Monday, August 4, 2008

Janela Internacional de Cinema do Recife

Queremos ver seu(s) filme(s). O CinemaScópio está organizando um festival no Recife, de perfil internacional. A idéia é apresentar retrato projetado fiel do cinema hoje, não importa o formato, do Brasil ou de fora. Foco será o curta metragem, mas não descartamos a possibilidade de exibir alguns longas.

Para maiores informações, visite o site www.janeladecinema.com.br.

Inscrições abertas até 12 de setembro, para o Brasil e mundo.

Top 10 Multiplex no Brasil 2007


1) Iguatemi Salvador – BA - (UCI/Orient) – 1.286.391
2) New York City Center – RJ (UCI) – 1.212.435
3) Santa Cruz – SP (Cinemark) – 1.091.351
4) Iguatemi Fortaleza (CE) – 1.045.175
5) Kinoplex D. Pedro Campinas (Ribeiro) – SP – 946.733
6) Hoyts Guarulhos (Hoyts) – SP – 938.827
7) Pier 21 Brasília (Cinemark) - DF – 915.697
8) Central Plaza (Cinemark) – SP – 857.058
9) Recife (UCI-Ribeiro) – PE – 851.122
10) Eldorado (Cinemark) – SP – 849.768

Fonte: Filme B / em número de espectadores

Em 10 Anos, o Cinema Saiu da Rua e Foi ao Shopping


Alien no São Luiz do Recife, em 1979. Vida na rua.


Cinemark em Aracaju, Sergipe, Abril 2008

por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Esse mês de agosto marca os dez anos da chegada do sistema multiplex no Recife, uma reconfiguração de costumes para o hábito do ir ao cinema, não só localmente, mas em todo o país, seguindo revolução mundial. Em 19 de agosto de 1998, a empresa inglesa UCI, em parceria com a brasileira Luiz Severiano Ribeiro, abriu o UCI Ribeiro Boa Viagem no Shopping Recife, com dez salas. Um mês depois, a mesma UCI Ribeiro inaugurou mais oito, no Shopping Tacaruna. O surgimento de 18 salas em um mês sugeria uma recuperação contra a perda de cerca de 30 cinemas espalhados por toda a cidade, inclusive nos subúrbios, ao longo de 30 anos. Revela também a rapidez das mudanças na própria experiência social da sala de cinema.

As principais alterações nesses dez anos incluem o cinema 100% anexado a centros de compra e o fim da idéia de salas de projeção nas ruas, modelo que dominou todo o século 20. Houve também renovação técnica de equipamentos com a chegada de um padrão internacional de exibição via globalização, muito embora a excelência ainda seja elemento raro num sistema que comporta-se como uma máquina gigante que chama a atenção pela mecanicidade, e não tanto pelo esmero.

Palácios do passado deram lugar à praticidade lisa de uma dezena de salas menores que, muitas vezes, oferecem (em conjunto) número semelhante de poltronas de um desses grandes cinemas do passado que sumiram. O complexo do Tacaruna, por exemplo, com 1362 poltronas nas poito salas oferece praticamente a mesma quantidade de assentos do extinto Cine Art-Palácio, no centro da cidade.

Essa sub-divisão observada do espaço para o cinema parece traduzir o fracionamento da atenção que a experiência cinematográfica vem sofrendo ao longo das últimas décadas. Do seu reino absoluto como templo da imagem em movimento até os anos 50/60, o cinema encontrou na televisão concorrência séria, o que já levou ao fim de algumas salas e à divisão arquitetônica de outras.

Dos anos 80 para cá, o vídeo-cassete, a TV a cabo, o DVD, videogames, uma internet cada vez mais multi-mídia e também a pirataria têm roubado a atenção de filmes, o que talvez explique a fragmentação do ir ao cinema percebida no multiplex.

45 SALAS - Os 18 cinemas inaugurados em 1998 foram os primeiros de um total de 39 cinemas comerciais abertos ao longo da última década na região metropolitana. Contando os dois UCIs, surgiram ainda as seis salas do Shopping Boa Vista, as três do Cine Rosa e Silva e as 12 do Box Guararapes. Com previsão para o início de setembro, a cidade terá mais seis cinemas no novo complexo que o Grupo Severiano Ribeiro abre (também com a UCI) no Shopping Plaza, em Casa Forte, trazendo o número para 45 novas telas, em dez anos.

Para Pedro Pinheiro, programador do Grupo Severiano Ribeiro desde os anos 80, e que trabalhou com o sistema antigo dos cinemas de rua e com o multiplex, "o público pode estar mais dividido entre os afazeres e lazeres da modernidade, mas os números são parecidos, mesmo que sejam produzidos de maneira diferente".

Prova disso foi refletida por dados divulgados há duas semanas relacionados à bilheteria do primeiro final de semana de Batman – O Cavaleiro das Trevas, o grande sucesso da atual temporada. O novo Batman repete, na verdade, o sucesso do velho Batman, lançado em 1989. Lançado em 549 cinemas, o novo filme de Christopher Nolan foi visto por 775 mil espectadores, número semelhante à abertura do Batman de Tim Burton, visto por 733 mil espectadores há 19 anos, mas em 145 salas. "Tínhamos menos salas antigamente, mas elas eram maiores", explica Pinheiro.

Ele lembra que o cine São Luiz chegou a fazer 34 mil espectadores por semana, ainda nos anos 90. "Atualmente, o multiplex Recife, em Boa Viagem, tem média de 15 mil espectadores por semana, o Tacaruna dez mil e o Boa Vista cinco mil. No passado, pensava-se em termos de um cinema, agora pensa-se no complexo de salas", completa.

Segundo dados divulgados esse ano pela publicação Filme B, a principal análise jornalística do mercado de cinema no Brasil, três dos complexos instalados em Pernambuco constam no Top 30 brasileiro com as maiores freqüências de público. Em primeiro lugar está o multiplex UCI Iguatemi, em Salvador, com mais de um milhão e duzentos mil ingressos vendidos em 2007.

O UCI Ribeiro do Shopping Recife ocupa o 9o lugar no ranking, com 851,122 espectadores. O Box Cinemas do Shopping Guararapes é o segundo mais freqüentado de Pernambuco (21o no ranking nacional) com público de 696,012 ano passado, e o Tacaruna vem em terceiro lugar (33o na lista), tendo vendido 619,028 ingressos.

Complexo de Sala


Aluga-se Moças, 1982, Cine Moderno, fechado em 1997.

Não foi por acaso que a chegada do multiplex em 1998 viu o adeus aos últimos representantes do chamado "cinema de rua" no Recife. O Veneza, que nos anos 70 e 80 foi uma das salas mais luxuosas do Brasil, fechou em outubro de 98, um mês depois da inauguração do multiplex Tacaruna.

O Veneza entrou em decadência nos anos 90 com a abertura, em dezembro de 1988, dos Recifes 1, 2 e 3, salas que serviram de ponte entre os cinemas de rua e os multiplex. Eram vizinhas do Shopping Recife e localizadas na zona sul, área carente de cinemas na época. Ironicamente, os três Recifes foram fechados em setembro de 98, um mês depois da inauguração do então novo multiplex vizinho, revelando o aspecto predatório do mercado. Descarta-se o que é velho e investe-se no que é novo.

Nos anos 90, o centro da cidade perdeu quase todas as salas de rua sobreviventes (Trianon e Art-Palácio fecharam em 1992, Moderno em 1997) que reinaram imponentes desde os anos 30 e 40. Ao longo das décadas anteriores aos seus fechamentos, permaneceram ativos enquanto os cinemas de bairro fecharam, todos eles.

Na rua, e sobrevivendo já no ano 2000 com suas 1200 cadeiras (o balcão passava boa parte do ano fechado), ficou apenas o São Luiz, que terminou também fechado em 2006. Permaneceu sozinho no centro contra todos os outros cinemas comerciais instalados em shoppings. Agora, aguarda reabertura via incentivos do Governo do Estado. Obviamente que a noção de "velho" é relativa.

"O São Luiz de fato chegou a fazer 34 mil espectadores por semana, antes mesmo de fechar. Isso, claro, não significa que tínhamos sempre esse movimento. O cinema funciona em fases, como este mês de julho que é um dos melhores do mercado em anos recentes com sucessos como Kunf Fu Panda, Hancock e Batman", diz Pedro Pinheiro.

Como programador, ele lembra que era possível desenvolver, através da programação, personalidades para cada sala, ou um perfil. "Lembro que o Moderno era mais picante, ou passava filmes mais fortes de terror ou policial. O São Luiz era mais aventuresco e o Veneza filmes classe A, tanto no sentido alternativo como nos grandes lançamentos de qualidade. Hoje em dia, programa-se pelo tamanho da sala", diz. K.M.F

Do Cinema Direto Para a Promoção de Lingerie



Emmanuelle 'A Verdadeira' (com Sylvia Kristel), Art-Palácio, Recife, 1980, época em que o filme de 1974 foi finalmente liberado pela censura "sem cortes".

Conversando com alguns amigos cinéfilos, surgiram algumas dessas idéias.

Rodrigo Costa, carioca, lembra que no Rio há o exemplo do Arteplex em Botafogo, que é um "multiplex de rua", algo raro na configuração atual. Para ele, "O multiplex melhorou a qualidade de projeção e som. O que veio de ruim é você ter que entrar num shopping para ir ao cinema. Isso denota como o cinema é, cada vez mais, uma diversão que perdeu o contato com o cotidiano, com a rua. As filas dos cinemas de rua, você as via passando de ônibus em frente aos cinemas. Isso acabou".

Numa região tropical, a migração de atividades populares antes oferecidas na rua para espaços fechados e privatizados reflete o aspecto "caracol" de uma sociedade que vive com medo, trancada num mundo artificial e refrigerado. No Recife, a idéia de "rua" é cada vez mais vista como algo a ser evitado, e a noção de proteção leva a sociedade como um todo a se fechar, o que me faz lembrar da população do Axiom, em Wall-e.

"Poder ir ao cinema e depois resolver algo no shopping é muito bom, sim. Também gosto de poder dar uma volta após o filme, enquanto se decide para onde ir em seguida, com calma", me disse o estudante Bruno França, 26 anos.

Já Katarina Peixoto, 35 anos, cinéfila pernambucana que mora em Porto Alegre, ela sente o impacto da mudança pesando os dois lados. "Na década de 90, a violência do Recife foi tornando a experiência de ir aos cinemas do centro algo lamentável. Hoje, no entanto, num multiplex de shopping, é como sair de um museu e cair numa promoção de lingerie".

Para Francisco Lacerda, outro cinéfilo pernambucano, "percebo uma separação clara de públicos, pelo preço. No multiplex do Shopping Boa Vista, mais popular, preços mais acessíveis, vejo o mesmo público que freqüenta(va) o Parque, São Luiz e Veneza. Já nos multiplexes Recife, Tacaruna, Guararapes, é classe média e média alta.

Ele sente uma diferença de postura entre esses públicos. "Ambos são barulhentos, mas o popular faz barulho 'com' o filme, interage, se diverte. Já no outro, parece que está ali obrigado, entediado, fala no celular, acho que vem do ato robótico de ir ao cinema no final de semana, parece que eles não queriam realmente estar ali", pondera.

As mudanças mais óbvias ao longo dessa década foram uma noção de qualidade importada. Dos cinemas de rua equipados com projetores e sistemas de som ultrapassados made in Brazil vieram projetores e amplificadores estrangeiros, som Dolby e também poltronas largas com porta copos, desenhadas para estimular uma outra filosofia lucrativa transplantada para a cultura brasileira: o consumo de quantidades industriais de pipoca, nachos, chocolates e refrigerantes, rica fonte de faturamento para as empresas. K.M.F

PS:


Eu recebi uma cópia PiratoScope de Iron Man (que eu perdi nas salas), e com 20 segundos de filme, vi esta que deve ser a imagem síntese do cinema multiplex hoje: FILME DE SUPER HERÓI + MCLANCHE FELIZ COM COMBO DE PIPOCA. Desacelerei 40% para ficar mais style, olhem bem.