Sunday, August 10, 2008

Estamos Bem Mesmo Sem Você



por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Alguns dos melhores filmes são os que parecem pequenos, mas escondem bem suas grandezas. Olhem de perto esse italiano Estamos Bem Mesmo Sem Você (Anche libero va bene, 2006), de Kim Rossi Stuart. Por baixo de uma estrutura que poderia ser televisiva via "drama familiar" está um belo relato sobre as pessoas e sobre o amor que une e separa uma família formada pelos eixos tradicionais, pai e mãe, irmão e irmã. Deixando-se levar por esses quatro, o espectador poderá acessar uma situação humana narrada com grande empatia e delicadeza através da visão de mundo generosa de Stuart, o diretor, co-roteirista e ator do todo.

É ele mesmo quem interpreta o pai que vive bem com o filho Tommi e a filha Viola, um pouco mais velha. Técnico de cinema, ele opera Steadicam como profissional free lance para comerciais. A ironia de ele operar um equipamento desenhado para evitar trepidação na filmagem de cenas é valiosa no filme, uma vez que ele mesmo, como pai solteiro, administra a realidade de cuidar e amar os filhos sem a presença da mulher e mãe que os deixou há algum tempo.

Esse trio finalmente atinge a fluidez da rotina e Stuart nos apresenta o mundo com os três. A chegada da mãe só ocorre bem mais tarde, depois que já nos acostumamos com a família como um triângulo equilibrado.

Seu retorno é dramaticamente violento, o marido a julga da pior maneira, os filhos a recebem sem saber se estão inteiramente felizes, e logo o filme, com seu belo título brasileiro, revela-se ainda maior do que a segurança das suas situações bem obervadas, que só podem ter saído de experiências pessoais vividas e sentidas, fruto essencial da melhor expressão artística.

Com o pai perdendo o controle em explosões de temperamento e descarregando frustrações suas no filho através de uma responsabilidade imperativa de sair-se bem num campeonato de natação, Estamos Bem Mesmo Sem Você termina revelando-se, aos poucos, um filme sobre a mãe (Barbora Bobulova).

Mulher jovem e bela, é acusada de cachorra pelo marido pela sua incapacidade de concentrar-se na família, e fraca ao embarcar em aventuras impulsivas. Lentamente, observamos que existe ali uma pessoa com uma psicologia quase infantil que não parece funcionar muito bem no corpo de uma adulta. E são detalhes valiosos (a visita dela à escola, o bilhete, a caligrafia) que vão dando ao filme o teor emotivo que honra cada lágrima do espectador.

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