Sunday, May 24, 2009

Irmãos Dardenne: Leçon du Cinéma 2009


Depois de Tarantino, ano passado, os Irmãos Dardenne, vencedores de duas Palmas de Ouro em 1999 e 2005, deram a sua Leçon de Cinéma, numa conversa mediada pelo crítico francês Michel Ciment e ilustrada por trechos dos filmes La Promesse, Rosetta, O Filho, A Criança e O Silêncio de Lorna.

Os diretores belgas começaram falando sobre suas influências, citando como principal mentor o cineasta e poeta Armand Gatti, com quem começaram a trabalhar muito jovens, filmando documentários em cidades operárias.

Sobre o trabalho com atores, Luc Dardenne afirmou não acreditar na psicologia do ator, explicando que quanto menos você mostra e explica ao ator, mais ele investe suas próprias emoções, sendo a mesma coisa para o espectador. “Tenho como regra sempre contradizer o ator quando ele sente que está certo, para ele ficar em desequilíbrio e não ficar preso numa imagem. (...) Precisamos ser um pouco sádicos na mise en scène” (Luc Dardenne).

Sobre a escolha dos atores, os irmãos Dardenne explicaram que gostam de trabalhar com rostos pouco conhecidos, para não interferir com os personagens. Para isso, costumam passar anúncios nos jornais e fazer testes com os selecionados. “É um momento muito importante pra gente, pois é ai que o filme começa. (...) Aprendemos muito nessa fase, até com os que não são selecionados.”

Os diretores também falaram da importância do som e a ausência de música nos seus filmes: “A música e o ritmo são dados pelos sons: as respirações, a cidade, os objetos, os ruídos das roupas, os objetos que manipulam... A materialidade dos objetos é fundamental.” (Jean-Pierre Dardenne).

Interrogados sobre o seu famoso estilo caracterizado pelo uso de câmera na mão e luz natural, os diretores ressaltaram o trabalho valioso do diretor de fotografia Alain Marcoen na pré-produção dos filmes, para sentir as locações e a luz. O trabalho de repetição com o operador de câmera e com os atores é indispensável nesse sentido, no intuito de alcançar o ritmo e a tensão de cada cena.

Sobre Rosetta, Luc Dardenne fala: “Queríamos filmar Rosetta como um soldado, e para isso, tínhamos que ficar muitas vezes atrás dela, como um repórter de guerra. Precisávamos ficar dentro da sua energia, do seu movimento. O contracampo não era interessante para esse filme.” Da mesma forma, a manipulação de objetos e o tempo dos gestos é algo muito valorizado no trabalho de direção.

Finalmente, sobre o trabalho a dois, Luc Dardenne explicou o método utilizado: “Falamos muito antes da filmagem, entre nos e com a equipe técnica. Durante a filmagem, quando um tem uma idéia, ele a realiza. O outro fica atrás do vídeo assist sem interferir. Depois analisamos juntos e sozinhos o plano, conversamos, as vezes brigamos. Mas no geral, as rivalidades de criança foram ultrapassadas. Gostamos quando o outro tem uma idéia e toma a iniciativa.” “É porque somos dois que somos cineastas. Na verdade, somos usurpadores encabulados, pois cada um é um semi-realizador”. (Emilie Lesclaux)

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