Tuesday, February 10, 2009

Chéri


por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


O cineasta inglês Stephen Frears apresentou hoje Chéri (2009, Inglaterra/EUA/França), uma apresentação da Miaramax para o tipo de mercado de bom gosto e alguma sofisticação que existe raramente nos multiplex. O filme marca uma volta de Frears a uma parceria com Michelle Pfeiffer, trabalharam juntos no bom As Ligações Perigosas nos idos de 1988. Esse novo projeto (na competição) também traz de volta Christopher Hampton, roteirista que adaptou As Ligações Perigosas (do original de Choderlos de Laclos), agora trazendo os escritos da francesa Colette.

O filme é um desses dramas de época feitos com leveza e competência, os atores estão à vontade com o texto ferino, composto pelos dramas internos que levam as mulheres à mais ácida produção verbal. Se passa no mundo das cortesãs, na Paris da Belle Epoque, e Pfeiffer é Lea de Lonval, uma das mais conhecidas meretrizes de monarcas e homens de grande poder. São mulheres que se prostituem com estilo, muitas vezes secando os cofres de seus homens escravizados por elas emotiva e sexualmente. São fascinantes as cortesãs dessa época.

Chama a atenção que Pfeiffer, símbolo sexual e estrela de cinema nos anos 80 com suas maçãs de rosto perfeitas, assume o passar dos seus anos interpretando uma bela mulher que viveu da sua sensualidade, e que agora percebe a possibilidade da velhice e da aposentadoria. Talvez por isso que ela envolve-se com a carne jovem de Cheri, apelido que ela mesma deu para o rapaz quando ele tinha seis anos de idade, o filho de uma velha amiga (e também cortesã que virou maliciosa matrona), interpretada por uma esperta Kathy Bates.

Frears filma com prazer clássico em tela larga e cores perfeitamente pastel (o ás Darius Khondji garante o foco), as faíscas entre as fêmeas estalam sempre e logo estaremos envolvidos com a clássica história de amor que terá de acabar quando ele assumir uma mulher oficial, a meiga Edmée (Felicity Jones), por sua vez filha de uma outra cortesã.

É tudo muito bem feito, um passatempo de real interesse para uma sessão seguida de chá, os venenos femininos salpicam constantemente no espectador com grande interesse. Obviamente que há amargura na história de mulheres que procuram o amor sem permissão, e que tentam desesperadamente segurar a beleza que esvai-se (ou que já sumiu por completo. Que bom que a imagem final registre tão precisamente o rosto de uma mulher.

Filme visto no Berlinale Palast, Berlim, Fevereiro 2009

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