Monday, May 17, 2010

Copie Conforme (competição)



por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Saindo agora da sessão do filme novo de Abbas Kiarostami, Copie Conforme (Cópia Verdadeira). Horas antes, eu havia escrito sobre as legendas de Godard em Film Socialisme, e agora à noite Kiarostami usa de maneira jocosa as mudanças de língua, tudo muito inteligente e com significados no mínimo astutos, até onde consegui sentir. O filme, no entanto, não é sobre isso, mas apenas um dos detalhes que o enriquecem muito.

É uma mudança e tanto de forma, no que já havia sido anunciado como o primeiro Kiarostami filmado na Europa, com atores europeus. O filme é um presente para Juliette Binoche.

Na superfície, o filme flerta com uma série de outras observações já feitas que rondam a memória do espectador, em especial Viaggio a Italia, de Rosselini, e mesmo o Before Sunrise/Sunset do Richard Linklater. Une uma reflexão sempre a pé e em deslocamento sobre o casamento como história pessoal de cada um, de duas pessoas, somando essa história ao em torno, que não deve ser por acaso tratar-se da Itália.

O homem (William Schimell), aliás, é um acadêmico, especializado em patrimônio cultural, e será a parte mais fria da dupla, cética, distante e fria, mas com doses curiosas de um homem ainda apaixonado. É inglês. Ela, francesa, também fala italiano e francês, e a verbalização do que sentem logo vira uma caixa de pequenas surpresas ao longo do filme.

Ali por baixo, Kiarostami discute rica e prosaicamente identidade de ser você mesmo com uma outra pessoa, e o que se constrói junto num ambiente que já parece ter visto de tudo, vivido tudo e acolhido todos. E tocam os sinos da igreja, sempre para lembrar que o tempo passa e leva as pessoas junto.

O filme é muito delicado.

Filme visto na Sala Debussy, Cannes, 17 maio 2010

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