Sunday, September 21, 2008

A Casa da Mãe Joana


Juliana Paes é no filme a fada brasileira por excelência.

por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com

A Casa da Mãe Joana (Brasil, 2007), filme de Hugo Carvana, passa como um alegre pesadelo para feministas. Esse filme retrô sugere algo como se ouvíssemos numa mesa de bar vizinha histórias machistas de homens que já foram jovens. A imagem assinatura do filme é a da sensualidade brasileira desejada de uma Juliana Paes fadinha masculina em coloridos baby-dolls, andando pra lá e pra cá. Esse curioso produto de mercado lembra o que restou do espólio da comédia popularesca nacional, com peças avulsas da chanchada, do programa de auditório e de uma 'sensibilidade uísque' tão cara a uma faixa social burguesa dos homens da boa idade, grupo que abriga Carvana, aos 71 anos.

Carvana - "o Dr. Andrade da novela Três irmãs" – é uma figura memorável no cinema brasileiro, sua personalidade artística não deve estar distante da sua própria pessoa. Fez um filme marcante em Vai Trabalhar Vagabundo (1973), onde o malandro carioca ganhou representação icônica. Fez o repórter Valdomiro Pena na excelente série Plantão de Polícia, na Globo dos 70/80 (porquê não existe em DVD?!), com o mesmo tipo de malemolência anarquista-zona sul-Rio de Janeiro.

Esse tom antigo marcado por toda uma trajetória revela-se presente no seu filme novo, e não deixa de ser uma curiosidade observá-lo. Rodado em grande parte em estúdio, com planos médios e fechados predominando, há, mesmo assim, um aspecto de "filme" que outros produtos atuais do tipo não parecem alcançar.

Temos um grupo de quatro homens safados que aplicam golpes em mulheres para ganhar dinheiro e conquistar outras mulheres. A filosofia é nunca ter que dar um dia de trabalho que seja, se dar bem sexualmente e beber uísque. Em ordem decrescente de idade, Antônio Pedro, José Wilker, Paulo Betti e Pedro Cardoso integram essa quadrilha. Terão que rever seus dogmas para saldar dívida contraída num esquema mulheril que não deu certo.

Desdobramentos beiram o indescritível, com Betti de prostituto semi-nu para mulheres maduras usando adereços de couro e protagonizando piadas de Viagra. Wilker vira enfermeiro para um comendador e travesti de idade avançada (Agildo Ribeiro de cadeira de rodas e vestido de mulher), enquanto Cardoso fica de caso com a esposa (Malu Mader) de um joalheiro. Como num vaudeville tupiniquim, entra ainda a mãe de Betti (Laura Cardoso), conseguindo aos poucos superar a mera 'piada de véia', e a filha de Wilker, uma menina chamada Tainacã (Fernanda Freitas, simpática), sempre com um sorridente shortinho, e, às vezes, sem.

Já o mais velho Pedro tenta incorporar a alma feminina brasileira ao virar uma falsa colunista mulher para algum jornal, sua musa é Juliana Paes, tratada pelo filme como uma aparição através de pirlimpimpins digitais alegremente toscos. A capacidade de Paes sorrir e fazer biquinho impressiona. O elemento macumba sela a bagaceira como indiscutivelmente brasileira. Arlete Sales, Miéle, Beth Goulart e Cláudio Marzo também compõem o elenco, ou o quadro.

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