Friday, June 20, 2008

Get Smart



Kleber Mendonça Filho cinemascopio@gmail.com

A série Agente 86 (Get Smart, produzida entre 1965 e 1970) marcou a televisão da época, satirizando filmes que exploravam a Guerra Fria e o mundo de agentes secretos, bugigangas eletrônicas e cápsulas de cianureto. Com aquele humor típico de Mel Brooks, o autor que fez Jovem Frankenstein e Alta Ansiedade (a série foi criada por ele e Buck Henry), o agente Maxwell Smart usava seu sapato como telefone e a entrada para a sua base de operações tinha uma série de portas corridas de ferro que abriam e fechavam, imagem clássica da cultura pop. E era só uma questão de tempo, o cinema moderno foi buscar naquele humor mais uma possibilidade de franquia com a adaptação de Agente 86 (Get Smart, EUA, 2008), uma bobagem que sai ganhando mais por simpatia do que por mérito.

A fonte de simpatia aqui chama-se Steve Carrell, excelente comediante americano com cara de gerente de banco. Seu humor mostra-se mais eficaz na sua expressão de "pânico tranqüilo", vista com muita graça na série The Office ou no excelente O Virgem de 40 Anos. Transitando no mesmo território de sátira espiã explorado nos três filmes Austin Powers, Carrel dá o seu próprio tom, sendo ele a perfeita substituição ano 2000 para a fantástica cara de panaca de Don Adams (falecido há três anos), o comediante da série original.

Na época, o humor tinha como aliada a tensão constante entre os soviéticos e os americanos, algo que hoje faz parte da história. As bugigangas engraçadas (expostas de maneira melancólica no início do filme), hoje, de certa forma, fazem parte do dia a dia de todos nós, embora operadoras de celular ainda não tenham adotado sapatos-fone.

Com a CONTROL 'oficialmente' desmantelada, é curioso que o filme, situado no presente, explore literalmente o que sobrou da guerra fria, talvez a fonte número um de confusões para filmes do tipo, armas nucleares soviéticas que vão parar nas mãos erradas.

Com o tom absurdo intacto, a sede 'extra-oficial' da CONTROL é um ambiente hi-tech onde Smart é apenas um burocrata num escritório onde a nobreza profissional está nos agentes. Dois nerds cuidam das novas bugigangas que não funcionam muito bem (o "cone do silêncio" é a mais engraçada na sua incompetência), há o agente bam-bam-bam (Dwayne Johnson, The Rock, um ogro sempre engraçado, creio que não leva sua própria imagem a sério), seu chefe (Alan Arkin) e a agente 99 (Anne Hathaway, de O Diabo Veste Prada), que fez cirurgia plástica recente radical (outra boa piada).

No auge de uma crise, Smart é promovido para agente e lá vai ele com 99 para Moscou, atrás de um novo carregamento de bombas nucleares roubadas por Siegfried (Terrence Stamp), o ator inglês dono de rosto e presença incríveis, nos últimos anos ganhando dinheiro com esse tipo de coisa.

Com piscadela de olho para James Bond numa seqüência de pára-quedas copiada, ao que parece, de 007 Contra o Foguete da Morte (Moonraker, 1979), e vilão de dois metros e tanto de altura, a aventura de Smart engata um agradável piloto automático que os levará a um atentado terrorista em Los Angeles contra o sonolento presidente dos EUA (James Caan, divertindo-se).

Curioso que nas duas tentativas de usar objetos do passado, uma funciona e a outra não. Bill Murray faz aparição surpresa dentro de uma árvore e o final reserva a já esperada perseguição absurda seguida de explosão. Nível de gargalhadas baixo, com tendência para a leseira, embora, de alguma forma, o filme honre minimamente a idéia de diversão.

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