Saturday, May 22, 2010

5X Favela (exibição Especial)



por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Passou em sessão especial 5X Favela – Por Nós Mesmos, uma combinação em longa metragem de cinco histórias curtas, realizadas por jovens diretores que têm origem social em comunidades cariocas, ou favelas. Considerando que Berlim exibiu em primeira mão o paulistano Bróder, de Jéferson D, também dotado de um olhar de dentro, 2010 mostra sinal interessante de que a imagem do cinema no Brasil está chegando às classes menos favorecidas, que sempre foram retratadas passivamente pelas classes mais favorecidas. Se isso será uma realidade natural a partir de agora, veremos.

O projeto pertence a Renata De Almeida Magalhães e Carlos Diegues. 48 anos atrás, ele juntou-se a colegas de sua geração, “todos burgueses engajados”, nas suas próprias palavras, ao me falar em Cannes, para fazer 5X Favela. Eram cinco histórias, cada uma dirigida por Diegues, Leon Hirzman (idealizador desse filme originalmente, já falecido), Miguel Borges, Joaquim Pedro de Andrade e Marcos Farias.

Na nova versão do filme, há também cinco episódios, que são os seguintes: Fonte de Renda, de Manaíra Carneiro e Wagner Novais. Feijão e Arroz, de Rodrigo Felha e Cacau Amaral Wesley, Concerto Para Violino, de Luciano Vidigal, Deixa Voar, de Cadu Barcelos, e Acende a Luz, de Luciana Bezerra.

No encontro com a imprensa, num píer da praia privada do Hotel Majestic, em Cannes, eles mencionaram uma questão interessante já no titulo original do projeto, recentemente corrigida.

O filme teria se chamado 5X Favela – Agora Por Eles Mesmos, ato falho ao, mais uma vez, tratar a classe observada como terceira pessoa. Luciana Bezerra lembrou que foi o cineasta Ruy Guerra, um dos mentores do grupo através de oficinas de roteiro e direção, que chamou a atenção e sugeriu o titulo final, 5X Favela – Agora Por Nós Mesmos.

O filme tem um resultado dos mais felizes, começando pela honestidade sentida no todo e passando pela competência de contar as histórias, todas aparentemente pequenas, mas que ilustram perfeitamente o panorama geral de ser pobre no Brasil, de estar, de alguma forma, por fora, no Brasil. Chega a ser tocante em vários momentos.

No primeiro episódio, Fonte de Renda, um rapaz passa em direito e descobre as dificuldades de entrar numa bolha social que não é a sua. Amigos ricos simpáticos acham que ele será um novo canal para trazer ‘paradas’ da favela e os livros técnicos não são baratos. Silvio Guindane interpreta o rapaz com inteligência, num personagem que tem respeito por si mesmo. Há uma participação de fato emotiva no filme de Hugo Carvana, e é muito bom imaginar os ecos de Valdomiro Pena (de Plantão de Polícia, clássica série da Globo) nesse curto papel.

Feijão e Arroz tem o encanto de ter uma trama pequenina, sobre um garoto que ouve do pai que não agüenta mais levar a mesma marmita do titulo para trabalhar, todo dia. O filho junta-se a um amigo para produzir uma galinha, nos levando a um desfecho tocante sobre memórias de infância e comida.

O segmento contem ainda uma cena maravilhosa, onde os dois meninos de comunidade são virtualmente assaltados por crianças ricas saindo de uma escola, num momento que mistura sabiamente algo que pode ser bullying, mas é claramente um roubo. A reversão de papéis interessantíssima.

Detalhes como esse põem o filme lado a lado com Bróder, e percebemos uma mudanã de discurso e ponto de vista. Em Bróder, me impressionou a visão benvinda e caricata de gente rica, que, no filme de Jeferson D, passa como uma sátira social.

Concerto Para Violino, editado no meio do programa, dando um certo peso necessário ao todo, é a única história que fala abertamente sobre o tráfico, ainda que ancorada na amizade de três amigos, esfacelados pela violência. A trama e seu desfecho são surpreendentemente brutais, mas sempre com uma segurança notável.

Deixa Voar nos mostra amigos soltando papagaio (ou pipa), quando a pequena estrutura de bambu e papel cai numa área proibida, dominada por outro grupo. O que poderia terminar em tiro, acaba com apertos de mão motivados por interesses mútuos e saudáveis por meninas/mulheres, o que não deixa de impressionar pelo clima romântico gente boa.

Essa delicadeza encerra o filme com Acende a Luz, da cineasta mais conhecida do grupo, oriunda do Nós do Morro e responsável pelo premiado curta Mina de Fé. Luciana Bezerra filma um natal quente no Vidigal, e sem eletricidade.

O técnico da companhia elétrica é gentilmente seqüestrado pelos moradores até que a luz volte, num tom de bom humor carioca com comedia italiana clássica. A imagem que encerra o filme é não apenas linda, mas sugere a promessa de que uma área antes escura da cinematografia brasileira talvez esteja acendendo aos poucos.

O que mais chama a atenção nesse projeto é como cada idéia foi bem dimensionada, a partir de roteiros inteligentes. Duas observações válidas: o visual constante de todos os filmes poderia ter sido repensado, talvez com uma equipe de fotógrafos diferentes, e a contextualização geográfica do Rio, cidade dividida, não é muito apresentada.

No encontro com a imprensa, os realizadores deixaram claro que Diegues os convidou e lhes deu total controle sobre o filme. Manaíra Carneiro se pergunta “se o filme não dará início a um movimento no cinema brasileiro, formado por realizadores com um outro olhar sobre a sociedade”.

No entanto, o assunto mais abordado era o da representação: “Queria que meu filme fosse alegre, que mostrasse uma alegria e um bom humor que são tão particulares na favela”, disse Bezerra.

Sobre o personagem universitário do seu segmento, Novais diz que “queria tratar com respeito, sendo igual a qualquer pessoa, nunca da maneira depreciativa que alguém da favela é normalmente tratado”.

Uma palavra que ouvi mais de três vezes de alguns colegas brasileiros, mas de nenhum dos estrangeiros que viram o filme: "ingênuo". De forma alguma achei o filme ingênuo, na verdade, me impressionou exatamente a forma como as histórias são pequenas, algo que pode levar alguns a confundir senso adequado de escala com total falta de pretensão.

Normalmente, nossos filmes grandes, sobre favela ou sertão, são, em geral, tomados por temas gigantescos em letras garrafais, e o resultado é o conceito claro do 'elefante branco', sem vida ou habitação. Esse 5X Favela é um filme pequeno que tem coração.

Filme visto na Buñuel, Cannes, Maio 2010

1 comment:

michelle said...


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