Friday, March 6, 2009

Programação do Cinema da Fundação - Recife

semana 9 | programação de 6 a 12 mar 2009

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Pré-Estréia, Terça-Feira, Dia 10, às 21h30

Antes do filme, será exibida apresentação do diretor.

PALMA DE OURO FESTIVAL DE CANNES 2008

Entre os Muros da Escola

(Entre Les Murs, França, 2008). De Laurent Cantet. O vencedor da Palma de Ouro em Cannes, ano passado, é um registro dramatizado de um ano letivo numa escola do subúrbio de Paris. Um filme sobre alunos e professores, o ponto de vista é, mesmo assim, do jovem professor François Bégaudeau que precisa repensar fórmulas e regras para se adequar aos desafios diários do ensino numa França (e numa Europa) cada vez mais mista, social e culturalmente. Cantet, diretor de A Agenda e Em Direção ao Sul, ambos exibidos no Cinema da Fundação, consegue captar os conflitos internos com naturalidade impressionante. Indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro / Palma de Ouro Cannes.

128 min. / Exibição em Digital / Som 5.1 Dolby Digital / 12 anos. / Inédito

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Estréia

Café dos Maestros
(Cafe de los Maestros, Arg., Bra., EUA, Ing., 2008). Um filme de Miguel Kohan. Com Ubaldo Aquiles De Lio, Aníbal Arias, Ernesto Baffa, Emilio Balcarce, Oscar Berlingieri, Gabriel Chula Clausi, Juan D'Arienzo, Jorge 'El Portugués' da Silva, Emilio De La Peña, Carlos Di Sarli, Virginia Luque, Lagrima Rios.

O tango é um estilo de vida. O Tango pertence à Argentina - e em especial às cidades de Buenos Aires e Rosário, onde a dança é muito mais que um simples eco nostálgico. Muitos dos idosos continuam a praticar - alguns deles o fazem há oitenta anos. Neste documentário, temos o retrato de alguns destes músicos excepcionais, incluindo criadores de repertório clássicos do tango e fundadores de uma variedade de estilos e escolas, bem como os membros das bandas e orquestras que alcançaram a fama nos anos 1940 e 1950, na era dourada do ritmo. Vários protagonistas se tornaram grandes nomes no exterior, enquanto outros restringiram sua atuação ao interior da Argentina. Tela Plana / 90 minutos / som Dolby Digital / Exibição em Digital / Videofilmes / Livre / Inédito



Horários: Sexta : 16h30

Sábado, Quinta: 20h40

Domingo: 16h40, 18h30

Terça : 15h50, 19h40

Quarta : 16h40, 18h30

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PREÇO ÚNICO ESPECIAL – R$ 3,00

sessão especial – Sábado (7 de -março) – 18h50

Um clássico de KING VIDOR

O CAMPEÃO

(The Champ, EUA, 1931),

Com Wallace Beery, Irene Rich, Edward Brophy, Jackie Cooper.
Além da nova obra de Darren Aronofsky, com Mickey Rourke como um lutador aposentado, o Cinema da Fundação oferece a oportunidade de conhecer/rever este filme de King Vidor, seminal no quesito dramático na vida de boxeadores. Apresenta Billy, um ex-campeão de boxe alcoólatra e viciado em jogo, que vive uma relação especial com seu filho. Linda, a mãe do menino, que o abandonou ainda pequeno, reaparece casada com um milionário para tenta reconquistar o garoto. Em 1932, Beery levou o Oscar de Melhor Ator, e Frances Marion, o de melhor roteiro. “O Campeão” ainda concorreu como melhor filme e Vidor foi indicado pela direção. O filme ganhou uma refilmagem de sucesso em 1979, com a direção de Franco Zeffirelli e Jon Voight no papel que foi de Wallace Beery. 87 min. / P7B / 35mm / Plano (1: 1,37) / Mono / Cinemateca do MAM / Livre

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3ª semana e última semana

O Lutador

(The Wrestler), de Darren Aronofsky. Com Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood, Mark Margolis. No ano de 2000, o Cinema da Fundação disponibilizou pela primeira vez numa sala de cinema do Recife um filme do diretor Darren Aronofsky. Era “Requiem para Um Sonho”, que se tornou um cult imediato, criando fãs do até então jovem diretor norte-americano desconhecido. Nove anos depois, “O Lutador” é o terceiro longa que ele dirige, com o qual vem ganhando atenção da mídia internacional a partir de sua premiere mundial, ocorrida no Festival de Veneza, em agosto de 2008, quando foi eleito o melhor filme daquela mostra. O ator Mickey Rourke, lembrando por vários filmes nos anos 1980, também ganhou as graças da imprensa com seu lutador Robinson. Depois de ter um infarto em uma luta, ele fica sabendo que pode morrer se voltar ao ringue. A partir daí, tenta arrumar um emprego em uma loja de comida e se enturmar com o filho da stripper com quem está morando. Mas surge, então, a proposta para uma luta com o seu maior rival. Indicado a Melhor Ator (Rourke) e Atriz Coadjuvante (Tomei) OSCAR 2008 / Melhor Filme FESTIVAL DE VENEZA 2008 – Tela Larga / Digital / 14 anos / 109 min. / Paris Filmes



Horários: Sexta, domingo, quarta : 20h20

Sábado: 16h40

Ter : 17h30

qui : 16h30



7a. SEMANA e última semana !! 2 mil Espectadores já viram na Fundação
O vencedora do OSCAR 2009 de melhor atriz coadjuvante
PENELOPE CRUZ

UM FILME DE WOODY ALLEN

VICKY CRISTINA BARCELONA

(Espanha/EUA, 2008) De Woody Allen. Com Javier Bardem, Scarlett Johansson, Penélope Cruz, Patricia Clarkson. O Cinema da Fundação apresenta um dos filmes mais bem sucedidos da carreira de Woody Allen. As norte-americanas Vicky e Cristina são grandes amigas em férias em Barcelona, Espanha. Vicky procura ser sensata em relação ao amor e está noiva, enquanto Cristina sempre busca uma nova paixão que possa virar sua cabeça. Ao conhecer o charmoso pintor Juan Antonio, o horizonte amoroso das duas ganha novas dimensões. GLOBO DE OURO Melhor filme (Comédia). Imagem / 12 anos / 98 min / Dolby SR / 35mm

Horários:

sexta-feira: 18h20

quinta-feira : 18h40

O Menino da Porteira




por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Estamos numa semana que viu o recorde de público do período da Retomada ser quebrado com o enorme sucesso de Se Eu Fosse Você 2 (cinco milhões e trezentos mil espectadores, e subindo), de Daniel Filho, posição que pertencia a 2 Filhos de Francisco, de Breno Silveira (2005). É nesse clima festivo que vemos hoje o lançamento de mais um produto nacional de grandes pretensõe$ nas bilheterias, O Menino da Porteira (2009). Dirigido por Jeremias Moreira com realização industrial sã como veículo para o cantor Daniel, suspeita-se que o filme fique entre o Brasil litorâneo/urbano e o Brasil do interior/rural, podendo surpreender num mercado aquecido.

É uma refilmagem de O Menino da Porteira, dirigido pelo mesmo Moreira, lançado em 1976, com Sérgio Reis no papel que é agora de Daniel, um dos produtores. Os responsáveis têm falado que foi exatamente o sucesso de 2 Filhos de Francisco (também lançado pela Sony) que inspirou otimismo no novo projeto.

Ligando os pontinhos, o filme pode sair-se bem com a cama mais do que aquecida para o cinema brasileiro por Se Eu Fosse Você 2 e a presença do cantor Daniel na igualmente brejeira próxima novela das seis, Paraíso, na Globo. Além disso, o filme deverá se tornar uma opção para quem não quiser ver Watchmen nesse final de semana. Se isso vai neutralizar as sensibilidades rurais do filme, exibido para platéias urbanas de multiplex, resta esperar para ver, embora saibamos que essa estética gado é uma realidade no sul e sudeste do país.

Daniel interpreta o herói, Diogo, xerox clássico do caubói Shane, de Os Brutos Também Amam, boiadeiro com berrante, também não muito distante do vaqueiro visto em Austrália, há algumas semanas. Chegando numa região não especificada do interior do Brasil (anos 50) para entregar gado (a locação é o fotogênico interior de São Paulo, terra do astro), o estóico rapaz descobre uma comunidade oprimida por um fazendeiro (José de Abreu, divertindo-se à beça), o vilão, que administra seu monopólio. Bom saber que o principal capanga do latifundiário, primo muito distante de Lee Van Cleef, se veste todo de preto.

Diogo faz várias amizades, uma delas com Rodrigo (João Pedro Carvalho), um garoto que, fascinado pelo mundo dos vaqueiros, passa a abrir a porteira para a boiada, sempre sorridente. Ele é filho de Otacílio (Eucir de Souza), um dos muitos que têm problemas com o fazendeiro. A amizade entre nosso herói e o menino consiste de uma enorme boa vontade do garoto para com a cantoria de Daniel, numa relação que nunca ultrapassa o mero fator fofinho.

Daniel marca a sua presença com dignidade e algum desconforto em frente à câmera. Calado, engana como estóico. Na dúvida, abre um estudado sorriso ou esconde-se atrás do berrante. Até que a oscilação entre silêncio perdido e sorriso estranho o entrega. Sua principal fuga é começar a cantar, viola em punho.

Receitas de bolo para esse tipo de cinema autenticamente simplório também guiam o xamêgo entre ele e a filha do fazendeiro (Vanessa Giácomo), a cena em que vêem-se pela primeira vez mancharia a reputação de uma novela das seis, que já é o folhetim mais sem reputação da televisão.

Desdobramentos nos levam ao bangue bangue geral e total rumo ao final, com uma seqüência de estouro da boiada relativamente bem feita, e a uma virada curiosa na história que estabelece o melodrama que poderá dar respeito narrativo ao filme junto às platéias. Lágrimas são sempre benvindas, por mais mecânicas que sejam.

Me impressiona no cine brasileiro de pretensões populares (vide Daniel Filho e seu sucesso) que o produto final deva ser acima de tudo essa coisa cada vez mais genérica que é o conceito de algo "bem produzido", ou "bem acabado". O Menino da Porteira, de fato, tem imagem segura (Pedro Farkas, fotógrafo), reconstituição de época correta (Adrian Cooper) e decupagem que não sugere falta de planos.

De qualquer forma, não deixa de sugerir que essa busca por um padrão brasileiro alto não se mostra nada além do básico mínimo para o padrão internacional. Como filme e narrativa, continua almejando muito embaixo, mantendo-se rasteiro o suficiente para que qualquer vestígio de inteligência ou marca pessoal inexista no todo. Suspeita-se que se alguém, durante o processo, de produção, trouxe algum lampejo que faria a diferença, o mesmo teria sido sumariamente demitido aos gritos, sob o medo de as idéias levarem a uma perda dos milhões que exigem o simples, e só são alimentados de broa simplória. Até quando esse modelo será a norma?

Filme visto no UCI Boa Viagem, Recife, Março 2009

O Café dos Maestros


por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


O cinema parece ter uma fixação natural com aqueles que já foram, que hoje parecem descartados através da velhice, mas que voltam pelo menos mais uma vez para mostrar o que são. O último Rambo, com um Sylvester Stallone aos 62 anos, mostrou isso, ano passado, O Lutador, com um Mickey Rourke voltando à tona em pessoa - e via personagem - fez o mesmo tipo de coisa, e agora temos um desdobramento do tema no documentário sobre o tango, Café dos Maestros (Café de los Maestros, Argentina, 2008), filme de Miguel Kohan.

Esse registro, na verdade, não oferece nada de novo no cenário de documentários do tipo, e é muito fácil e tecnicamente correto afirmar que temos aqui mais uma mutação da fórmula bem executada em Buena Vista Social Club, de Wim Wenders, onde um grupo de músicos cubanos se reunia para um grande show com ares de ‘último’ para mostrar o que eles foram na juventude. O sucesso do filme de Wenders, na verdade, marcou o rejuvenescimento das carreiras desses músicos, na época nos seus 70 e 80 anos, e depois do filme correram o mundo, vendendo milhões de Cds e tocando ao vivo para milhares.

Essa fórmula repete-se aqui, da mesma forma que repetiu-se em O Mistério do Samba, de Lula Buarque de Hollanda e Carolina Jabor, onde uma Marisa Monte pesquisadora reunia a velha guarda da Portela para uma orgia final de música multi-geracional. Durante a sessão desse filme argentino, bate um certo dissabor ao acompanharmos procedimentos tão demarcados.

A narrativa fragmentada nos apresenta senhores e senhoras que fatalmente irão lembrar com nostalgia do passado – “aquele tempo era tão bom”, “Buenos Aires não é mais a mesma” -, seus passados resgatados rapidamente em imagens e gravações de arquivo, os homens particularmente saudosos das mulheres que tiveram “naquela época”.

De qualquer forma, a imagem de rostos maduros sempre me chama a atenção e me enche de interesse. Mais do que adequado que na parede de um café, destaque-se a frase “Alguns Fazem Aniversário, Outros Acumulam Juventude”. Talvez por isso que o filme frustre tanto na sua incapacidade de contextualizar o tango historicamente, de nos ensinar, mesmo que superficialmente, sobre suas diferentes raízes e estilos, sem falar na tensão social e sexual que ele sempre desperou 70 ou 80 anos atrás.

O que importa é a estrutura de "reunião", e todos irão ensaiar e trabalhar juntos rumo a uma grande apresentação no Teatro Colon, função forçosamente emocionante onde um grupo de artistas outonais irão mostrar o quanto valem. Produzido por Walter Salles e Gustavo Santaolalla (que ganhou Oscar por Diários de Motocicleta, de Salles), Café dos Maestros poderia ser bem melhor, especialmente na sua recusa de efetivamente mostrar não apenas o tango musica, mas o tango em seus movimentos.

De qualquer forma, o lado sempre positivo desse tipo de projeto, por mais comercial que possa parecer, é que há sempre a oportunidade para o espectador de relaxar na poltrona e ouvir a música com todos os benefícios que o bem calibrado som digital de cinema é capaz de proporcionar, o que geralmente leva a um interessante transe.

Filme visto no Cinema da Fundação, Recife, Março 2009