Sunday, May 3, 2009
Superbarroco
por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com
O filme Superbarroco, imaginado por Renata Pinheiro, é um desses objetos filmados não identificados que Pernambuco tem produzido com certa constância, e sem maiores explicações. Não há piadinhas, não há exatamente um início, meio ou fim, mas há algo que parece faltar a boa parte dos filmes que vemos no mundo, a imagem. O filme de Renata Pinheiro exibe hoje à noite na mostra competitiva de curtas do Cine PE, três semanas antes da sua exibição em Cannes, onde foi selecionado para a prestigiosa Quinzena dos Realizadores.
Pinheiro, que tem uma carreira reconhecida como diretora de arte (Baixio das Bestas, A Festa da Menina Morta), função que tem participação importante no visual de um filme, é também artista plástica. Em alguns casos, no cinema, esse tipo de credencial explica a total falta de interesse numa narrativa linear e uma viagem de maionese sem volta e sem fim. Não nesse caso.
Superbarroco de fato ejeta uma narrativa comum para nos apresentar um homem (Everaldo Pontes, ator na cara e no corpo) e, talvez, o que se passa pela sua cabeça, ou um pouco dos seus sentimentos. Não é exatamente simples expressar esse tipo de coisa em cinema, investir em sensações e não tanto em ações, e eis que Pinheiro, Pontes e o fotógrafo Pedro Urano aos poucos, e de maneira potente, nos levam lá.
Alguns poderão achar estranha a afirmação acima de que falta imagem na maior parte de filmes hoje no mundo. Falta pelo fato de a imagem em cinema ser tão ampla no que ela nos traz, podendo sair da obviedade do “isso é isso”. Em Superbarroco, temos muitas vezes a superposição de imagens diferentes de uma vez só, nos lembrando que a água, a comida ou a arquitetura de uma casa podem ser uma extensão de nós mesmos, dos nossos sentimentos e das nossas lembranças. Exatamente como o cinema.
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