Saturday, March 21, 2009

O Visitante


"Tu me ensinas a tocar djembe que te dou um espelho"

por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Mais do que nunca na sua história, os EUA se viram repelidos pela idéia de “estrangeiro” depois dos ataques do 11/9, expressão máxima do mal vindo de fora na história americana recente. Como o Brasil, os EUA têm uma postura relativamente caipira de país continente onde a idéia do “estrangeiro” é sinônimo de estranheza, não obstante essas duas culturas terem sido construídas a partir de imigrantes. Em O Visitante (The Visitor, EUA, 2008), a outra estréia de hoje a trilhar um mesmo tema (ver Gran Torino), o cineasta Tom McCarthy parte para fazer o tipo de filme “para um mundo melhor” usando noções básicas de interação entre americanos e estrangeiros.

Como em Gran Torino, temos um americano maduro, o professor universitário Walter (Richard Jenkins, que foi indicado ao Oscar de Melhor Ator por esse trabalho, esse ano, perdendo para Sean Penn em Milk). Walter é um chato de galochas, o típico intelectual deprimido, acadêmico enfadado com a academia, parte desse desânimo oriundo da perda da sua esposa pianista respeitada, assunto que sentimos aos poucos na composição doída e sedada de Jenkins.

Chegando no seu apartamento de Nova York para apresentar um paper que ele apenas assinou, e onde não ia há quase um ano, descobre um casal de imigrantes ilegais morando lá, Tarek (Haaz Sleiman), sírio, e Zainab (Danai Jekesai Gurira), senegalesa. Estavam em regime de ocupação clandestina, Tarek um percussionista e Zainab artesã de pulseiras para vender. Se fossem brasileiros, ele jogaria capoeira e ela também faria artesanato.

O lado bom da história é que o casal é muito simpático, honesto e tornam-se amigos de Walter, que irá deixar que fiquem como seus hóspedes até que encontrem um lugar para ficar na cara e apertada Manhattan.

Diferente de Gran Torino, e o lado ruim desse aqui, é que tudo isso soa como se o americano enfadado (especialista em economia, mundo rico e mundo pobre), e sua relação com o casal de estrangeiros muçulmanos fizesse parte de um programa de interação cultural financiado por uma OnG. A conversa entre as duas partes não supera o aspecto raso, indo em direção à atração superficial pelo exótico.

Walter, por exemplo, descobre um mundo de possibilidades à sua frente ao ser apresentado por Tarek aos prazeres do djembe, um instrumento de percussão. A imagem de Walter espancando o djembe seria a idéia de interesse pelo estrangeiro, bicho exótico cheio de ginga, e o espectador logo poderá lembrar de turistas bem intencionados numa roda de capoeira no Pelourinho ou no Pátio de São Pedro.

O filme desdobra-se rumo à sua terceira parte quando Tarek é preso no metrô e levado para um crudelíssimo exemplo de arquitetura brutal, uma enorme caixa de sapatos de concreto sem janelas onde seu destino será decidido por uma lei fria de imigração. Entra no filme o que faltava até então na sua estrutura previsível, um interesse amoroso para Walter, na forma da bela mãe de Tarek, Mouna (Hiam Abbass, a teimosa dona dos limoeiros de Lemon Tree).

O Visitante talvez funcione mais pela sua boa vontade para com o tema do que pela sua delicadeza mecânica, muito embora boas intenções não sejam suficientes para muita coisa.

Filme visto no Box Guararapes, Recife, Março 2009

1 comment:

Paulo Bala said...

Cara, vi um americano com um vazio existencial de natureza familiar sem nada de em comum, como é de fato, com os imigrantes ilegais da vida. A vivacidade dos ilegais é o que atraiu ele. Acho que a amarelada se deveu a aceitação de culpa por parte dos ilegais (no caso a mãe) de que a culpa era deles mesmos, ou seja, o sistema está correto, mereciam ser deportados mesmo. Tom Mcarthy amarelou em suma.