Saturday, May 15, 2010

Vídeo KMF da Sessão de 'O Leopardo'

Cannes Video #2 - 'Il Gatopardo' from Kleber Mendonça Filho on Vimeo.

O Que Vi Até Agora

L'HOMME QUE CRIE (competição), Mahamat-Saleh Haroun - ****
RUBBER (Semana da Crítica), Quentin Dupieux - ***
SHIT YEAR (Quinzena), Cam Archer - ***
YOU'LL MEET A TALL DARK STRANGER (Hors Concours), Woody Allen - ***
ANOTHER YEAR (competição), Mike Leigh - *** 1/2
CHAT ROOM (Certain Regard), Hideo Nakata - Abandonei aos 44 mins, detestei.
IL GATOPARDO (Cannes Classics), Visconti - *****
AURORA, Cristi Ouiu - *** 1/2
WALL STREET - MONEY NEVER SLEEPS, Oliver Stone - *** 1/2
O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICA, Manoel de Oliveira *****
MARTI, DUPA CRACIUN (TUESDAY, AFTER CHRISTMAS), Radu MUNTEAN ****
RIZHAO CHONGQING (CHONGQING BLUES), WANG Xiaoshuai ***
THE HOUSEMAID, IM Sangsoo ***
ROBIN HOOD, Ridley Scott **

Friday, May 14, 2010

Sessão Histórica de 'O Leopardo' Restaurado


por Kleber Mendnça Filho
cinemascopio@gmail.com


Em Cannes, você acha que vai apenas ver tranqüilo a versão restaurada de O Leopardo, de Visconti, na sala Debussy, e nota que a sessão não será normal já pelo cheiro de perfume que abala o ar. Aí percebe que, na fileira imediatamente atrás de você, papéis marcam poltronas com os nomes de Alain Delon, Claudia Cardinale e Martin Scorsese...

Para quem tem relação próxima com o cinema (eu e todos vocês que lêem isso aqui), a sensação não é careta. O cinema gera um sentimento mitificador sem igual, e se estamos falando de um clássico absoluto dessa arte como ‘Il Gatopardo’ a distância só parece aumentar. Só que, ao olhar para trás, você vê Alain Delon sentado vendo o mesmo filme, e Cardinale, filmada por Visconti, sendo vista por você sem lentes, ou Scorsese, que fez ‘The Age of Innocence’ pensando em Visconti, reprocessando O Leopardo. É tudo muito possível no cinema, e muito próximo no cinema, e distante demais.

Foi uma sessão histórica, e rever o filme não teria preço se fosse pago. Entre muitos, o momento que mais me chamou a atenção é a cena onde o príncipe de Burt Lancaster, sentindo-se velho e decadente no meio da grande festa, é rejuvenescido pela beleza indescritível de Cardinale, noiva do seu sobrinho, Delon. Lancaster já faleceu, Delon e Cardinale já estão velhos, talvez em algum momento se sentindo como aquele príncipe.

Qualquer excesso, perdoem, mas acabo de sair da sessão e o tema é caro ao Sr. Visconti. Foi muito bom.

Aurora (Un Certain Regard)



por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Cannes continua sendo o ponto zero hoje no mundo para o cinema romeno, e a mostra Un Certain Regard nos traz mais duas provas de que esses romenos parecem ter dominado o mercado do realismo. Eu só acho interessante que num mundo cada vez mais 3D, será que existe um mercado para esse realismo tão afiado? Marti, Dupa Cracium (Terça, Depois do Natal), de Radu Muntean, e Aurora, de Cristi Puiu, foram exibidos quinta e sexta.

A atual safra premiadíssima de cinema romeno, na verdade, como todos já devem saber, teve início com um filme maravilhoso de Puiu, exibido em Cannes 2005, A Morte do Sr. Lazarescu, que infelizmente não encontrou distribuição no Brasil. Puiu levou a Câmera de Ouro naquele ano com a linda história de um homem idoso e doente, numa noite de Bucareste. Seu segundo filme foi muito esperado e fica o lamento geral que seja uma decepção.

Está de volta o tratamento processual que parece unir todos os filmes romenos (Leste de Bucareste e Policia Adjetivo, de Corneliu Porumboiu, 4 Meses 3 Semanas 2 Dias, de Cristian Mungiu), vindo de uma câmera perspicaz que acompanha o personagem num determinado ambiente. O problema é que em Aurora, Puiu leva o conceito ao ponto da exaustão, ainda mais a serviço de um olhar que já conhecemos. Tematicamente, há ainda sensação de déja vu.

É essencialmente a história de alguém que mata, algo que Kieslowski filmou tão bem (e em menos da metade do tempo) em Não Matarás, ou Haneke (usando vetores diferentes, é verdade) em algo como Benny’s Vídeo.

Em Aurora, Puiu pede demais do espectador ao nos fazer acompanhar um homem recém divorciado, infeliz, perambulando por Budapeste e matando, ao longo de três horas de projeção quatro pessoas. Difícil não lembrar que o título internacional de Não Matarás é A Short Film About Killing (Um Filme Curto Sobre Matar), e que Puiu fez um filme longo sobre a mesma coisa. Muito bem filmado, com um final ainda mais lacônico que parece sugerir que a sociedade é um lugar frio e indiferente para se viver, Aurora talvez seja a minha primeira real decepção vinda da Romênia.

Filme visto na Debussy, 14 de Maio 2010, Cannes

Marti, Dupa Cracium (Un Certain Regard)


por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


De volta à expressividade pessoal que faz os romenos tão bons, temos Terça, Depois do Natal, que poderá ser discutido a partir de agora em termos de como filmar a intimidade das pessoas. Uma referencia, especialmente na raiz temática “casamento”, sempre foi Ingmar Bergman, mas Muntean consegue deixar marca própria nessa linda/terrível história sobre o fim de um casamento.

O marido tem uma filha e tem também uma amante alguns anos mais jovem que a esposa. Eu tinha visto o filme anterior de Muntean – Boogie, passou na Quinzena em 2008 -, bom filme que fica menor junto desse. Já analisava relações de traição, responsabilidade, relacionamento, tudo muito bem filmado, atuado e vivido.

Num filme onde o cinema é tão íntimo dos personagens, vale dizer que o barulho da câmera faz parte da cena onde homem e mulher sussurram um para o outro, ou gritam um com o outro. E é ainda um filme onde a cena final não pode ser esquecida. Ela sintetiza não apenas a cumplicidade entre pessoas, mas entre a câmera e nós mesmos.

Filme visto na Debussy, Cannes, 13 Maio 2010

Wall Street - Money Never Sleeps (hors concours)


por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Foi nos primeiros meses de 1988 que eu vi no Cinema São Luiz (Recife) Wall Street – Poder e Cobiça, filme de Oliver Stone, na época ainda gozando do sucesso de Platoon. O filme, enxuto, tenso, com um sólido senso moral, falava sobre os EUA daquele momento, dominado pela cultura yuppie da era Reagan. Hoje, parece o tipo de filme que não vemos mais em Hollywood, obra adulta para adultos, e que só agora, 22 anos depois, ganha uma continuação, Wall Street – Money Never Sleeps (O Dinheiro não Dorme). Passou ontem em Cannes em pré-estréia mundial fora de competição. Tem estréia no Brasil em setembro.

Foi o filme do dia, em termos de mídia, uma das poucas produções Hollywood esse ano no festival, para a alegria de uma imprensa faminta por filmes grandes cheios de celebridades num cardápio onde predominam pequenos filmes autorais de países como a Romênia, a Coreia ou mesmo a França. Aliás, como bem disse o inglês Mike Leigh (em competição esse ano outra vez com Another Year), numa entrevista publicada ontem na Hollywood Reporter, “os americanos fingem que, mas, na verdade, não entendem Cannes”.

E os jornalistas, americanos ou não, estavam felizes ontem com a presença de Stone, Michael Douglas (que ganhou seu Oscar de ator por Wall Street), Josh Brolin, Shia LaBeouf, Frank Langella e o produtor Edward Pressman, na coletiva de imprensa.

Douglas, que interpretou o urubu de Wall Street Gordon Gekko, está de volta no filme novo, que começa com Gekko saindo da prisão por crimes cometidos nos anos 80. Dos seus artigos pessoais recuperados na saída, um gigantesco celular ilustra bem a passagem do tempo e dos costumes. São de Gekko/Douglas as melhores falas dessa continuação, como “nos anos 80, ganância era uma coisa boa, hoje ela foi legalizada”.

É curioso observar que, se o primeiro filme traçava perfil de um estado de espírito político na sociedade americana na época, nesse novo sobressai-se antes de tudo um reflexo do mercado atual de cinema. Se no primeiro, Douglas dividia o filme com Charlie Sheen, agora Douglas está no filme como passageiro. Nosso herói é interpretado por LaBeouf (Transformers), ator amigável para platéias jovens que os produtores claramente almejam com o tom censura 13 anos (o PG-13 de Hollywood) do todo.

Na verdade, o trabalho de LaBeouf nesse novo Wall Street repete o que ele mesmo fez em Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, ou seja, ser o meio campo entre os adolescentes e um grande astro de 20 anos atrás, agora grisalho.

No entanto, o filme não deve ser desprezado. Stone, o principal cronista dos EUA, talvez em toda a história de Hollywood, sempre lidando com Grandes Temas em letras garrafais (Vietnã, anos 60, 11 de Setembro, Nixon, política externa, Bush, etc) mais uma vez retrata essa sociedade numa época em que a informação é tudo o que há. Seu filme é sobre o poder assumindo a forma mutante da informação, o que nos leva às aspas de Russel Crowe na coletiva de Robin Hood, no primeiro dia de Cannes, e talvez ao novo Godard, Film Socialisme.

Stone chega a encher a tela de letrinhas, números e efeitos digitais (uma bolha de sabão ilustra o efeito... er... ‘bolha estourada’ da economia) que parecem coisa de filme 3D (o filme é 2D). Há jargões técnicos e a trama, vez ou outra, soa como uma língua estrangeira não dominada, embora o roteiro se esforce para trazer tudo para o térreo. Susan Sarandon, por exemplo, faz a mãe do garoto, endividada por especular com imóveis.

De qualquer forma, passa batido esse pequeno drama maternal se comparado aos conflitos entre o herói do filme original, interpretado por Charlie Sheen (reaparece numa ótima e cínica ponta), e seu pai (Martin Sheen), um dos pontos mais fortes daquela obra. Vai-se também um certo clima de cinema americano ‘grand public’ que não se faz mais (o Wall Street original) com os ‘post its’ desse novo na idéia de família. Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme ou O Dinheiro Não Dorme Nunca termina sendo mesmo o retrato desse tempo agora.

Filme visto no Lumiere, Cannes, 14 de Maio 2010

Thursday, May 13, 2010

O Que eu Vi Até Agora

AURORA, Cristi Ouiu - *** 1/2
WALL STREET - MONEY NEVER SLEEPS, Oliver Stone - *** 1/2
O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICA, Manoel de Oliveira *****
MARTI, DUPA CRACIUN (TUESDAY, AFTER CHRISTMAS), Radu MUNTEAN ****
RIZHAO CHONGQING (CHONGQING BLUES), WANG Xiaoshuai ***
THE HOUSEMAID, IM Sangsoo ***
ROBIN HOOD, Ridley Scott ** 1/2

Godard aspas

A frase mais comentada em Cannes, via edição publicada da revista 'Les Inrockuptibles', foi “Autor não tem direito, autor só tem dever!” O encontro de Godard com a imprensa semana que vem, em Cannes, deverá ser um dos momentos mais importantes do festival.

The Housemaid (competição)


por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Na competição, o coreano The Housemaid (a Empregada Doméstica), de Im Sangsoo, conta história perfeitamente escabrosa entre ricos e pobres, sobre a jovem titular que trabalha numa mansão. Ela passa a ter caso com o patrão milionário para o desgosto da esposa grávida e a sogra. Poderia ser o filme brasileiro que não tem sido feito, talvez pelo fato de o material lembrar qualquer coisa entre Nelson Rodrigues e uma novela das oito. O filme, no entanto, é cinemão Scope, cada plano uma alegria para o diretor.

Eu fiquei dividido entre não gostar da sensação constante de marxismo simples onde ricos são ruins e pobres têm bom coração e o interesse geral pelo material. É algo que dissipa-se pela pura energia de Im Sangsoo. É a riqueza generalizada desses filmes coreanos, vide Oldboy, Hospedeiro, Mother, Thirst, etc.

Sangsoo parece pegar emprestado pelo menos duas deixas de A Profecia (cena, elemento de construção, não tematicamente), o thriller de 1976 dirigido por Richard Donner. Esse jovem diretor coreano esteve em Cannes em 2005 com o igualmente energizado The President’s Last Bang, que talvez seja bem melhor, reconstituição sanguinolenta de um golpe de estado em 1980, em Seoul.

Como sempre em tratando-se de coreanos, eles não são nunca chatos, e é importante ressaltar uma certa energia sensual nesse filme e um final WHATDAFUCK - HÃ???!!! que parece elevar alguns graus acima o que já estava me entretendo. Eu achei que seria vaiado, foi até bem aplaudido. Parece que a energia instiga.

Filme visto na Debussy, Cannes, 13 Maio 2010

O Estranho Caso de Angélica (Un Certain Regard)


por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Da tranqüilidade do primeiro dia, Cannes pulou para a quarta marcha hoje. Dois orientais chamaram a atenção, o melodrama chinês sobre pais e filhos Chonqing Blues, de Wang Xiaosuai, e o nunca chato coreano The Housemaid, de Im Sangsoo, uma luta de classes numa mansão.

No entanto, quem não pára de roubar a cena em festivais desse porte a cada novo pequenino-grande filme é Manoel de Oliveira, que estreou mundialmente O Estranho Caso de Angélica, apresentado na paralela Un Certain Regard.

Oliveira estava na coletiva de imprensa do seu filme, tranqüilo, discutindo cinema, e é sempre bom enfatizar que ele faz isso aos 101 anos de idade. “A morte é uma certeza, e eu não tenho medo dela”, afirmou.

Indo direto ao ponto, seus filmes proporcionam experiência sem igual que sugere ligação entre um cinema pessoal e moderno feito hoje que não existiria sem um sentido palpável de um passado que parece ser só dele. É um privilégio poder ver essas modernas cápsulas do tempo, onde predomina a sensação de analógico num ambiente onde só se pensa em digital.

Quantas vezes mais iremos nos impressionar com a sua capacidade de escrever esse cinema com letras, sons e imagens que nos remetem a uma noção palpável de Portugal, e nisso vem a elegância romântica criada na literatura e no teatro, nos galanteios de muito tempo atrás, no linguajar de um olhar romântico que ainda sai puro num filme feito em 2010?

O Estranho Caso de Angélica, uma co-produção brasileira (via Mostra Internacional de Cinema de SP), foi originalmente escrito em 1952 como roteiro... Oliveira atualiza como ninguém mais atualizaria, deixando uma idéia curiosa de um senso de tempo que não cabe no termo ‘anacronismo’. Isso faz de O Estranho Caso de Angélica o irmão coerente de uma outra jóia desse autor, Peculiaridades de uma Rapariga Loira, que estreou ano passado em Berlim, adaptação de Manoel de Oliveira para o romance de Eça de Queiroz.

Em ‘Angélica’, o personagem central chama-se Isaac, um fotógrafo judeu levado numa madrugada chuvosa para uma quinta de família nobre para fotografar pela última vez Angélica, bela jovem que acaba de morrer. Com sua Leika manual, e um reforço na iluminação, ele a enquadra, imagem que não conseguirá mais tirar da cabeça. Um pouco como o próprio espectador.

A governanta desse cavalheiro está sempre reclamando que ele só tem olhos para coisas antigas, preferência sustentada apaixonadamente pelo próprio Isaac, e a associação jocosa com o tom de Oliveira é inevitável. E lá saem dois personagens voando pelos céus como recortes montados a partir de um filme de Meliés chocando-se com uma discussão recente sobre os caminhos do downturn financeiro do mundo atual.

Enfrentando o estranhamento inicial da família católica da falecida, Isaac segue assombrado pela imagem da mulher, documentando, talvez para esquecer (ou para lembrar sempre) os trabalhadores braçais das vinhas do Rio Douro, objeto de estudos passados na obra de Oliveira. Ele quebra seu transe formal com a mecanização de tratores e caminhões que passam sempre aqui e acolá, outro prazeroso choque.

Estaria Manoel de Oliveira, um pouco como Isaac, documentando apaixonadamente uma certa beleza que está indo embora com o tempo? A poesia disso tudo é que esse cinema dele é esse próprio registro.

Filme visto no Debussy, Cannes, 13 Maio 2010

Wednesday, May 12, 2010

"Entrance" - VIDEO #1

"Entrance" - Cannes 2010 vídeo #1/CinemaScópio from Kleber Mendonça Filho on Vimeo.

Cannes, agora há pouco

CORTA! FF! CORTA!!! FF!!


Vendo esse Robin Hood do Ridley Scott, mais uma vez a mesma sensação. Esses filmões caros de Hollywood não se dão tempo para ter classe ou estilo, se é que podemos cobrar algo tão essencial num filme de cinema. Lá vai uma grua subindo para finalmente vermos um plano aberto e CUT, para um plano médio de alguém num cavalo, o montador não teve paciência de deixar a grua mostrar mais, subir mais. Max Von Sydow vai dar um abraço paternal em Russell Crowe numa outra promessa de plano aberto... CUT para um plano desengonçado mais próximo da mesma ação. CUT, CUT, CUT, e o montador, talvez ameaçado pelos executivos já nervosos de que o elenco não tem nenhum adolescente, faz CUT CUT CUT e a gente fica dormente, vendo o filme correr feito um doido, sem nenhuma imagem realmente de valor nas esbaforidas duas horas e 20 de projeção. CUT CUT CUT. E olha que Scott fez aquela coisa linda e perfeitamente impressa nas nossas mentes, o horror show Alien (1979). Hm. K.M.F

Instalação de Tapete Vermelho

Quarta, dia de Robin Hood


Oh, esse Google...

Er... não.

Next...

Ok.


por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


A imagem de homens ainda instalando um tapete vermelho numa das calçadas da Croisette, em Cannes, meio que definiu o dia no maior festival de cinema do mundo. O filme de abertura, Robin Hood, passou na prestigiosa sessão de gala, mas teve as projeções de imprensa vazias como nunca antes visto no festival, fato talvez explicado pelo lançamento mundial do filme de Ridley Scott sexta-feira. A coletiva de imprensa do ‘industrialmente divertido’ filme de aventura parecia gerar mais interesse do que o filme em si, uma vez que a imprensa já havia visto a revisão de Scott e Russell Crowe (fizeram Gladiador juntos) para o herói universal.

A ausência em Cannes que todos comentavam era a do próprio Ridley Scott, que operou o joelho recentemente, ficando em casa sob ordens do seu médico.

Crowe, que também é produtor dessa nova versão do nobre ladrão de Nottingham, estava na função. Ele entrou na coletiva com os dois filhos pequenos, e parecia cochichar nos ouvidos dos meninos algo tipo “papai vai ali falar umas bobagens com essas pessoas e volta já, não se assustem com as câmeras e esses flashes...”.

Fez seu trabalho como o “talento classe A” que ele é em Hollywood, participando com paciência e bom humor às perguntas generalistas da imprensa global. “Brasil, Espanha, talvez Portugal têm boas chances, sim”, opinou sobre a Copa do Mundo.

O filme de Scott sugere o mesmo tipo de revisão que os recentes Jornada nas Estrelas e Batman Begins ofereceram, nos mostrando “o início de tudo”. É algo que Hollywood tem chamado de ‘reboot’, termo associativo do “reiniciar” um computador. Não é de se espantar que boa parte desses filmes tenham a fluência digital de um computador, com mega-ritmo para não aborrecer crianças de 13 anos e um estilo joão-ninguém ditado pelo montador, e não pelo diretor.

Nos melhores momentos da carreira de Scott (Alien, Blade Runner, Thelma & Louise), temos a impressão de estarmos vendo filmes. Nos piores, ele não parece passar de um empresário e gestor, e inclua aí o tão popular Gladiador.

“Está na hora de refazer Robin Hood? Sim, totalmente, embora nossas idéias iniciais dessem um filme de sete horas e meia”, disse Crowe. “Muitos foram feitos, e conheço toda a tradição deixada por Errol Flyn, Douglas Fairbanks, até mesmo a versão de Mel Brooks, A Louca Louca História de Robin Hood. De todo modo, não acho que um sequer tenha me dado as motivações desse herói popular”.

O ator australiano continuou “Numa época em que o inglês médio viajava não mais do que 20 kms do seu lugar de nascimento, temos um homem que conheceu a Palestina, um cosmopolita que viu a pobreza do seu pais e quis mudar alguma coisa”.

Hábil manipulador de mídia, Crowe respondeu com enormes aspas a pergunta sobre de quem um moderno Robin Hood roubaria, hoje. “O poder hoje está nas mãos de gente como vocês, que trabalham com a informação. O monopólio da mídia é o grande inimigo e fonte de toda a riqueza”.

A coletiva prosseguiu com perguntas sobre adereços de couro e sobre a cena em que Lady Marianne (Blanchett) ajuda Robin a sair da sua couraça de ferro estilo século 12. “Como foi a preparação para tirar aquela couraça?”, perguntaram a Blanchett. “Era de plástico”, finalizou a também australiana. Sua resposta foi ainda mais honesta não foi sobre o filme em questão, mas sobre seu trabalho ao lado de Liv Ullman na montagem de Um Bonde Chamado Desejo, em Sidney. “Liv é um míssil que só busca a verdade”.

Eu viajei a Cannes via Jornal do Commercio e Aliança Francesa Recife

Produtor


Brian Grazer supervisiona Blanchett. (eu prometo que esta será a pior foto de toda a cobertura, e que isso não se repetirá). K.M.F

Café da Manhã, Cannes


12 de Maio, 2010, Boulevard Carnot, Cannes

Sunday, May 9, 2010

Cannes 2010

por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Minha 12a vez em Cannes. Saio da aposentadoria por duas semanas para estar novamente lá, cobrindo para o Jornal do Commercio (Recife), via parceria com a Aliança Francesa.

Aqui no blog, todo o material, e mais alguma coisa, na já conhecida melhor cobertura do Brasil! Usarei vídeo, fotografia e textos, com o acréscimo do twitter, esse ano. Muita coisa pela frente, com certeza, e aqui vão duas sequências de imagens que fazem parte da experiência cannoise.

Vendo entre 35-45 filmes por festival, vemos essas vinhetas dezenas de vezes, abrindo as sessões. Para quem nunca foi, posto aqui.



Esta abre sessões da seleção oficial, competição, Un Certain Regard, foras de competição.



Essa é a da 'Quinzena', provavelmente a mais linda vinheta de festival de cinema do mundo (e são muitas).

Uau

Eu não sei bem o que achar disso, mas é potente.

M.I.A, Born Free from ROMAIN-GAVRAS on Vimeo.