Thursday, September 3, 2009
Caro Sr. Horten (O'Horten)
por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com
A interação de gente lacônica com planos abertos fixos parece ter se transformado num sub-gênero do cinema, vide a estranha sucursal latina de filmes como Whisky e Gigante. O estilo pode ter relação distante com Buster Keaton ou Jacques Tati, reprocessados por Aki Kaurismaki (O Homem Sem Passado), Elia Suleiman (Intervenção Divina) ou Roy Andersson (Vocês os Vivos) como provas de estilo. O filme norueguês Caro Sr Horten (O’Horten, Noruega/Alemanha, 2007), de Bent Hamer, sugere essa busca pelo lacônico como alguma fórmula a ser perseguida.
Selecionado para a mostra Un Certain Regard, de Cannes 2007, o filme de Hamer propõe que a vida deve ser vivida enquanto ainda há tempo. Chama a atenção que o estilo aparentemente frio ganhe notas dissonantes com um certo tom piegas. Há uma trilha sonora do lugar comum que dá ao relato um ar desagradável de história fofinha.
No inverno da sua vida (neva muito no filme), o personagem titular (o ator Baard Owe, presença) chega à aposentadoria depois de 40 anos conduzindo locomotivas que seguiam retas entre ponto A e ponto B. O’Horten será obrigado, portanto, a lidar com uma vida livre e não-linear, entendendo o quanto suas funções foram restritivas como projeto de vida.
Passará a interagir com as ruas frias de Oslo e seus personagens, de uma visita não planejada ao quarto de um garoto à amizade com um esquizofrênico.
É um ponto de partida válido, já visto com alguma semelhança temática por David Lynch no lindo e subestimado A História Real (1999). Caro Sr. Horten, de qualquer forma, tem vida no rosto forte de Owe, que apela para o fumo do seu cachimbo como saída para pequenos pânicos e grandes dúvidas.
Sobre dúvidas, observe o final. Poderá ser questionado pelos que verão idéias distintas. Seria desonesto, piegas ou humano na sua (in)coerência, uma conclusão, acreditamos, sintonizada com a alma escandinava desse homem bom e triste.
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