Saturday, May 2, 2009

Cannes 2009



por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Saiu a tão esperada seleção 2009 do Festival de Cannes. Chama a atenção na lista desse ano na mostra competitiva uma espécie de colosso de grandes nomes do cinema mundial como Pedro Almodóvar, Lars Von Trier, Quentin Tarantino, Ang Lee e Michael Haneke, para citar apenas cinco, sensação ainda mais forte do que em outros anos. Na prestigiosa mostra paralela Un Certain Regard está o filme brasileiro À Deriva, do cineasta pernambucano radicado em São Paulo, Heitor Dhália. Eduardo Valente confirma exibição de No Meu Lugar na seleção oficial com sessão especial. O curta-metragem do Recife Superbarroco, de Renata Pinheiro, também estará em Cannes na Quinzena dos Realizadores.

PALMAS - Apostando nos pesos pesados do cinema de autor feito no mundo atualmente, Cannes confirma a sua vocação para seleções focadas que explicam a relevância do festival, que chega esse ano à sua 62a edição. Boa parte dos selecionados são freqüentadores premiados de Cannes, alguns com a Palma de Ouro. Nessa categoria, estão Lars Von Trier (Palma de Ouro em 2000 por Dançando no Escuro), que esse ano apresenta o seu filme de horror assumido Anticristo. Ken Loach (Palma por Ventos da Liberdade) apresenta Looking For Eric, Jane Campion (O Piano) traz Bright Star e Quentin Tarantino (Pulp Fiction) sua reinterpretação para uma aventura de guerra com Inglorious Basterds, talvez o primeiro filme anunciado na rede de boatos dos últimos meses. Na verdade, Tarantino já anunciou, antes de começar a filmar em setembro, que o seu Bastardos Inglórios seria lançado em Cannes 2009.

RESPEITO - Se esses são os ganhadores de Palmas de Ouro, há também outros nomes que já saíram reconhecidos de Cannes com prêmios nobres. Ang Lee (Leão de Ouro em Veneza por Brokeback Mountain) faz par com Tarantino nos dois filmes americanos esse ano na competição, rara participação fraca (em números) do cinema americano de autor tão valorizado pelo festival francês. Lee apresenta Taking Woodstock, revisão do evento pop-musical que definiu uma geração.

Pedro Almodóvar fará a estréia internacional (o filme já foi lançado na Espanha) de Los Abrazos Rotos, Michael Haneke (Cachê, Funny Games) chega com um novo filme (em preto e branco), Das Weiße Band, que o leva de volta à Áustria depois de seus últimos filmes terem sido filmados na França e EUA. O coreano Park Chan-Wook, que fez muita gente arregalar os olhos com Old Boy em 2005, vem agora com Bakjwi (Sede), sobre um vampiro, e Elia Suleiman (do ótimo Intervenção Divina, premiado em 2002) apresenta The Time That Remains, sobre a história recente da Palestina.

Os veteranos Marco Bellochio (Bom Dia, Noite) e Alain Resnais (Medos Privados em Lugares Públicos) também estão lá. Bellochio com Vincere, sobre a amante do ditador Benito Mussolini, Resnais (aos 87 anos no próximo dia 3 de junho), e um dos nomes por trás da Nouvelle Vague há 50 anos, exibirá Les Herbes Folles.

JOVENS - Há ainda os realizadores mais jovens que Cannes parece ter como investimento futuro. Brillante Mendoza, cineasta filipino, volta à competição com Chop Chop, um ano depois de apresentar o excelente Serbis. A escocesa Andrea Arnold (Red Road, em 2005) traz Fish Tank e a espanhola Izabel Coixet (Minha Vida Sem Mim), claramente o nome mais inexpressivo da seleção, projeta Map of the Sounds of Tokyo. Veremos. O cineasta franco-argentino Gaspar Noé mostra a produção francesa Soudain Le Vide. O filme anterior de Noé, Irreversível, é algo que ninguém esquece, projetado aos urros de horror no festival de 2002 como um tipo de experiência em imagens de choque.

Além de Noé e Resnais na competição, a participação francesa impressiona esse ano. Jacques Audiard (De Tanto Bater Meu Coração Parou) terá seu novo filme, Un Prophète, ao lado do jovem Xavier Giannoli, 37 anos, com A L'origine, totalizando quatro filmes falados em francês, embora a França e seus euros estejam espalhados por toda a mostra oficial no extenso sistema de co-produção entre europeus, hoje.

Por último, chama a atenção mais uma safra rica trazida da Ásia, região geográfica muito destacada pelo festival, em ciclos. Além do filipino Mendoza, e do coreano Park Chan Wook, temos Johnnie To, de Hong Kong, e seu sempre prazeroso cinema de gênero com Vengeance. Há promessas de controvérsia via sexualdade filmada em Spring Fever (Febre de Primavera), de Lou Ye (China), seu anterior, o muito bom Summer Palace foi proibido pelo governo chinês. Um dos mais esperados da seleção é o novo filme de Tsai Ming Liang (O Sabor da Melancia), da Malásia, que agora filmou na França Visages (rostos).

DHÁLIA – O cineasta Heitor Dhália chega a Cannes com seu terceiro longa metragem, À Deriva. Esse pernambucano foi trabalhar em São Paulo no mercado publicitário nos anos 90, fez o curta Conceição (1999), no Recife, e adaptou Crime e Castigo na forma de uma crônica moderna no seu primeiro longa, Nina (2004). Seu segundo filme, O Cheiro do Ralo (2006) tornou-se um enorme sucesso de perfil alternativo, com aproximadamente 200 mil ingressos vendidos no Brasil, um feito e tanto.

Ao tornar-se diretor da casa, na poderosa produtora O2 de Fernando Meirelles, partiu para desenvolver projetos internacionais que são o perfil da produtora. A O2, com a força de Cidade de Deus, que tomou Cannes de assalto em 2002, emplacou na mostra Un Certain Regard do festival O Banheiro do Papa (2007) e, ano passado, teve o enorme prestígio de abrir o festival com Ensaio Sobre a Cegueira, do próprio Meirelles. Segundo o site da O2, À Deriva estréia no Brasil ainda nesse primeiro semestre. O filme tem no elenco o ator francês Vincent Cassel (Irreversível), Cauão Reymond, Camilla Belle e Débora Bloch.

Em declaração ontem à imprensa, Dhália disse "Ter um filme selecionado em Cannes é ver um sonho se realizando. Há dois anos, estive lá justamente para anunciar o projeto de ‘À Deriva’. Quem é cinéfilo sabe o que essa notícia significa”, afirma Heitor Dhalia.

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