Monday, May 17, 2010
Another Year (competição)
por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com
Na manhã do sábado, o Grand Theatre Lumiere, o maior de Cannes, exibiu duas versões de Londres, por dois autores com extensa folha corrida. Primeiro passou Another Year (competição), onde Mike Leigh mais uma vez acompanha, com sua peculiar mistura de ceticismo e alento, um grupo de pessoas na capital inglesa. Depois, esvaziaram a sala, e voltamos para a segunda sessão, onde Woody Allen mostrou seu novo filme, You’ll Meet a Tall Dark Stranger (hors concours), crônica sobre os temas que lhe são caros, o pessimismo quase sempre bem humorado de viver.
No caso de Leigh, volta o bom espanto de ver um cineasta totalmente interessado em filmar o rosto das pessoas. É curioso ver esses dois filmes juntos, pois Leigh confirma-se incrível retratista da realidade inglesa, enquanto Allen continua sendo o autor de uma dimensão paralela só sua, aqui por um acaso filmada em Londres. “Esse filme poderia ter sido feito em qualquer outra cidade”, disse Woody na coletiva.
Em Another Year (Outro Ano/Mais Um Ano), Leigh faz jus ao titulo mostrando pequenos detalhes da vida de um grupo de pessoas ao longo da divisão clássica quatro estações (da primavera ao inverno). Com uma dezena de personagens bem administrados, fica claro apenas na última cena quem seria de fato o foco principal do filme, toque potente.
Um casal cinqüentão feliz, ele (Jim Broadbent) é geólogo, ela (Ruth Sheen) psicóloga, tem um filho tranqüilo de 30 anos (Oliver Maltman). São o eixo do filme e dão assistência emocional para Mary (Lesley Manville), uma amiga simplesmente infeliz que passa a testar a paciência dos amigos com sua carência. E há uma série de outros personagens interessantes, sempre interagindo em torno de instituições britânicas como pequenas salas, cozinhas e jardins.
Leigh é muito acusado, na sua carreira, de dureza e crueldade com alguns dos seus personagens, algo que desaparece em alguns dos seus filmes. Seu último, Simplesmente Feliz, foi seu olhar mais ensolarado até agora, e voltamos, de certa forma, às sombras com Another Year.
É muito curioso observar como filmes batem para as culturas que os produziram.
Ontem, por exemplo, saiu crítica na revista britânica Screen International que joga o filme no lixo pelos personagens “que você evitaria numa festa” e, essa é a melhor parte, pondera que “a carreira nos cinemas da Inglaterra deverá ser sombria, onde já instala-se clima pessimista com as novas medidas tomadas pelo novo governo”, citação ao clima inglês pós-eleição que deu vitória aos conservadores.
Talvez um olhar que se atenha ao cinema revele o filme de um artista que dramatiza como poucos o teatro humano.
Filme visto no Lumiere, Cannes, 15 Maio 2010
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