Friday, February 13, 2009

Michelle Pfeiffer


por KLEBER MENDONÇA FILHO
cinemascopio@gmail.com


Michelle Pfeiffer entra na sala para a entrevista do Regent Hotel, em Berlim. A entrevista, com um grupo de quatro jornalistas, eu incluído, faz parte da divulgação de Cheri, de Stephen Frears, que teve sua première mundial no Festival de Berlim, dentro da competição. Nesse divertimento sofisticado, marcado por diálogos afiados que lembram, em alma, Oscar Wilde (contemporâneo da trama ambientada em Paris no final da Belle Époque), Pfeiffer interpreta a cortesã Lea de Lonval, já pensando em aposentar-se, mas que comete o grande erro de se apaixonar.

Pfeiffer é uma mulher maior do que sua imagem no cinema talvez sugira, e afirmar que sua imagem de perto continua bela aos 50 anos de idade pode soar como grosseria típica de jornalista cultural. De qualquer forma, a menção à sua idade vai como um registro de uma estrela hollywoodiana marcante, com um legado de filmes memoráveis como Scarface (1983), de Brian de Palma, As Bruxas de Eastwick (1987), de George Miller, ou A Época da Inocência (1993), de Martin Scorsese. Fez, claro, Ligações Perigosas, também com Frears e com o roteirista Christopher Hampton, filme que guarda semelhanças com Chéri, do cenário francês à adaptação de um texto originalmente francófono (Chéri foi escrito por Colette).

Nessa entrevista, que trafegou um tanto desconfortavelmente em direção a essa questão da idade (cortesia dos colegas presentes), Pfeiffer, mãe de uma filha de 16 anos e um garoto de 14, falou-nos candidamente sobre o tema e como ele incide na sua trajetória, e também sobre Chéri, que tem exibição no Brasil garantida pela Califórnia Filmes, ainda sem data de lançamento. Uma das minhas perguntas, sobre a personagem Olenska que Pfeiffer fez em Age of Innocence, de Scorsese, ficou sem resposta, prova que esse tipo de entrevista é muito pouco fértil para se falar efetivamente de cinema.

Jornal do Commercio – Ao longo dos últimos anos, percebe-se que a Sra. Diminuiu o ritmo de trabalho e exposição no cinema.

Michelle Pfeiffer – Sim, na verdade, parei tudo durante um tempo. Agora, me vejo de volta ao trabalho, meus filhos ainda estão morando em casa, e não acho que voltarei ao ritmo de antigamente. Nessa indústria, raramente você escolhe o que vai fazer, ou quanto de trabalho você vai pegar, exceto nos casos onde alguém trabalha três anos ininterruptamente em cinco filmes, um atrás do outro, e decide dar um tempo. Não foi esse o caso comigo, pois a coisa toda de você ter a sua família, filhos, e o que tudo isso traz para a sua vida, faz a coisa toda bem mais complicada no sentido de trabalhar, de dizer "sim" para um convite. Filmes são feitos em locações longe de sua casa, durante longos períodos, e você precisa chegar a acordos que, no meu caso, me permitissem não me ausentar.

JC – Qual seu próximo projeto?

MP – Não tenho nada atualmente engatilhado. Mas, sabe como é, né? Há sempre rumores disso ou daquilo, sem falar nos formatos malucos de produção da indústria do cinema hoje em dia. Antigamente, você tinha a certeza de que um filme seria feito. Hoje, você só tem a certeza de que o filme vai acontecer quando você chega no set para filmar e nada foi cancelado. As coisas são financiadas atualmente de maneiras estranhas, e as pessoas, ou os "players" simplesmente saem do jogo, pelo fato de o financiamento estar vindo de três, quatro, cinco fontes diferentes. Quando um estúdio financia um filme, o dinheiro está lá, não há temores. Por isso que parei de produzir, ver seu projeto cancelado não é fácil, é como cancelarem seu aniversário.

JC – Sua relação com Hollywood é boa?

MP – Não sei o que essa Hollywood que tanta gente fala é, realmente. É uma espécie de mito criado. Eu mesma nunca morei em Hollywood, moro no norte da Califórnia, pois há dezenas de outros lugares mais interessantes.

JC – No período de ausência do cinema para viver a vida pessoal, em algum momento o trabalho fez falta?

MP – Não, pelo menos até o ano passado. Senti falta pura e simplesmente do trabalho em si, de trabalhar. Meu momento mais contente comigo mesma é quando me sinto produtiva. Sempre trabalhei e sempre trabalharei, não me vejo aposentada. As pessoas precisam ser produtivas, e você é o que você faz. Eu tinha uma amiga no colegial (high school) e o sonho dela era casar com um homem rico e ficar na piscina o dia inteiro! Nunca entendi direito, mas é o que a deixaria super feliz.

JC – A idéia de os filhos seguirem a profissão lhe agrada?

MP – Apenas se for do interesse deles. Não me preocupo com o que eles querem fazer da vida, mas apenas que achem algo que os apaixone. Até agora, não percebi nenhum interesse deles por essa profissão, e em relação à minha carreira, eles não se importam muito, gosto disso.

JC - O tema envelhecer soa especialmente difícil para uma atriz?

MP – Não é mais do que para qualquer mulher, ou qualquer pessoa em seja lá que profissão. Vivemos numa sociedade que presta muita atenção à questão da idade, isso em todas as formas diferentes de se fazer negócios, de trabalhar. Por exemplo, se um homem perde o emprego aos 50 anos de idade, é muito difícil para ele achar trabalho, todos sabemos disso, todos sofremos disso. A diferença é que na indústria do cinema, tudo é super destacado, com luzes brilhando, o que sugere algo maior do que realmente é. Uma outra coisa é o fato inegável de que os papeis diminuem, mas há um lado pouco discutido que é mais positivo no sentido de menos papeis oferecidos, mas papeis melhores, de maior qualidade. Sobre a questão da idade, a grande surpresa de você chegar aos 50, idade especial para qualquer um, é você perceber que nada muda. Há um mal estar sobre a idéia de chgar aos 50, mas aí, você chega lá e... há um alívio, pois não é nada. Exceto que, por ser uma espécie de marco, você passa a reavaliar a sua vida. No meu caso, posso ser um pouco pessimista às vezes e acho que me fez ver que "o copo não está metade vazio", mas "metade cheio", observar minhas vitórias. Com 50 anos, você já tem um grupo de pessoas que já morreram e que você as tinha perto, outras que não estão bem de saúde, outras ainda que simplesmente não estão bem. Por eu ser saudável, ter minha família, me sinto muito grata.

JC - A questão da idade que chega para a personagem Chéri de alguma forma faz esse seu trabalho particularmente importante nesta fase da sua carreira?

MP - Eu acho que papéis como esse não são muito freqüentes em seja lá que idade. Projetos com um roteiro desse calibre, dirigido por Stephen Frears, são raros. Para mim, surgiu do nada, foi uma surpresa para mim mesma.

JC – Ao compor um novo personagem, é possível ter flashbacks de um personagem passado com algo de semelhante ao novo? Digo isso pois a condessa Olenska, de The Age of Innocence, parece ter alguma semelhança com Lea nesse filme novo.

MP – Não... Não mesmo.

JC – O trabalho com Stephen Frears mudou em alguma coisa nos 21 anos que separam Ligações Perigosas de Cheri?

MP – Ele está ainda mais chato (risos). E continuo sem entender uma palavra do que ele fala.

1 comment:

João Solimeo said...

Eu (e a torcida do Flamengo) somos apaixonados pela Michelle Pfeiffer. Sou fã de um filme muito confuso, mas cheio de estilo e, provavelmente, com os olhos azuis mais bonitos do cinema, chamado "Conspiração Tequilla", com Mel Gibson, Kurt Russell, Pfeiffer e o grande Raul Julia, em que ela está absolutamente radiante.

E "Época da Inocência" é talvez o Scorsese menos badalado, mas acho uma obra prima. Pena que ela fugiu da pergunta.