Monday, July 27, 2009

Halloween (Rob Zombie)



por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


É curioso que Halloween (1978), de John Carpenter, autor que filmou a aflição com tanta elegância, tenha estabelecido a base para o moderno filme de terror, o “slasher”, gênero marcado por um filmar tão feio. Mais curioso é ver que depois de dezenas de cópias e mutações, Halloween, remake oficial dirigido por Rob Zombie, uma antítese do original, ainda seja de interesse.

Um caso raro de filme dividido em dois, na narrativa e na qualidade, o novo Halloween parece funcionar no todo como bom produto de gênero via toque pessoal do seu autor.

O mito do bicho papão sugerido por Carpenter tinha a forma de um assassino mascarado e mudo que não desistia, faca em punho, sem noção ou explicação. Matava numa coreografia sublime de travellings em Panavision sob uma música eletrônica primitiva que ninguém esquece, criação do próprio Carpenter.

Se o original investiu tempo e atenção nas vítimas aterrorizadas pelo vulto, na versão de Zombie o carinho é todo depositado no bicho papão, sem paciência ou interesse para as adolescentes que gritam. Teoricamente, a idéia é infeliz, pois tira-se o mistério natural do mal puro e simples, o equivalente a tentar explicar o medo do escuro.

Na prática, no entanto, Zombie faz um filme interessante. Ex-vocalista da banda White Zombie, ele havia mostrado sua sensiblidade heavy metal para o cinema nos seus dois primeiros filmes, A Casa dos Mil Corpos e Rejeitados Pelo Diabo. Com Halloween, confirma que ‘família’ é sua palavra chave.

Seu interesse pelo psicopata Michael Myers é não apenas a melhor coisa do filme, como sugere uma refilmagem de Carrie a Estranha (1976), de Brian de Palma, e não tanto do filme de Carpenter. Por baixo da sordidez estridente das relações, há um cuidado pelo menino sempre mascarado com sérios problemas na escola e em casa. É mal tratado por todos, mas amado pela mãe, pelo psiquiatra (Malcolm Macdowell) e pelo próprio cineasta. A utilização de Love Hurts (o amor dói), do Nazareth, soa bem no filme em vários sentidos e a explosão de violência perturba.

É uma primeira parte que Zombie quer que seja só dele, já que na segunda metade, ainda dotada de imagens potentes no gênero, irá apenas cumprir cláusulas contratuais que dão ao filme o tipo de dormência que mutações desse tipo geralmente têm. No entanto, Zombie consegue fechar seu horror heavy metal com o que Carpenter sempre teve em mente: uma imagem de puro cinema.

ATENÇÃO: esse texto publicado na Folha de S. Paulo ontem foi feito com base no filme visto no DVD francês de Halloween, de Rob Zombie. Eu revi o filme há duas semanas, no Recife. No sábado, um dia após a sua estréia nos cinemas brasileiros, saíram comentários na comnunidade do CinemaScópio do Orkut (a partir de nota no http://mestreinfernauta.blogspot.com/2009/07/michael-myers-vs-playarte.html) informando que o filme havia sido cortado no Brasil e ficado com 86 minutos, o que explica a baixa classificação 14 anos. A versão francesa é classificada 16 anos e tem 109 minutos

1 comment:

Filipe Albuquerque said...

kleber, td bem? gostei do teu blog. edito o site e em breve a revista Movie, www.movie.tv.br. o esquema do site é colaborativo. queria contar com teus conhecimentos sobre cinema. queria saber se podemos utilizar o teu material. claro que seu nome e o link do seu blog estarão como sua assinatura nos teus textos. dá uma passada lá e veja o que acha. grande abraço,
filipe.