Thursday, June 25, 2009

O Melhor Curta Metragem do Mundo*


Jackson faleceu hoje, mas, como normalmente ocorre com gente dessa laia (Ludwig Van, Sinatra, Chet Baker, Hitchcock, Cartola), deve permanecer vivo.

Sugiro ir até o http://www.youtube.com/watch?v=AtyJbIOZjS8&feature=fvst e rever um dos lembretes desse tipo de imortalidade, o melhor curta metragem do mundo (*junto ao La Jetée, do Chris Marker, obviamente).

Obrigado por tudo! Kleber

Monday, June 22, 2009

Transformers 2


por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


O que falar desse aqui? Num mundo perfeito, blockbusters seriam sempre aqueles filmes grandes, caros e bacanas que Hollywood lança no verão deles desde Tubarão, em 1975. No mundo real, coisas como Transformers 2 parecem defender atualmente um modelo a ser seguido. Vendo-o hoje aqui no Recife, fica a certeza de que o sucesso já garantido via marketing e grana de Transformers 2 – A Vingança dos Derrotados (Transformers 2 – Revenge of the Fallen, EUA, 2009) é a prova de que o grande público é capaz de pagar caro para ver qualquer porcaria.

Essa sucata amassada com muito gosto pelo diretor Michael Bay é resistente à crítica e estréia ao longo da semana em praticamente todo o mundo. Na melhor das hipóteses, seria aquele filme que estremece a sala ao lado, testando o isolamento acústico das paredes e atrapalhando a sessão que você pagou pra ver. Para quem se encontrar preso com Transformers 2 por livre e espontânea vontade, resta esperar que as duas horas e 30 minutos de projeção acabem em, no máximo, 150 minutos.

É uma duração e tanto para um filme que, por direito e bom senso, não deveria passar de 85 minutos. Não ter nada a dizer é uma constante na obra de Michael Bay, cineasta americano que formou-se na escola da publicidade e do videoclipe. Essas credenciais viraram clichê da crítica e de cinéfilos preconceituosos ao identificar um cinema metido a besta que investe mais na afetação do que na honestidade de uma imagem. No entanto, no caso de Bay, ele de fato parece confirmar essa impressão pejorativa num nível realmente impressionante. E o faz a cada novo filme.

O mais curioso na sua trajetória de excessos inchados (Bad Boys e Bad Boys II, Armagedon, Pearl Harbor, A Ilha) é que percebe-se ali o toque de um autor. Munido de o melhor que a tecnologia de imagem é capaz de oferecer hoje em Hollywood, Bay tem uma tara muito clara pela destruição, filmada em ângulos impossíveis e sonorizada em volume 11. Bay é um cara que adora filmar coisas quebrando, e o faz de forma sistemática e orgulhosa.

Essa tara pelo quebra-quebra, pelo barulho constante, vem ainda acompanhada de uma música tão renitente e genérica, além de personagens que recebem atenção menor do que a dada às máquinas (carros, aviões, caminhões) que estão no quadro. De uma certa forma, é um diretor americano por excelência, discípulo do excesso comprado pelo dinheiro e com um gosto por máquinas pesadas fabricadas pelas grandes indústrias bélica e automobilística. Curioso como muitos desses traços autorais também podem ser encontrados na obra de um outro cineasta hollywoodiano, James Cameron (O Exterminador do Futuro, Titanic, o aguardado para esse ano ainda Avatar), embora Cameron tenha a clara vantagem de ser inteligente.

A tentativa árdua de resumir a trama de Transformers 2 só é possível lendo a sinopse oficial divulgada, já que o filme nos passa a sensação de ser uma maçaroca bruta de barulho sem grandes preocupações com uma narrativa clara. Depois das batalhas entre Autobots (bonzinhos) e Decepticons (malvados) do primeiro filme, os super robôs alienígenas que se disfarçam de máquinas terrestres (carros, aviões, caminhões, etc) irão se enfrentar mais uma vez numa nova guerra que pega de surpresa o herói adolescente Sam (Shia LaBouf) e sua namorada Mikaela (Megan Fox). As forças armadas dos EUA, filmadas de maneira super sexy, do uniforme ao hardware, também marcam presença vistosa e Fox continua sendo filmada como a garota do mês da borracharia (vejam só a primeira cena dela no filme). Sua personagem, aliás, é mecânica por vocação.

É duro tentar diferenciar os robôs bons dos malvados, um problema em cenas de luta que duram entre cinco e 15 minutos de relógio, dando ao espectador a sensação de estar vendo um material bruto que aguarda montagem. Pontos turísticos internacionais são alegremente destruídos, não importa se Xangai, Paris ou as pirâmides do Egito.

Outra marca muito pessoal de Bay mostra-se presente na curiosa prepotência dos seus filmes para com personagens de culturas estrangeiras, algo que talvez tenha atingido o ápice em tratando-se de Michael Bay no já notório Bad Boys II. O amigo boboca (e frouxo) de Sam é latino, árabes são "burros" e os franceses só comem coisa nojenta.

Estamos em 2009 e um produto como Transformers 2 mostra-se protótipo do pior que a indústria de imagens tem para oferecer, à essa altura. Felizmente, não é o único tipo de coisa que a indústria tem feito, mas pelo esforço e dinheiro investidos (200 milhões de dólares é o orçamento divulgado), a mensagem de como andam as coisas é a mais pessimista possível. Nesse sentido, a imagem assinatura desse aqui é um decepticon com dois textículos de aço balançando ao vento, sonorizados com potentes BLEM-BLEMs.

Curiosamente, há algo de lúdico na premissa original, aqui enterrada sob toneladas de ferro retorcido, que é ver um objeto (um brinquedo) se transformar numa outra coisa (num outro brinquedo), perfeitamente renderizada por efeitos especiais top de linha. O lúdico não parece nunca ter sido uma prioridade, embora alguns momentos do primeiro filme sugerissem de leve a presença do produtor executivo Steven Spielberg em alguma reunião de roteiro. Spielberg continua associado a essa segunda parte, e a vergonha é toda dele.

Filme visto no UCI Boa Viagem, Recife, 22 de Junho 2009