Thursday, February 25, 2010

Pale Rider




por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Em outubro de 1985, eu fui ver Pale Rider (O Cavaleiro Solitário), de Clint Eastwood, no cinema, na época do seu lançamento, na Inglaterra. Foi no Odeon 1, em Colchester. Foi a primeira vez que eu, tão impressionado que estava, me vi diante da fotografia num filme. Eu talvez já soubesse o que fotografia significava, mas foi Pale Rider que me mostrou ao vivo, não sei bem porquê, um trabalho de imagens feito para ser mostrado numa tela grande. O fotógrafo é Bruce Surtees.

O que eu mais lembrava do filme eram os interiores, escuros. Me lembrava também de uma imagem com caubóis ao redor de uma fogueira, seus rostos brilhando com a luz do fogo.

Revi hoje o filme em bluray, como parte de uma admiração revisada constante (já há pelo menos dez anos) pelo trabalho de Eastwood como cineasta, algo que, um pouco como a idéia de fotografia, tornou-se admiração ponderada e consciente, pois Eastwood é um artista que eu vinha acompanhando filme a filme desde mais ou menos a mesma época que vi esse filme, no cinema. Ou seja, antes, Eastwood era alguém que eu gostava, mas sem a distância de usufruir do seu real valor.

Não sei bem se o cinema americano terá alguém como ele depois que morrer, cuja direção e visão clássica de cinema inspira a sensação de estarmos diante de uma cápsula do tempo reaberta no presente, ponte entre a câmera clássica do passado e a contemporaneidade.

Em Pale Rider, Eastwood remixa aspectos clássicos de Shane - Os Brutos Também Amam com o próprio Eastwood dos anos 70 (High Plains Drifter e The Outlaw Josey Wales) com, obviamente, Leone e Siegel de patronos. É um filme moderno, filmado como um clássico, sem nunca passar a pretensão de assim ser, um pouco como os melhores filmes que temos visto desse autor na década de 2000. Que sorte nossa ainda tê-lo fazendo filmes.

PS: sobre o bluray, é muito bom ver filmes mais antigos nesse formato de alta definição. Diferente dos filmes novos, que já foram criados e tratados dentro da tecnologia digital, filmes mais antigos como Pale Rider, originalmente feitos a partir de química e ótica (foi rodado em Panavision, com lentes anamórficas), está lá o grão original e as imperfeições naturais de um processo que, se comparado ao que se faz hoje, pode ser chamado de 'artesanal'. Nesses filmes antigos, planos são desiguais, nitidez e granulação convivem juntos e a imagem digital de repente parece uma cópia fiel do celulóide. Nunca se chegou tão perto (ou igualou) em casa o que sempre tivemos na tela do cinema. E se considerarmos que as oportunidades de se ver um filme antigo projetado em 35mm são raras (festivais, viagens ao exterior, salas especiais), o serviço prestado pelo bluray não deve ser menosprezado. É muito bom.

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