Friday, October 9, 2009

Cloudy With a Chance of Meatballs


por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Sem muito alarde, chega mais uma animação digital em 3D para abocanhar fatias gordas do mercado da terceira dimensão. Com os dez milhões de brasileiros que foram ver A Era do Gelo 3 no primeiro semestre, e o sucesso atual de Up, da Pixar, os donos de cinema devem festejar a chegada de 'Tá Chovendo Hambúrgueres (Cloudy With a Chance of Meatballs, EUA, 2009). O filme passa em 3D no Box Guararapes (Recife), e nas outras salas no bom e velho 2D*. Para o público, fica a certeza de que verão algo dotado de uma imaginação infantil sem limites.

Não é difícil se deixar levar pelo desprendimento desse filme, adaptado de um livro infantil publicado nos EUA em 1978, escrito por Judi Barrett e ilustrado por Ron Barrett. Em primeira instância, é de se suspeitar que os Barretts são um casal de gordos, dada a trama toda centrada em comidas oleosas e coloridas. É o filme da obesidade mórbida por excelência, e onde o comer cai do céu, literalmente.

Uma outra possibilidade é pensar no fascínio que as crianças têm por comidas, especialmente as que aqui ganham tela. Isso havia sido explorado lindamente em A Fantástica Fábrica de Chocolate, dos escritos de Roald Dhal, e onde há uma elegância bem maior dado o fator sempre charmoso que é o chocolate.

Em 'Tá Chovendo Hambúrgueres, assume-se a natureza americana do conceito "comida", apostando no cardápio típico de uma lanchonete barata. O filme passa distraidamente sobre o fato de o mundo sofrer hoje com uma epidemia de obesidade, algo que dá ao filme misto de graça e sombras.

Nosso herói, Lockwood, é um jovem inventor, já sem crédito junto à pequena cidade onde mora, e ao seu pai, um tipo cujo bigode é quase tão espesso quanto suas sobrancelhas. O lugarejo só come sardinha, principal produto de exportação, e o cardápio deprimente o leva a criar uma máquina capaz de transformar água em comida cuspida pelos céus.

Começa a chover hambúrgueres, pizzas, ovos e bacon, sorvete, gelatina, docinhos, bife e espaguete. A cidade atrai atenção mundial a partir das reportagens de Sam, uma garota que quer ser meteorologista na TV. Ela é a alma gêmea de Lockwood, uma nerd de armário. Irá assumir sua nerdice rumo a um clímax dotado de toneladas de comida pesada e onde almôndegas são transformadas em armas de destruição em massa.

O filme não tem a construção de um filme da Pixar, mas termina ganhando pontos pelas imagens absurdas de uma cultura que preza tanto a comida gorda e colorida. Vejam os planos de espanto esfomeado estilo Spielberg (travelling em direção ao personagem, que olha para cima arregalando os olhos, boca aberta babando), a versão cinematográfica do que vemos no olhar das pessoas em coquetéis caros boca-livre.

Antes mesmo de ficar enjoado e arrotando, é provável que o espectador sinta divertido espanto. Trabalho de animação é muito bom.

*Vi o filme em formato 2D no UCI Recife, Setembro 2009.

1 comment:

Anonymous said...

Muito bom filme de qualidade Cloudy with a Chance of Meatballs de Chris Miller me fascinou