Friday, February 12, 2010

Howl


por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Curiosamente, a palavra escrita é, de certa forma, a estrela de um outro filme exibido hoje em competição, Howl, produção americana de Rob Epstein e Jeffrey Friedman. Eles fizeram The Celluloid Closet, sobre a imagem do homossexualismo no cinema. Howl abriu o Festival de Sundance, há algumas semanas.

Totalmente apaixonado pelo poeta da geração Beat Alen Ginsberg, Howl ilustra a vida de Grinsberg e sua obra máxima, publicado como Howl and Other Poems, a partir de um processo na justiça de 1957. Tentaram banir o poema tendo como base a interpretação de que seria indecente e, mais estranho ainda, "de que não seria literatura".

Documentaristas, Epstein e Friedman adentram a ficção incertos. Usam o ator James Franco (Homem Aranha, Milk) como Grinsberg nas dramatizações, uma vez que imagens de Ginsberg são raras. Tomaram também a decisão questionável de tentar ilustrar Howl, um fluxo de consciência expressivo, lido em voz alta por Franco num longo sarau, com imagens de uma animação não muito inspirada, com jeito de sobras da revista Heavy Metal.

Ironicamente, no tribunal, o promotor público (David Strathairn) pede que um especialista em literatura explique o significado de algumas passagens, para o qual o especialista responde: “não é possível transformar poesia em prosa. É por isso que chama-se poesia”. A afirmação parece entrar em choque com o próprio filme.

No geral, Howl tem o aspecto e o tom dessa praga que convencionou-se a associar com tudo que vem de Sundance dentro de uma idéia de cinema americano independente. Liberalzinho, bem intencionado, mas, finalmente, não muito bom.

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