Friday, October 9, 2009
Welcome
por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com
Na produção francesa Benvindo (Welcome, 2009), temos um interessante melodrama que nos fala sobre fronteiras e travessias. O filme de Philippe Loiret junta-se ao grupo notável de filmes europeus que investigam um dos grandes temas do mundo rico, sempre muito discutido na Europa, que é a imigração, ou o choque entre os que estão fora tentando entrar com os que estão dentro.
Benvindo esteve no último Festival de Berlim, onde parecia compor uma mini-mostra natural sobre o tema, se somarmos o último filme de Costa Gavras, Eden à l'Ouest (exibido no último Cine PE), e o sueco Mammoth, de Lukas Moodysson.
Benvindo tem como cenário a cidade portuária de Calais, no norte da França, porta de saída da França e entrada para a Inglaterra. Geograficamente, é a menor distância entre a Europa continental e as ilhas britânicas, sendo Dover o porto inglês correspondente, do outro lado. A travessia, feita por navio ou trem via túnel, é desejada por muitos que, já na Europa, ainda esperam pela oportunidade de chegar em Londres.
Loiret apresenta Calais no filme como se a França estivesse em guerra. Há um certo clima da Casablanca de Casablanca (1942), onde centenas esperam uma chance de viajar e fazer a travessia, muitos sem a sorte necessária. Diferente do clássico americano, o tom de Benvindo é realista, quebrado, vez ou outra, por uma sensibilidade melô que faz um certo bem ao filme.
Os dois personagens principais são clássicos, até mesmo dentro de uma idéia de cinema americano. Não é difícil imaginar Clint Eastwood no papel do professor de natação Simon (Vincent Lindon), que desenvolve relação de amizade com um iraquiano (curdo) de 17 anos, Bilal (Firat Ayverdi).
Recém chegado de uma viagem de três mil quilômetros, Bilal veio, basicamente, andando até a França, de onde pretende atravessar para a Inglaterra em busca de um amor, Mina (Derya Ayverdi). Simon, aliás, acaba de perder um grande amor, pois está nos finalmentes de um processo de divórcio com Marion (Audrey Dana).
O estado de melancolia profunda que aflige esse ex-atleta de meia-idade na fria Calais talvez explique suas escolhas, especialmente no sentido de ajudar Bilal a fazer uma heróica travessia do Canal da Mancha, nadando.
Lioret não parece ter problema algum em enveredar pelo papel de “filme denúncia” ao mostrar a forma como Calais e sua policia tem como missão perseguir imigrantes, evitando que a população flutuante de indesejáveis se torne um problema. Algumas cenas lembram as rotinas de busca e apreensão em filmes sobre o nazismo. Lioret não admira Sarkozy.
Ao final, temos um relato realista, algo de tocante, sobre as movimentações humanas no mundo contemporâneo, e onde a Europa parece ser o principal palco desse fenômeno social.
Filme visto no Plaza Casa Forte, Recife, Setembro 2009
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