Sunday, May 3, 2009
Coletiva Gavras
por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com
Costa Gavras recebeu a imprensa nacional, presente no Cine PE, durante concorrida coletiva ontem, num hotel em Boa Viagem. Falando espanhol fluente, Gavras, que é grego com cidadania francesa, respondeu perguntas durante aproximadamente uma hora. Informou que seu espanhol é chileno, e lembrou do período de Salvador Allende, antes do golpe sangrento de Augusto Pinochet, época em que filmou Estado de Sítio. Gavras falou da sua formação política em Paris, sobre a tecnologia que muda no cinema (é o diretor da Cinemateca Francesa, em Paris) e sobre sua relação com a América Latina, que inclui, ao longo da sua trajetória, uma relação de amizade com Miguel Arraes.
“A formação política percebida nos meus filmes talvez venha da vida, por ter vivido num país (a Grécia) ocupado pelos nazistas, depois vitimado por uma guerra civil que ainda passou pela Guerra Fria. Já na França, tive muita sorte de encontrar pessoas como Yves Montand e Simone Signoret, sem radicalismos ou preconceitos e muito pragmáticas na forma como vêem a sociedade”.
Perguntado se seus filmes deixaram de ser políticos ao longo dos anos para tomar o rumo do comentário social, Gavras, 76 anos, disse não ver a diferença entre filmes políticos e de cunho social. Às vezes é mais importante termos um filme de aspecto social, e aí sermos inevitavelmente políticos”.
Sobre Eden a L’Ouest, seu filme mais recente e que abriu o Cine PE na segunda à noite, alguns colegas reagiram à rapidez narrativa do filme. Gavras respondeu, “nos últimos 20 anos, tanto para os espectadores como para nós, realizadores, a linguagem do videoclipe mudou completamente a capacidade de entender o cinema. Impossível não pensar nesse tipo de mudança ao fazer um filme. Quis fazer um filme que tivesse essa pressa, mas sem apelar para a gag. Jacques Tati dizia que não é necessário fazer gags para ser engraçado, basta olhar para a sociedade”.
Com a América Latina presente em dois filmes memoráveis da trajetória de Gavras (Estado de Sítio, ambientado no Uruguai e filmado no Chile, e Desaparecido – Um Grande Mistério, filmado no México e ambientado no Chile), Gavras relatou que “a América Latina é um laboratório social e político para o observador. Essa sua impressão teve início quando buscava a história de um embaixador americano que foi da Grécia para a Guatemala. Investigando esse personagem, encontrou também um tema recorrente nos seus filmes, a intervenção dos EUA na política do sub-continente. “Perdi grandes amigos para a repressão política nesse período”.
A reportagem do JC perguntou se procedia a informação de que Gavras teria tido uma relação de amizade com Miguel Arraes. “Fui muito próximo de Arraes durante o exílio. Já nos anos 90, creio que no último governo dele, viajei com uma delegação francesa ao Chile e passamos algumas horas no Recife. Arraes falou muito mais comigo do que com o primeiro ministro francês...”
Anteriormente, Gavras conheceu Arraes na época em que pesquisava um personagem de Estado de Sitio, um americano que dava consultoria de tortura e métodos de repressão, personagem que, no filme, cita nominalmente Pernambuco como foco de violência numa cena em que o mapa e bandeira do Brasil são usados usado como pano de fundo. A cena em questão foi o principal motivo apontado pela censura federal do governo Médici para proibir o filme no pais, na época.
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