Saturday, February 6, 2010

Av. Brasília Formosa


Tita, Gabriel e Clara.


fotos KMF

por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Avenida Brasília Formosa, de Gabriel Mascaro, estreou mundialmente no Festival de Roterdã, terça-feira. O filme passou numa tela Imax, onde uma semana antes, Avatar era exibido. A projeção foi linda. É o terceiro longa de Mascaro (KFZ-1348, Um Lugar ao Sol).

Na época do lançamento de Amarelo Manga (2002), comentei que, não obstante a força do filme, a dramaturgia de Cláudio Assis privilegiava as locações de um Recife duro, com personagens populares curiosamente habitados por atores importados do sudeste. Me chamava a atenção os personages reais do povo (que o filme supostamente abraçava) aparecendo sem fala e como figurantes, ali atrás, populando o quadro em desfoque.

Em Avenida Brasília Formosa, temos agora não-atores interpretando eles mesmos, ou, na verdade, sendo registrados nas suas rotinas, em Brasília Teimosa, bairro praieiro da zona sul do Recife. Esses personagens são apresentados a partir de ligeiros desvios ficcionais que seriam insuspeitos, caso o realizador não os apontasse informalmente.

Quase dez anos depois, Av. Brasília Teimosa talvez seja uma resposta digital e leve à dramatização CinemaScope 35mm originalmente vista no 'Manga'.

Curiosamente, o filme, que empresta sua câmera para uma idéia abrangente de "povo" (classe média baixa, iconografia difundida do 'pobre'), vem logo após Um Lugar ao Sol, onde Mascaro dedicou-se a um ataque histórico contra uma noção clássica de burguesia (classe alta, iconografia difundida de 'ricos'). No novo filme, fica clara a delicadeza de um olhar ecumênico, construtivo, de um cinema socializante.

Bem mais interessante do que esse aspecto, há os espaços da cidade, aqui documentados para o presente e para o futuro.

Filme visto no Pathé 5, Roterdã, Jan 2010

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