Friday, May 14, 2010
Aurora (Un Certain Regard)
por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com
Cannes continua sendo o ponto zero hoje no mundo para o cinema romeno, e a mostra Un Certain Regard nos traz mais duas provas de que esses romenos parecem ter dominado o mercado do realismo. Eu só acho interessante que num mundo cada vez mais 3D, será que existe um mercado para esse realismo tão afiado? Marti, Dupa Cracium (Terça, Depois do Natal), de Radu Muntean, e Aurora, de Cristi Puiu, foram exibidos quinta e sexta.
A atual safra premiadíssima de cinema romeno, na verdade, como todos já devem saber, teve início com um filme maravilhoso de Puiu, exibido em Cannes 2005, A Morte do Sr. Lazarescu, que infelizmente não encontrou distribuição no Brasil. Puiu levou a Câmera de Ouro naquele ano com a linda história de um homem idoso e doente, numa noite de Bucareste. Seu segundo filme foi muito esperado e fica o lamento geral que seja uma decepção.
Está de volta o tratamento processual que parece unir todos os filmes romenos (Leste de Bucareste e Policia Adjetivo, de Corneliu Porumboiu, 4 Meses 3 Semanas 2 Dias, de Cristian Mungiu), vindo de uma câmera perspicaz que acompanha o personagem num determinado ambiente. O problema é que em Aurora, Puiu leva o conceito ao ponto da exaustão, ainda mais a serviço de um olhar que já conhecemos. Tematicamente, há ainda sensação de déja vu.
É essencialmente a história de alguém que mata, algo que Kieslowski filmou tão bem (e em menos da metade do tempo) em Não Matarás, ou Haneke (usando vetores diferentes, é verdade) em algo como Benny’s Vídeo.
Em Aurora, Puiu pede demais do espectador ao nos fazer acompanhar um homem recém divorciado, infeliz, perambulando por Budapeste e matando, ao longo de três horas de projeção quatro pessoas. Difícil não lembrar que o título internacional de Não Matarás é A Short Film About Killing (Um Filme Curto Sobre Matar), e que Puiu fez um filme longo sobre a mesma coisa. Muito bem filmado, com um final ainda mais lacônico que parece sugerir que a sociedade é um lugar frio e indiferente para se viver, Aurora talvez seja a minha primeira real decepção vinda da Romênia.
Filme visto na Debussy, 14 de Maio 2010, Cannes
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