Thursday, July 17, 2008

Why So Much?



(foto exclusiva obtida pelo blog do CinemaScópio de teste feito essa semana. Not)


Recebi um interessante comunicado da Warner sobre uma faxina nos céus de São Paulo, nesta sexta-feira, dia 18, estréia do The Dark Night.

BAT-SINAIS serão projetados nos céus (ver horários, locais e sessões). Curiosamente, não informaram sobre o preço de cada olhada.

Kleber

PS: é sério.

BAT-SINAIS em SP, locais e horários (Olhar Para Cima)

18:00 - 18:20 - Rua Jorge Velho esquina com Avenida Santos Dumont ( virado no sentido Zona Norte)

18:35 - 18:50 - Praça da Bandeira inicio da Rua Santo Amaro

19:05 - 19:20 - Rua Joinvile, 385, virado para Avenida 23 de Maio - sentido
Ibirapuera. Em frente ao Grand Mercure Ibirapuera

19:35 - 19:50 - Avenida Ibirapuera em frente ao Shopping Ibirapuera

20:05 – 20:20 - Avenida Santo Amaro com Bueno Brandão – sentido 9 de Julho

20:30 - 20:45 - R: Soares de Barros (entrar pela R: Atílio Inocente Antes da JK) entre a Jk com Rua Bissau Altura do n. 1002

20:55 - 21:10 - Rua Sampaio Vidal esquina com Avenida Brigadeiro Faria Lima

21:20 – 21:35 - Avenida Brigadeiro Faria Lima Com Rua Buritama

21:45 – 22:00 - Avenida Brigadeiro Faria Lima – Próximo ao número 1.500

22:10 – 22:25 - Avenida Rebouças na altura do número 1462. Entre as ruas João Moura e Estados Unidos

22:35 – 22:50 - Avenida Paulista - altura do número 726

23:00 – 23:15 - Rua Conde de São Joaquim, transversal com Avenida Brigadeiro Luiz Antonio.

23:25 – 23:40 - Avenida 9 de Julho com Rua Itu

23:50 – 00:05 - Rua Teixeira de Melo na esquina com a Rua Melo Peixoto - Sinal virado para Radial Leste

00:15 – 00:30 - Rua Iperoig, ao lado do número 74. Esquina com Avenida Sumaré

A Morte Como Performance



Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Uma das melhores peças publicitárias da blitz de marketing da Warner Bros. para The Dark Knight (EUA, 2008) traz a frase "Why So Serious?" (porquê tão sério?"). Para quem não consegue levar filmes desse tipo como representação religiosa da vida na sua leitura mais séria, a pergunta cabe graciosamente. Porquê diacho esse filme é tão retido na sua sisudez?

Com duas horas e 20 minutos, The Dark Night parece querer dizer ao mundo com a sua auto-importância que o cinema de entretenimento também pode ser profundo e sombrio. Se o primeiro adjetivo talvez não entre, o segundo sugere honrar a face trágica do ator Heath Ledger, falecido precocemente no início do ano. Há algo de fascinante na morbidez de ver Ledger por trás de uma máscara mortuária em todas as suas cenas: a máscara do Coringa.

The Dark Knight, no entanto, foi feito exatamente para quem leva filmes desse tipo a sério como representação religiosamente fiel da vida. Não parece bastar mais ver filmes ágeis, inteligentes, críticos e espetacularmente divertidos dentro de um tom de "cinema de super herói", ou de "histórias de quadrinho" - Superman The Movie, Robocop, o Batman de Burton, Os Incríveis.

O que importa na indústria cultural é a grande obra-prima da semana. The Dark Knight vem sendo embalado há mais de um ano pela máquina de marketing da própria Warner Bros. como um pré-clássico do cinema, espécie de "O Poderoso Chefão dos filmes de super herói". O cinismo brilhante desse tipo de campanha, validada sinistramente pela morte de Ledger, é ignorar que valor é uma coisa dada naturalmente pelo mundo, e não espalhada meses antes de um filme ser visto.

E é nesse mundo dominado por valores artificiais gerados pela qualidade do design e da onipresença que, temos, portanto, uma obra de valor calculável: mais ou menos 600 milhões de dólares, quantia que The Dark Knight (via DC Comics) precisa para superar financeira e moralmente a arrecadação internacional do outro super herói concorrente no trimestre, O Homem de Ferro, da Paramount Pictures (via Marvel Comics).

O efeito mitificador do trágico falecimento (em janeiro) do ator, aos 28 anos, também deve ser ponderado. Ajudou muito a máquina de vendas o fato de seu personagem no filme – o Coringa – ter uma face graficamente sintonizada com a morbidez natural da tragédia pessoal do artista em si. Olhar para o rosto deformado do Coringa ao longo dos últimos meses sugeria um cheiro de morte, sensação que perdura ao longo de todo o filme, dando-lhe peso.

Há ainda uma campanha iniciada pelo diretor Christopher Nolan (Memento, Batman Begins), e que ganhou as vozes de atores que estão no filme – Christian Bale, Michael Caine – de que Ledger deverá ganhar o Oscar 2009 por sua atuação, sendo este papel sua herança para o mundo. Me pergunto se, do ponto de vista da imagem preservada, as pessoas lembrarão de Ledger, o homem, ou do Coringa borrado, a 'máscara', ou se de Ledger, o ator, ou do seu cowboy em Brokeback Mountain, onde suas feições/rosto ali intactos?

DUPLOS – Depois de finalmente visto, o filme parece repetir o conceito de duplos, algo desenvolvido originalmente nos quadrinhos e com interessante eficácia já no filme de Tim Burton, 19 anos atrás. Gotham City (filmada ricamente em Chicago) está à beira da anarquia, a semente justiceira espalhada pelo trabalho de Batman ganhou adeptos (ou duplos) em imitadores que não são páreo para o grau de perversidade de um novo criminoso chamado Coringa, sua demência violenta apresentada numa seqüência de abertura empolgante.

Bruce Wayne/Batman (Bale) parece ter desocupado a bat-caverna, preferindo um largo estacionamento de shopping personalizado. Ele supervisiona os passos do crime organizado, liderado por Maroni (Eric Roberts, bom revê-lo), com arsenal cada vez maior de brinquedos fornecidos pelo seu escudeiro Lucius (Morgan Freeman). Alfred (Caine) continua sendo o serviçal de voz paterna para Wayne, bilionário boa pinta e enfeitado por mulheres objeto que encontra no jovem político Harvey Dent (Aaron Eckhart) um duplo oficializado seu que poderá restaurar a paz e a justiça em Gotham City (the American way).

Tudo isso é um prato cheio para a veia anarquista do Coringa, que consegue bagunçar os caminhos de Wayne e Batman, da máfia e do triângulo amoroso entre Wayne, Dent e Rachel (Maggie Gyllenhaal, que me pareceu mais expressiva com o pouco que lhe deram do que Katie Holmes com o outro pouco que ela tinha). Eu não sei se entendi muito bem as maquinações do Coringa, mas seja lá o que ele estava fazendo, ele terminou fazendo, e bem.

Finalmente, as tais maquinações levam Coringa a transformar Dent numa nova e dramática aberração, o Duas Caras, personagem com a aparência de um pesadelo que abandona a crença na justiça (the American way) e passa a enxergar a moralidade num ambiente sórdido como uma questão de mero acaso, ou sorte.

Esse último pensamento me pareceu caber bem com o clima geral das manchetes pavorosas que têm relatado um gênero bem brasileiro de violência nesse país, em atos de perversão brutal que alimentariam o Coringa com muitas idéias e imaginação. Essa comunicação (que talvez só exista na minha cabeça) com um certo estado de coisas fora do filme me agradou.

Se Jack Nicholson, roubou o Batman de 1989 com um terrorista da arte (pichava obras que defendiam o belo, adorava Francis Bacon), Ledger rouba o filme novo como personificação do terror. Não há muito o que dizer ao ouvirmos Batman com sua voz engraçada de gripado trocando palavras com um Coringa tão mais fácil (e interessante) de ouvir.

Não seria estranho imaginar que o papel do Coringa no filme canaliza um medo bem americano nesta década, o medo de um pensador do terror que habita o imaginário dos EUA via figura de Osama Bin Laden. Talvez seja o que mais próximo existe de um Coringa real.

São boas idéias sugeridas por uma aventura um tanto dura feito uma tábua, em especial na forma como se contorce para dar conta de tantas estratégias e tramóias, algumas (as cenas de ação) com a funcionalidade de um anúncio de brinquedo. Nolan, na falta de estilo pessoal próprio, vai buscar uma marca sua no orçamento astronômico, numa câmera carrossel gratuita e na trilha sonora para surdos, uma sinfonia de 140 minutos incapaz de te deixar a lembrança de uma melodia sequer.

Por obra do destino, no entanto, esse filme industrial agregou a mística de um rosto forte à ajuda poderosa da morte.

PG-13 - Por último, vale acrescentar o quanto os mecanismos do mercado impõem à imagem uma idéia de restrição, embora isso nada tenha a ver com a ação descrita ali na tela. O que importa, cegamente, à idéia de "classificação" é se vemos ou não a imagem de uma faca cortando o canto de uma boca. Para mim, o fato de alguém fazer isso com o outro, e o tratamento implícito ali aplicado (montagem, música, efeito de som) deveria dar o tom, e não o quão explícito o corte é.

"The Dark Knight", nos seus momentos mais dó-dóis, parece clamar pelos detalhes pré-formatados milimetricamente para seu público de meninos de 12 ou 13 anos, quando a ação em si mostra-se bem mais sombria e demente. Para tal, vejam Robocop.



Filme visto no UCI Boa Viagem, Recife, 14 de Julho 2008

"...Na Sessão da Tarde"

Eu 'tava vendo o A Ilha da Imaginação (Nim's Island) essa semana e me lembrei dessa montagem que alguns já devem ter visto. Eu não sei se é uma homenagem saudosa à Sessão da Tarde que existe dentro de todos nós, ou uma exposição clara e evidente do raquitismo criativo no chamado Padrão Globo de qualidade, ainda tão poderoso em 2008. Veja.

Nim' Island (A Ilha da Imaginação)

Kleber Mendonça Filho
A Ilha da Imaginação (Nim's Island, EUA/Austrália, 2008) é uma geringonça de férias para entreter crianças incautas. Pode funcionar bem junto aos pequenos que não conseguirem ingressos para o novo Batman, ou os que não tiverem faixa etária suficiente para entrar nas salas que exibem o morcego. Cheio de bichinhos simpáticos, eco-mensagens e uma heroína mirim com expressão de boneca, o filme vem dublado por atores brasileiros que crêem que estão num filme ainda pior.

A idéia lembra Tudo Por Uma Esmeralda (Romancing the Stone), aventura dos anos 80 de Robert Zemeckis (De Volta Para o Futuro) sobre uma escritora de romances aventurescos que encontra seu personagem principal na vida real. Desta vez, a escritora é Jodie Foster, aqui numa atuação claramente equivocada, talvez uma tentativa desesperada de ser interessante para as crianças. Na verdade, o que se passa com Jodie, no seu último filme, The Brave One (Valente, no Brasil), ela dava uma outra atuação equivocada, só que para adultos.

Foster é a escritora Alexandra Rover, moradora reclusa de São Francisco que parece sofrer de um tipo especialmente histérico de síndrome do pânico. Passa a se comunicar pela internet com uma grande fã dos seus livros, a garotinha Nim (Breslin, de Pequena Miss Sunshine). Nim mora numa ilha secreta do Oceano Pacífico com o pai, especialista em plânctons.

Quando o pai desaparece numa tempestade, a pequena Nim e seus bichinhos (foca, pelicano, cipó, vulcão) se metem em grandes apuros e caberá à ofegante escritora ir salvá-la de uma tremenda confusão.

O roteiro é claramente uma lástima. Esbaforido, cansativo e artificial, deixa o pobre do pai (Gerard Butler, visto por último com seios em 300) boiando o filme inteiro enquanto esta versão irritante de Jodie Foster chega na ilha, viagem improvável até para a lógica infantil não muito exigente.

A pequena Breslin corre o risco que atrizes prematuras geralmente correm (a esquisita Dakota Fanning o último exemplo). Depois de uma estréia super fofinha, vira atriz objeto não muito diferente em presença e expressão dos bichinhos digitais com os quais contracena.
Filme visto no UCI Recife, Julho 2008