Saturday, June 21, 2008

10 Anos do Cinema da Fundação: Programação


Como co-responsável pela programação cinéfila do Cinema da Fundação, no Recife, posto aqui a programação especial de comemoração dos 10 anos da sala (Bent foi meu primeiro palpite, em maio de 1998). Essa programação começa na próxima quinta, 26, e creio que está divertida, com mistura de clássicos em 35mm e coisas mais novas em digital.

Espero vê-los por lá. Além de exibir filmes e promover diálogos depois de alguns deles, deveremos fazer uma feira de cartazes, abrindo os arquivos dos últimos 10 anos para que o público compre seus favoritos! Yeah.


Quinta-Feira, 26 de Junho

16h – Estamos Bem Mesmo Sem Você
(Anche Libero Va Bene, Itália, 2006) Com Alessandro Morace, Kim Rossi Stuart, Barbara Bobulov. Abandonado pela mãe e pela esposa Stefania (Barbora Bobulova), Renato (Kim Rossi Stuart) e seu casal de filhos formam uma família unida. Tommy (Alessandro Morace), de 11 anos, vive sua rotina, apesar das eventuais brigas com sua irmã Viola (Marta Nobili) e do temperamento duro e disciplinador do pai. Um dia, porém, Stefania volta para casa e sua presença desequilibra aquela união. Seleção Quinzena dos Realizadores Festival de Cannes.
Tela Plana / Dolby Digital / 108 mins / 12 anos / em Digital

18h10 – Casablanca
(EUA, 1941) De Michael Curtis. Com Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Claude Rains e Peter Lorre. Dispensa apresentação esse clássico do cinema industrial hollywoodiano onde tudo parece ter dado certo, do roteiro de Julius Espstein, Philip Epstein e Howard Koch às presenças de Bergman e Bogart, Rains e Lorre. Chance rara de (re)ver no cinema o reencontro de Rick e Ilsa, um amor mal resolvido na perigosa Casablanca, portão de saída para o mundo em guerra.
Tela Plana / 102 mins / mono / Livre / em 35mm

20h10 – Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto
(Before The Devil Knows You’re Dead, EUA, 2007), de Sidney Lumet. Com Philip Seymour Hoffman, Ethan Hawke, Marisa Tomei. Crônica violenta sobre dois irmãos que arriscam tudo num golpe criminoso contra a própria joalheria da família. O plano sai tragicamente errado e as conseqüências são duras. Aos 81 anos, Sidney Lumet surpreende com um filme vigoroso, defendido por elenco excelente.
Tela Plana / 117 mins / Dolby Digital / 16 anos / em Digital.

Sexta-Feira, 27 de Junho

17h – Os Vivos e os Mortos
(The Dead, EUA, 1987). De John Houston. Com Anjelica Houston, Donald McCann. Filme testamento de John Houston (O Tesouro de Sierra Madre, Uma Aventura na África), uma herança e tanto sobre a diferença entre a mera existência e viver. Honra o conto de James Joyce, Os Mortos (de Os Dublinenses), de onde foi adaptado, com rara felicidade.
Tela Plana / 84 mins / Livre / Mono / em 35mm.

18h50 - O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro
(Brasil, 1969) De Glauber Rocha. Mauricio do Valle, Odete Lara, Othon Bastos, Hugo Carvana, Emmanuel Cavalcanti. Cópia restaurada (a partir de uma cópia francesa, o negativo original perdeu-se num incêndio num laboratório de Paris) do filme que deu a Glauber Rocha o prêmio do júri no Festival de Cannes. Depois de quase 30 anos, o matador de cangaceiro Antônio das Mortes (visto em Deus e o Diabo na Terra do Sol) é chamado por um latifundiário para matar um novo bandido. No entanto, esse novo cangaceiro é libertário e logo o matador irá rever seu papel naquele mundo.
Tela Plana / 100 mins. / 12 anos / Mono / em 35mm

21h - Do Outro Lado
(Auf der anderen Seite, Alemanha, 2007), de Fatih Akin. Com Nurgül Yesilçay, Baki Davrak e Hanna Schygulla. O diretor alemão de origem turca Fatih Akin (Contra a Parede) une suas duas culturas neste drama sobre pais e filhos e as muitas fronteiras que precisam ser negociadas. O viúvo Ali apaixona-se por Yeter, uma prostituta. Ela conquista o respeito do filho dele ao revelar que sustenta os estudos de uma filha, na Turquia. A estudante, uma ativista política, virá para a Alemanha, onde apaixona-se pela também estudante Lotte, de família alemã conservadora. Melhor Roteiro Cannes 2007.
Tela Plana / Dolby Digital / 14 anos / 122 mins / em Digital.


Sábado, 28 de Junho

16h30 Um Convidado Bem Trapalhão
(The Party, EUA, 1968) De Blake Edwards. Com Peter Sellers. Comédia clássica sobre um ator indiano em Hollywood (Sellers, num dos seus melhores momentos) com talento especial para o desastre. Convidado por engano para uma festa da alta roda em Beverly Hills, ele irá transformar a noite numa insuperável sequência de catástrofes cômicas, filmadas com grande elegância por Edwards, parceiro de Sellers na série A Pantera Cor de Rosa. Tela Larga / 99 mins. / Mono / Livre / em 35mm.

18h30 Ondas do Destino
(Breaking The Waves, Dinamarca/França/Alemanha, 1996). de Lars Von Trier. Com Emily Watson, Stelan Skarsgard, Jean Marc Barr. Antes de Os Idiotas (1998), Dançando no Escuro (2000) e Dogville (2003), todos exibidos no Cinema da Fundação, Lars Von Trier fez essa obra prima ambientada numa comunidade conservadora da Escócia, na década de 70. Narrado com o estilo hipnótico do diretor, o efeito emocional sobre o espectador é frequentemente devastador. Bess é a esposa de Jan, operário de uma plataforma no Mar do Norte. Depois que ele sofre um acidente, ela leva a fé religiosa às últimas conseqüências para que Jan fique bom. Chance rara de ver na tela grande esse filme que lembra que o amor pode ser uma força sagrada da natureza. Grand Prix no Festival de Cannes.
Tela Larga / Dolby SR / 160 mins / 14 anos / em 35mm

21h40 O Escafandro e a Borboleta
Le Scaphandre et le Papillon (França/EUA, 2007), de Julian Schnabel. Com Mathieu Amalric, Emmanuelle Seigner, Marie-Josée Croze. Tocante adaptação para o cinema do livro escrito por Jean Dominique Bauby, editor da revista Elle, que, aos 42 anos, viu-se preso dentro do próprio corpo através de uma condição médica incomum. Seu único contato com o mundo, seu olho esquerdo, com o qual foi capaz de comunicar-se e dedicar-se à escrita. O diretor Schnabel (Basquiat, Antes do Anoitecer) evita boa parte do teor melodramático que o tema poderia sugerir. Prêmio de Diretor Festival de Cannes.
Tela Plana / 112 mins / 12 anos / Dolby Digital / em Digital


Domingo, 29 de Junho

16h Casablanca 2a. Exibição
(EUA, 1941) De Michael Curtis. Com Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Claude Rains e Peter Lorre.
Tela Plana / 102 mins / mono / Livre / em 35mm


18h O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro
2a. Exibição
(Brasil, 1969) De Glauber Rocha. Mauricio do Valle, Odete Lara, Othon Bastos, Hugo Carvana, Emmanuel Cavalcanti.
Tela Plana / 100 mins. / 12 anos / Mono / em 35mm

20h Luz Silenciosa
(Stellet Licht, México/França, 2007) de Carlos Reygadas. Com Elizabeth Ferr e Jacobo Klassen. No México, um pai de família numa comunidade menonita conservadora e fechada para o mundo externo tenta lidar com a paixão por uma outra mulher. Este é o primeiro filme a ser distribuído no Brasil do premiado realizador mexicano Carlos Reygadas (Japón, Batalla en el Cielo). Prêmio do Júri Festival de Cannes.
Tela Larga / Dolby / 14 anos / 130 mins / em 35mm

Segunda, 30 de Junho

17h FACES
De John Cassavetes
Com Gena Rowlands. Homem casado já maduro deixa a esposa para ficar com mulher mais jovem. Pouco tempo depois, a esposa também encontra uma outra relação. Sobre o filme, o crítico Roger Ebert escreveu: “Faces, de John Cassavetes, é o tipo de filme que te faz querer pegar pessoas pelo pescoço arrastando-as para dentro do cinema e gritando “Aqui, veja!”.
Tela Plana / 130 mins. / Mono / 12 anos / em 35mm.


19h30 Sessão seguida de debate com o realizador
N o m e P r ó p r i o
De Murilo Salles. Com Leandra Leal. A história de uma jovem que dedica a vida à escrita, enquanto vive apaixonadamente.. Para ela, o que interessa é construir uma trajetória como ato de afirmação. Sua vida é sua narrativa. Adaptação dos livros "Máquina de Pinball" e "Vida de Gato", da escritora gaúcha Clarah Averbuck. O filme também recorre a textos de sua autoria publicados na internet e em seu blog. Fotografado em digital (câmera HVX-200 da Panasonic) com resultado estético marcante, terá carreira nos cinemas apenas no formato digital.
Tela Plana / 120 mins / Dolby Digital / 14 anos / em Digital

Terça, 1 de Julho

16h30 Os Vivos e os Mortos 2a. Exibição
(The Dead, EUA, 1987). De John Houston. Com Anjelica Houston, Donald McCann.
Tela Plana / 84 mins / Livre / Mono / em 35mm.


18h20 – SESSÃO DUPLA
Curta-metragem Eisenstein
De Leonardo Lacca, Raul Luna e Tião. Ivan se apaixona por Alessandra, a neta de Eisenstein. O premiado curta pernambucano abre a sessão do clássico do cinema soviético dirigido por Sergei Eisenstein.
Tela Plana / Dolby / 20 mins / em 35mm
+
O Encouraçado Potemkin
(Bronenosets Potyomkin, URSS, 1925) De Sergei Eisenstein. Ausente dos cinemas pernambucanos há mais de 25 anos, esta é uma oportunidade imperdível de (re)ver em 35mm este clássico absoluto do cinema mundial. Norte para diversas gerações sobre a personalidade da montagem na narrativa cinematográfica. Filme foi encomendado, 20 anos depois, pelo governo soviético para lembrar o motim do encouraçado Príncipe Potemkin, em 1905, que desencadeou uma repressão sangrenta do poder do Czar, servindo como um dos estopins da Revolução Russa. A cena da escadaria de Odessa nunca será esquecida como exemplo revelador do poder da edição.
Tela Plana / 80 mins. / em 35mm / ATENÇÃO: filme mudo com intertítulos.

20h20 - Première do Curta Metragem
MURO
Sessão seguida de debate com o realizador

(2008), de Tião.
Alma no vazio, deserto em expansão. Prêmio “Novo Olhar” na Quinzena dos Realizadores – Festival de Cannes 2008.
Tela Larga / 18 mins / Dolby / em 35mm

Quarta, 2 de Julho

16h Um Convidado Bem Trapalhão 2a. Exibição
(The Party, EUA, 1968) De Blake Edwards. Com Peter Sellers. Tela Larga / 99 mins. / Mono / Livre / em 35mm.



18h Estamos Todos Bem Mesmo Sem Você 2a. Exibição
(Anche Libero Va Bene, Itália, 2006) Com Alessandro Morace, Kim Rossi Stuart, Barbara Bobulov.
Tela Plana / Dolby Digital / 108 mins / 12 anos / em Digital

20h10 - Amigos de Risco
Sessão seguida de debate com o realizador

(2008) De Daniel Bandeira. Com Irandhir Santos, Rodrigo Rizla e Paulo Dias. Dois amigos encontram um terceiro que volta do Rio de Janeiro ao Recife com uma proposta arriscada. Pela madrugada hostil da cidade, o trio irá descobrir revelações que porá em jogo o tenso relacionamento entre eles. Seleção Oficial do Festival de Brasília 2007.
Tela Plana / 88 mins / Dolby / em 35mm


Quinta, 3 de Julho
18h Longe Dela
(Away From Her, Canadá, 2007) De Sarah Polley. Com Julie Christie, Esse filme forte pode correr o risco de ser confundido com o tipo “doença da semana”, mas fica longe disso com tratamento nada sentimental. A atriz Sarah Polley (O Doce Amanhã) estréia na direção contando a história de um homem que observa sua esposa(Julie Christie), que sofre de Alzheimer, apaixonar-se por outro homem, num ensaio sobre a vida e seus detalhes que somem aos poucos. Tela Plana / 110 mins / 14 anos / em Digital

20h20 Sessão seguida de debate com os realizadores

P i n d o r a m a - A Verdadeira História dos Sete Anões
De Leo Crivelare, Lula Queiroga & Roberto Berliner. Registro de uma família que mora, vive e trabalha num circo. Assim é a vida de Charles, Zuleide, Gilberto, Cleide, Rogério, Claudio e Lobão, sete anões irmãos, descendentes do mítico e também diminuto palhaço Pindoba. Juntos formam o circo Pindorama, uma trupe que circula pelo sertão nordestino. Prêmio do Público Mostra Internacional de Cinema de São Paulo / Seleção Festival Internacional de Documentários de Amsterdã.
Tela Plana / 76 mins / Dolby Digital / Livre / em Digital


Sexta, 4 de Julho


16h30 - O Escafandro e a Borboleta 2a. Exibição
Lê Scaphandre et le Papillon (França/EUA, 2007), de Julian Schnabel. Com Mathieu Amalric, Emmanuelle Seigner, Marie-Josée Croze. Tela Plana / 112 mins / 12 anos / Dolby Digital / em Digital

18h40 - FACES 2a. Exibição
De John Cassavetes
Com Gena Rowlands.
Tela Plana / 130 mins. / Mono / 12 anos / em 35mm.

21h10 - Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto 2a. Exibição
(EUA, 2007), de Sidney Lumet. Com Philip Seymour Hoffman, Ethan Hawke, Marisa Tomei.
Tela Plana / Dolby Digital / 16 anos / em Digital.


Sábado, 5 de Julho
16h – O Encouraçado Potemkin 2a. Exibição
(Bronenosets Potyomkin, URSS, 1925) De Sergei Eisenstein. Tela Plana / 80 mins. / em 35mm / ATENÇÃO: filme mudo com intertítulos.

17h40 Do Outro Lado
2a. Exibição
(Auf der anderen Seite, Alemanha, 2007), de Fatih Akin. Com Nurgül Yesilçay, Baki Davrak e Hanna Schygulla.
Tela Plana / Dolby Digital / 14 anos / 122 mins / em Digital.

20h10 A Banda
(Bikur Ha-Tizmoret, Israel/França, 2007). De Eran Kolirin. Com Sazón Gabai, Ronit Elkabetz e Saleh Bakri. Diferenças culturais entre judeus e árabes rende um enfoque sem brutalidades na história de um grupo de músicos egípcios que vão tocar em Israel, mas desembarcam na cidade errada, no meio do nada. A interação desses homens com os moradores é delicada e às vezes muito engraçada. Prêmio Coup de Coeur mostra Um Certain Regard – Festival de Cannes 2007.
Tela Plana / 87 minutos / Livre / Dolby Digital / em Digital.

22h - CORAÇÃO S E L V A G E M
(Wild at Heart, EUA, 1990) De David Lynch. Com Nicolas Cage, Laura Dern, Willem Dafoe. David Lynch ganhou sua Palma de Ouro em Cannes com essa viagem romântica e ultra-violenta pelas estradas americanas, sempre seguindo a faixa amarela no chão rumo ao fim do arco-íris. Repleto de excessos surreais que quase nunca parecem gratuitos, Cage e Dern são dois apaixonados que fogem dos capangas enviados pela mãe dela, e sorte deles que há uma fadinha para iluminar o caminho.
Tela Larga / 120 mins / Dolby / 16 anos / em 35mm.

SESSÃO MEIA-NOITE
Diário dos Mortos
(Diary of the Dead, EUA, 2008), de George Romero. Com Joshua Close, Michelle Morgan. Enquanto produzem um filme de zumbi com orçamento zero, grupo de estudantes será obrigado a enfrentar mortos vivos de verdade em situações de vida e morte. Do mestre do gênero horror, George Romero, que desde A Noite dos Mortos Vivos (1968) comenta a sociedade americana usando o tema com grande efeito.
Tela Plana / Dolby Digital / 95 mins. / 16 anos / em Digital

Domingo, 6 de Julho

17h A Banda 2a. Exibição
(Bikur Ha-Tizmoret, Israel/França, 2007). De Eran Kolirin. Com Sazón Gabai, Ronit Elkabetz e Saleh Bakri.
Tela Plana / 87 minutos / Livre / Dolby Digital / em Digital.

19h Ondas do Destino 2a. Exibição
(Breaking The Waves, Dinamarca/França/Alemanha, 1996). de Lars Von Trier. Com Emily Watson, Stelan Skarsgard, Jean Marc Bar.
Tela Larga / Dolby SR / 160 mins / 14 anos / em 35mm

Buscando um Cinema Perdido

foto: Alexandre Belém

Kleber Mendonça Filho

cinemascopio@gmail.com


Na última terça-feira, Josias Saraiva Monteiro Neto, 20 anos, estudante de jornalismo, conseguiu um feito e tanto. Sem ser famoso, sem ter um filme, livro, disco, peça ou exposição prontos para apresentar, organizou uma coletiva de imprensa que terminou sendo um sucesso. Munido de organizados kits com press release e banco de fotos, articulou sozinho a atenção dos três jornais do Recife, que foram a um café para ouvir o que ele tinha a dizer. O evento inusitado talvez reflita a energia que esse cinéfilo tem no sentido de divulgar a obra de um cineasta desconhecido: seu avô, Pedro Teófilo Batista, que faleceu aos 59 anos de idade em 1989.

A energia algo contagiante de Josias pelo tema vem em parte da dificuldade de aceitar que nenhuma linha sequer tenha sido escrita sobre o trabalho do avô nos livros que abordam a história do cinema em Pernambuco. "Eu tinha dois anos de idade quando ele morreu, e cresci ouvindo as histórias na família".

"Acredito que nunca em Pernambuco alguém participou de maneira tão completa na cadeia de produção do áudio-visual como Pedro Teófilo Batista", disse. Nos anos 50, ele projetou arquitetonicamente, administrou e programou o extinto Cine Olympia, no Arruda. Nos anos 60 e 70, trabalhou nas TVs Tupi canal 6 e Jornal canal 2, onde fez reportagens para o Repórter Esso e ainda animações.

Foi roteirista, produtor e diretor dos seus dois filmes, Iracema - A Virgem dos Lábios de Mel e O Gigante Que Desperta, ambos, tristemente, inacabados. Ele próprio desenhava os cenários e projetava adereços, como foi observado em elaborados croquis trazidos por Josias e mostrados à imprensa.

Vários desses croquis impressionam. Um deles é uma planta, aparentemente detalhada de uma nau caravela, elemento que abre uma janela para entender o grau de ambição que era investido num modelo de cinema comercial de grande porte, e que seria realizado por pernambucanos num cenário de produção comercial inexistente.

Um panfleto publicitário de 1967 da Nacional Filmes do Brasil, do próprio Pedro Teófilo Batista, vendido na época ao preço de um cruzeiro para levantar fundos de produção, anuncia as filmagens de Iracema – a Virgem dos Lábios de Mel. Os números anunciados para o filme: "500 figurantes, milhares de efeitos especiais, centenas de atores, cenários naturais de rara beleza localizados na costa nordestina". Um corte especial do convés da caravela teria sido construído num estúdio do Bairro do Recife para as filmagens de O Gigante Que Desperta. "Há relatos de meus tios ainda crianças que lembram de visitar o estúdio e brincar no grande cenário", diz.

Uma questão que já virou meta de vida para Josias é encontrar os negativos desses dois filmes perdidos. Ambos foram fotografados em 35mm por Firmo Neto, fotógrafo referência na produção pernambucana, tendo sido ele mesmo um cineasta (Coelho Sai, de 1942, infelizmente também perdido). "Procurei no Mispe – Museu da Imagem e do Som de Pernambuco, no Teatro do Parque, Cinemateca Brasileira em São Paulo, que me confirmou a inexistência desse material lá".

No lado positivo, Josias encontrou há duas semanas os manuscritos de um roteiro e meticulosos 'storyboards', antes desconhecido ,intitulado A Ilha Perdida, sob uma nova produtora, a Filmerama, já no final dos anos 70.

Ouvindo Josias falar com tanta admiração e senso de resgate para com o trabalho de seu avô, é possível pensar num certo estigma que marca o imaginário do cinema feito em Pernambuco. Esse estigma é o da melancolia.

Desde os heróis do Ciclo do Recife, muitos esquecidos, passando pelo próprio Firmo Neto e seu histórico colapso nervoso e emocional na pré-estréia de Coelho Sai no cine Art-Palácio, na presença do então governador Agamenon Magalhães, é possível também lembrar de Mozart Cintra e seu longa concluído de 1975, Luciana – A Comerciária, exibido publicamente apenas uma vez, para a tristeza do realizador (falecido logo depois), e cujos negativos aguardam restauração na Cinemateca Brasileira. De outra forma, esse filme pernambucano que merece revisão está fadado ao esquecimento.

No caso de Pedro Teófilo Batista as histórias tornam-se mais complexas tomando o rumo do que mais parece ficção científica, aspecto que Josias narra com igual entusiasmo. Além das tentativas ambiciosas e quase concluídas no cinema, ele foi também vendedor, aviador e inventor.

Depois de um acidente de avião que quase o levou à morte, trabalhou numa alternativa para a gasolina, ainda nos anos 70. Patenteou uma bateria eletrolítica de oxigênio e hidrogênio e, na Conde da Boa Vista, em 1974, abriu uma "lanchonete automática", sem atendentes. Seu último projeto foi um "ortóptero", "um avião com asas móveis inspirado na libélula".

Atualmente, Josias registra depoimentos com uma câmera de vídeo e pretende fazer um documentário sobre Pedro Teófilo Batista. Também quer editar um livro e montar uma exposição com farto material dos arquivos da família. Ele espera que com esse espaço na imprensa atrair antigos colaboradores que possam trazer informações sobre os filmes, e sobre o trabalho do seu avô.

O envolvimento de Josias com todo esse material tem muito para gerar frutos. Nos últimos dez anos, Marcelo Gomes transformou as histórias do seu tio-avô Ranulpho vendendo remédios no sertão no longa Cinema Aspirinas e Urubus, e Marcos Enrique Lopes deu um curta metragem ao filósofo Evaldo Coutinho, então nonagenário (faleceu em 2006), resgatando uma obra marcante e que permanecia obscura.

Friday, June 20, 2008

Get Smart



Kleber Mendonça Filho cinemascopio@gmail.com

A série Agente 86 (Get Smart, produzida entre 1965 e 1970) marcou a televisão da época, satirizando filmes que exploravam a Guerra Fria e o mundo de agentes secretos, bugigangas eletrônicas e cápsulas de cianureto. Com aquele humor típico de Mel Brooks, o autor que fez Jovem Frankenstein e Alta Ansiedade (a série foi criada por ele e Buck Henry), o agente Maxwell Smart usava seu sapato como telefone e a entrada para a sua base de operações tinha uma série de portas corridas de ferro que abriam e fechavam, imagem clássica da cultura pop. E era só uma questão de tempo, o cinema moderno foi buscar naquele humor mais uma possibilidade de franquia com a adaptação de Agente 86 (Get Smart, EUA, 2008), uma bobagem que sai ganhando mais por simpatia do que por mérito.

A fonte de simpatia aqui chama-se Steve Carrell, excelente comediante americano com cara de gerente de banco. Seu humor mostra-se mais eficaz na sua expressão de "pânico tranqüilo", vista com muita graça na série The Office ou no excelente O Virgem de 40 Anos. Transitando no mesmo território de sátira espiã explorado nos três filmes Austin Powers, Carrel dá o seu próprio tom, sendo ele a perfeita substituição ano 2000 para a fantástica cara de panaca de Don Adams (falecido há três anos), o comediante da série original.

Na época, o humor tinha como aliada a tensão constante entre os soviéticos e os americanos, algo que hoje faz parte da história. As bugigangas engraçadas (expostas de maneira melancólica no início do filme), hoje, de certa forma, fazem parte do dia a dia de todos nós, embora operadoras de celular ainda não tenham adotado sapatos-fone.

Com a CONTROL 'oficialmente' desmantelada, é curioso que o filme, situado no presente, explore literalmente o que sobrou da guerra fria, talvez a fonte número um de confusões para filmes do tipo, armas nucleares soviéticas que vão parar nas mãos erradas.

Com o tom absurdo intacto, a sede 'extra-oficial' da CONTROL é um ambiente hi-tech onde Smart é apenas um burocrata num escritório onde a nobreza profissional está nos agentes. Dois nerds cuidam das novas bugigangas que não funcionam muito bem (o "cone do silêncio" é a mais engraçada na sua incompetência), há o agente bam-bam-bam (Dwayne Johnson, The Rock, um ogro sempre engraçado, creio que não leva sua própria imagem a sério), seu chefe (Alan Arkin) e a agente 99 (Anne Hathaway, de O Diabo Veste Prada), que fez cirurgia plástica recente radical (outra boa piada).

No auge de uma crise, Smart é promovido para agente e lá vai ele com 99 para Moscou, atrás de um novo carregamento de bombas nucleares roubadas por Siegfried (Terrence Stamp), o ator inglês dono de rosto e presença incríveis, nos últimos anos ganhando dinheiro com esse tipo de coisa.

Com piscadela de olho para James Bond numa seqüência de pára-quedas copiada, ao que parece, de 007 Contra o Foguete da Morte (Moonraker, 1979), e vilão de dois metros e tanto de altura, a aventura de Smart engata um agradável piloto automático que os levará a um atentado terrorista em Los Angeles contra o sonolento presidente dos EUA (James Caan, divertindo-se).

Curioso que nas duas tentativas de usar objetos do passado, uma funciona e a outra não. Bill Murray faz aparição surpresa dentro de uma árvore e o final reserva a já esperada perseguição absurda seguida de explosão. Nível de gargalhadas baixo, com tendência para a leseira, embora, de alguma forma, o filme honre minimamente a idéia de diversão.

Thursday, June 19, 2008

"As Máscaras de Ar Não Funcionam"



Esse vídeo foi feito por Leo Lacca (realizador pernambucano de Ventilador, Décimo Segundo e co-diretor de Eisenstein, com Tião e Raul Luna) como encomenda para o programa Zoom, da TV Cultura (que levou-o ao ar sábado passado).

É uma visão bem interessante de Cannes, vejam, festival de imagens que lhe deixa num estranho estado de percepção aguçada. Lacca é da Trincheira Filmes, que estava em Cannes com Muro, de Tião, que passou na Quinzena dos Realizadores, e ainda ganhou prêmio. Algumas imagens de Muro são usadas.

Sunday, June 15, 2008

What's 'Happening?'


Kleber Mendonça filho
cinemascopio@gmail.com

Desde a trajetória errante de Orson Welles que uma maneira de confirmar alguns cineastas americanos como auteurs é ver quem banca seus filmes, já nos créditos de abertura. O dinheiro hollywoodiano para uma carreira de sucesso logo torna-se escasso com uma seqüência de filmes não tão bem sucedidos, mas que constroem filmografia autoral sólida. Woody Allen vem associando-se a dinheiro estrangeiro, seu último filme, Vicky Cristina Barcelona, é fruto de parceria com a TV espanhola Telecinco. O mesmo com Gus Van Sant, filmando com dinheiro francês, e agora, mais notável ainda, M. Night Shyamalan, o wonder boy de O Sexto Sentido não mais do que nove anos atrás. Seu último filme, o thriller retrô-apocalíptico Fim dos Dias (The Happening, 2008), que estreou sexta-feira, traz vinheta da UTV, conglomerado multimídia indiano.

Juntando isso à reação sonoramente negativa que o filme vem tendo internacionalmente, ecoada junto de mim numa sessão cheia de público sexta à noite, no multiplex UCI Recife, observamos a construção gradual de uma obra que encolhe a cada filme dentro de uma perspectiva de projeto comercial de cinema. Ironicamente, como obras de expressão cinematográfica, os filmes de Shyamalan , independentes de análises de mercado, revelam-se curiosidades cada vez mais certas de si mesmas.

Fim dos Dias é mais um cine-produto onde o mundo e a raça humana estão sob ameaça de extinção. Só esse ano tivemos, em janeiro, Eu Sou a Lenda (vírus mortal), em maio via Cannes (estréia marcada para setembro) passou Ensaio Sobre a Cegueira, onde a raça humana perde a visão; desta vez alguma toxina, provavelmente liberada pelas plantas, leva as pessoas a enfiar seus proverbiais sorvetes nas testas. Para máximo efeito cênico, muitos desses atos resultam em suicídios dementes e algumas seqüências inéditas de horror filmado. Mostrar um ser humano tirando a própria vida é chocante, mostre ações coletivas disso e temos o horror mais perturbador.

O vírus vai pelo ar, e logo veremos a interessante imagem política de americanos correndo com medo até do vento. O personagem guia é Elliot (Mark Wahlberg), um professor que fala sobre questões ambientais na sala de aula, e há uma citação a Einstein e abelhas no quadro negro, parte de um semi-elaborado McGuffin. Quando a suposta peste ataca em Nova York, todos na Filadélfia correm para o campo, o professor com a esposa (Zooey Deschanel), um colega (John Leguizamo) e a filha pequena.

Tudo isso é muito interessante dentro de uma sensação forte de déja vú, algo que marca boa parte da obra de Shyamalan, assombrada descaradamente na sua raiz por Rod Serling e Steven Spielberg. Mesmo assim, me vi fisgado desde o início, e não consigo entender realmente nada de como o público funciona hoje em dia. O tom fantastique dessa narrativa não envolve o chamado "público médio"? O filme é lento para os padrões semanais de lançamento? O realismo da situação não é sensacional o suficiente?

Há um filme brilhante muito pouco visto chamado Le Temps du Loup (2002), de Michael Haneke (Caché), onde a idéia de "filme catástrofe" é posta pelo avesso, com foco firme na perda de controle do elemento humano via ausência de regras sociais, começando pela eletricidade.
Shyamalan segue os rastros de Haneke e também filma esse drama externo cujos efeitos são sentidos na intimidade de um enfoque próximo aos personagens. Um conflito com arma de fogo entre ocupantes de uma casa distante (ver cena de Le Temps du Loup) parece uma adaptação de incidente semelhante de Le Temps du Loup, e há também caminhadas em campos rurais abertos, espaço repleto de apreensão. Spielberg havia tentado isso em Guerra dos Mundos, mas não seria Spielberg se não misturasse o intimismo com o mega-ultra-espetacular.



Diferente das imagens cortantes de Haneke, o apocalipse de Shyamalan parece feito de um realismo de plástico, como se uma presença muda de Robert Bresson estivesse ali por trás desdramatizando boa parte do elenco (Wahlberg e Deschanel, 'bressonianos', encontram cenário perfeito na cena da "casa modelo"). Em alguns dos piores/melhores momentos (moedor de grama), lembrei do Maximum Overdrive (1986), de Stephen King.

A presença dos tons de Serling de Além da Imaginação/The Twilight Zone (transeuntes estáticos na rua, a tal "casa modelo", a velha que há anos não sabe nada do mundo) ganham relevo enquanto explicações ficam em terceiro plano, finalmente livrando o filme de uma acusação que ele vem recebendo: a de defender uma causa ecológica. Tudo me passou bem mais como um ponto de partida crível, e não um eixo temático real a ser respeitado.

Shyamalan, cidadão americano de origem indiana, surgiu com o sucesso fenomenal de O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999), bem feita história de trancoso cujo final de conceito tradicional no gênero parece ter pego milhões de surpresa. Como em Hollywood a liberdade de um diretor é tão grande quanto a bilheteria do seu último filme, Shyamalan partiu livre e leve para fazer Corpo Fechado (Unbreakable, 2001), outro interessante exercício de um diretor (já mimado) que relê a cultura pop, sucesso (menor) que atraiu primeiras distensões.

Sinais (Signs, 2002), tendo como cenário uma invasão alienígena, selou para muitos a impressão de que seria "um novo Spielberg". Depois veio A Vila (The Village, 2004), curioso ensaio sobre a sociedade moderna que marca um primeiro distanciamento do modelo original de cinema claramente comercial, algo selado com o corajosamente nulo A Dama da Água (Lady in Water, 2006).

Com Fim dos Dias, esse diretor chega a momento crucial da sua trajetória, e esse momento vem já com classificação "R" nos EUA, pista para tentar enxergar uma necessidasde de mudança por parte de Shyamalan que, até agora, trabalhava sempre denro dos limites de segurança comercial trazidos pelo PG-13.

Fica a sensação de que a história se repete. Como Welles, John Carpenter ou Brian de Palma, Shyamalan parece perder espaço, e vai filmando com a área disponível que lhe dão, um autor ambicioso cujo poder de fogo comercial está encolhendo e que, mesmo assim, ainda consegue literalmente batizar seu filme de "evento" (titulo original, The Happening), não exibí-lo para a crítica como estratégia mundial de lançamento e ainda fazer uma interessante proposta de blockbuster que terminará não sendo.

Seu filme, a logomarca de empresa indiana, a agressividade das imagens e a reclamação geral ao final da sessão lembram o quanto aprovação popular e dinheiro no caixa pouco têm a ver com a ressonância de uma obra pessoal na cabeça.

Filme visto no UCI Boa Viagem, Junho 2008