornar isso o foco da serie, é só mais um elemento)
não sei se concordo, kléber, com essa idéia de um cincema para buscar nossa identidade. não acredito muito num compromisso desse nível para pautar uma produção cinematográfica, embora entenda as razões da fala do walter salles, ele falando como alguém de uma geração de realizadores e que tem, ele próprio, sua busca e sua necessidade como cineasta.
acho que certos "nortes" ajudam a consolidação de uma produção, mas também estreitam essa mesma produção na base conceitual de um grupo que pensam ou detem esse conceito. entende?
dificulta o surgimento de uma obra diversa, tanto do ponto de vista artístico como comercial. parece cinema de amigos, de um grupo de pessoas que resolveu pensar o brasil a partir de uma perspectiva comum, razoável, mas no fundo referente à realidade desse grupo...
é uma boa discussão, na verdade. sem uma resposta definitiva. ainda,
você mesmo é dono de um cinema muito peculiar, pouco afeito à essa idéia de um conceito geral, um norte comum. muito menos de pensar a identidade brasileira. não nesse sentido tão direto, de plano de produção, de quase movimento.
meus filmes são extremamente pessoais, identidade brasileira (que eles têm, por reflexo) vem em segundo lugar. Identidade nacional n deve ser confundida com identidade ponto. Em termos gerais, falta verdade, e sem verdade, a arte é morta, composta apenas por enquadramento e luz. Isso é pouco para cinema.
ah, sim. nesse aspecto, certamente. falta arte mesmo. mas não como contraposição a um cinema comercial.
acho mesmo isso que você falou, de seu cinema, por exemplo, muito pessoal, diria íntimo, e que consagra uma visão de ser, de pertencimento a certas realidades... como recife e sua vida minunciosa está presente em cada ato de ""eletrodoméstica".
Concordo em parte com alguns depoimentos acima, porque não acho que o cinema deva dar conta da sociedade o tempo todo, e porque deve, sim, haver espaço para abordagens menos realistas, mais abertas à imaginação. Mas também concordo com Salles quando ele aponta para essa “perda de foco” do cinema brasileiro em relação ao argentino. O cinema (como objeto artístico, não apenas indústria de entretenimento) tem a obrigação de formular questões pertinentes à sua contemporaneidade, coisa que os argentinos voltaram a fazer em 1992 com “Rapado”, de Martin Rejtman, e continuam fazendo muito bem. Cineastas brasileiros também já contribuíram com essa discussão identitária, é só lembrar de “Um céu de estrelas”, de Tata Amaral, pra citar um bom exemplo do início da retomada. Acho que, para recuperar o “foco perdido”, talvez o cinema brasileiro deva relembrar a velha máxima tolstoiana de cantar a sua aldeia para ser universal. Acreditem, isso costuma dar bastante certo.
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Walter Salles numa visão extremamente lúcida sobre o nosso cinema e o dos nossos vizinhos argentinos. Mas é uma pena constatar os rumos que o cinema brasileiro vem tomando com a grande quantidade de produções comerciais e chinfrins que chegam às salas de exibição. Quase impossível não citar a Globo Filmes como o bad guy da história.
Temos que acabar de uma vez por todas com esse "complexo de vira-latas" e "coitadinhismo" da cultura brasileira em geral e do cinema brasileiro em particular. Cieneasta brasileiro não tem que se preocupar em fazer cinema "brasileiro", mas em fazer CINEMA. Esse conceito de "cinema comercial" e "cinema cabeça" também tem que ser banido do nosso vocabulário. Existe filme ruim e filme bom, cinema mal-feito e cinema bem-feito. "Psicose" de Alfred Hitchcock é um filme que foi feito pra ganhar dinheiro, e ganhou muito, e nunca se preocupou em achar o "foco" do cinema inglês nem do hollywoodiano. Mas fez história no Cinema e até hoje todo mundo bebe dessa fonte, tanto os cineastas "comerciais" quanto os "cabeças". Já chega de procurar a identidade, nós brasileiros já estamos carecas de saber quem somos. Temos é que criar vergonha na cara, parar de botar a culpa no darwinismo predatório dos americanos, pra ter a desculpa de fingir uma cultura nacional pra inglês ver e mamar nas tetas do governo. Grande parte dos países europeus também cedem a essa tentação, diga-se de passagem. Temos é que fazer cinema de boa qualidade pra ganhar dinheiro e se pagar. Sobre qualquer assunto, inclusive sobre temas ditos brasileiros.
(Miguel Falcão, chargista e ilustrador do Jornal do Commercio)
acho uma tristeza essa cobrança de um movimento, uma unidade, um cinema brasileiro
deve se pensar em fazer cinema, puro e simples, produzir o melhor filme que puder e nada mais
não existe necessidade de um cinema pra gringo ver, com padrões regionais e essas coisas (epitafios, um seriado argentino, é uma obra brilhante, que apesar de argentina na equipe pode se passar em qualuqer lugar, e continua uma obra excelente)
obviamente não sou contra a presença desses aspectos proprios no cinema ou em qualquer outra arte, só não acho que tenhamos que coloca-los obrigatoriamente nem que devemos fazer nada só em função deles, fica ridiculo (a serie filhos do carnaval é um otimo exemplo disso, pois é genial ao implementar o carnavl e o samba na narrativa sem tornar isso o foco da serie, é só mais um elemento)
não sei se concordo, kléber, com essa idéia de um cincema para buscar nossa identidade. não acredito muito num compromisso desse nível para pautar uma produção cinematográfica, embora entenda as razões da fala do walter salles, ele falando como alguém de uma geração de realizadores e que tem, ele próprio, sua busca e sua necessidade como cineasta.
acho que certos "nortes" ajudam a consolidação de uma produção, mas também estreitam essa mesma produção na base conceitual de um grupo que pensam ou detem esse conceito. entende?
dificulta o surgimento de uma obra diversa, tanto do ponto de vista artístico como comercial. parece cinema de amigos, de um grupo de pessoas que resolveu pensar o brasil a partir de uma perspectiva comum, razoável, mas no fundo referente à realidade desse grupo...
é uma boa discussão, na verdade. sem uma resposta definitiva. ainda,
você mesmo é dono de um cinema muito peculiar, pouco afeito à essa idéia de um conceito geral, um norte comum. muito menos de pensar a identidade brasileira. não nesse sentido tão direto, de plano de produção, de quase movimento.
meus filmes são extremamente pessoais, identidade brasileira (que eles têm, por reflexo) vem em segundo lugar. Identidade nacional n deve ser confundida com identidade ponto. Em termos gerais, falta verdade, e sem verdade, a arte é morta, composta apenas por enquadramento e luz. Isso é pouco para cinema.
ah, sim. nesse aspecto, certamente.
falta arte mesmo. mas não como contraposição a um cinema comercial.
acho mesmo isso que você falou, de seu cinema, por exemplo, muito pessoal, diria íntimo, e que consagra uma visão de ser, de pertencimento a certas realidades... como recife e sua vida minunciosa está presente em cada ato de ""eletrodoméstica".
não como projeto, perspectiva de discurso.
idéia é essa. Coirendo pra ver exatamente esse tipo de filme, LA MUJER SIN CABEZA, de Lucrecia Martel. Espero gostar muito.
Concordo em parte com alguns depoimentos acima, porque não acho que o cinema deva dar conta da sociedade o tempo todo, e porque deve, sim, haver espaço para abordagens menos realistas, mais abertas à imaginação. Mas também concordo com Salles quando ele aponta para essa “perda de foco” do cinema brasileiro em relação ao argentino. O cinema (como objeto artístico, não apenas indústria de entretenimento) tem a obrigação de formular questões pertinentes à sua contemporaneidade, coisa que os argentinos voltaram a fazer em 1992 com “Rapado”, de Martin Rejtman, e continuam fazendo muito bem. Cineastas brasileiros também já contribuíram com essa discussão identitária, é só lembrar de “Um céu de estrelas”, de Tata Amaral, pra citar um bom exemplo do início da retomada. Acho que, para recuperar o “foco perdido”, talvez o cinema brasileiro deva relembrar a velha máxima tolstoiana de cantar a sua aldeia para ser universal. Acreditem, isso costuma dar bastante certo.
o vídeo não tá aparecendo aqui, agora. que raiva! queria comentar! haha... quando conseguir ver, contribuo aqui na discussão!
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