Saturday, April 11, 2009

Os Delírios de Consumo de Becky Bloom



por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Os Delírios de Consumo de Becky Bloom (Confessions of a Shopaholic, EUA, 2009) não é a porcaria que seu material de divulgação me levou a crer que seria. O trailer sugere uma imitação sem vergonha de O Diabo Veste Prada com uma certa sensibilidade Sex and the City. A embalagem de ‘filme de mulherzinha’ é entregue pela direção de arte que carrega no rosa choque para ajudar a definir a personagem principal, uma garota capaz de partir para unhadas e puxões de cabelo com uma outra colega de luta caso queiram o mesmo acessório em concorrida remarcação. Essa asneira colorida diverte minimamente e, longe de ser apenas uma imitação com ilusão de qualidade, o filme é honestamente fajuto nas suas intenções.

A heroína da peça é uma patricinha de QI especialmente pequeno, Rebecca Bloom (a australiana Isla Ficher), uma jornalista. Presa num estado terminal de consumismo, essa jovem da classe média trabalhadora gasta 16 mil dólares em penduricalhos comprados compulsivamente em lojas onde vitrines ganham vida com a magia de manequins que filosofam sussurrando sobre a importância de comprar algo.

Perseguida por um cobrador espetacularmente chato (perfeito casting do ator Robert Stanton, que rosto, que óculos, que cabelo...) e freqüentando o ‘consumistas anônimos’, Rebecca arranja emprego numa revista de economia cujo editor será seu príncipe encantado (Hugh Dancy). Usando como base para o novo emprego seus surtos consumistas, torna-se uma bem sucedida colunista ao assinar como “a menina da echarpe verde” textos que parecem traduzir tendências financeiras da economia para o patricês que outras da sua fauna e flora consigam entender.

O diretor australiano PJ Hogan é um gente fina, vide seus O Casamento de Muriel e O Casamento do Meu Melhor Amigo, embora demonstre ter sido aniquilado de certa forma pela estrutura. De qualquer forma, traz seu olhar claramente gay e algo de divertido para o todo, e esse seu toque ajuda muito o filme no sentido de torná-lo uma experiência levemente indolor.

Dado o atual clima de crise financeira internacional, Os Delírios de Consumo de Becky Bloom parece casar bem com os tempos através da moral fajuta da sua história. Vale saber que o filme é produzido por Jerry Bruckheimer, responsável por coisas caras como Armagedom, Piratas do Caribe e Bad Boys, filmes que, juntos, custaram quase um bilhão de dólares.

A informação é engraçada, uma vez que a moral da história é a de que supérfluo é ruim, e que aprofundar-se em algo é bom (a echarpe verde parece ilustrar isso). Essa filosofia, num mundo correto, não deveria ajudar o filme em nada, dadas as suas não-credenciais. No entanto, no nosso mundo de shopping centers, vitrines e das marcas que aparecem em todo o filme, deverá ser um sucesso.

Filme visto no UCI Boa Viagem, Recife, abril 2009

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