Friday, May 15, 2009

'Gatos Persas': Cinema 'Nações Unidas' em Cannes




por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Cannes às vezes passa a sensação de ser uma espécie de Organização das Nações Unidas do Cinema (ONUC), tribuna para que artistas do mundo ponham para fora questões políticas importantes dos seus países. Isso parece estar à frente do cinema em si, como é o caso de Spring Fever (Febre de Primavera, título internacional, mas que na França chama-se Nuits d’Ivresse Printanière, ou Noites de Embriaguez Primaveril) e Kasi Az Gorbehaye Irani Khabar Nadareh (Gatos Persas). Há um breve exto abaixo sobre Spring Fever.

Os dois foram feitos com câmeras digitais, projetados em digital, e produzidos na surdina, longe dos olhares oficiais da censura que, se soubessem que estavam sendo filmados, não deixariam, tanto na China como no Irã.

Os laços dessa produção chinesa com o filme iraniano são muitos. Gatos Persas também foi feito longe da aprovação oficial e mostra um grupo de jovens rappers, guitarristas, cantores, produtores de musica pop que tentam fazer o que fazem bem baixinho para que ninguém ouça, e que isso não os leve à prisão e às chibatadas. A ironia de músicos pop que querem tocar alto em porões e no campo para que a própria musica não leve à repressão, ao mesmo tempo em que cantam a falta de liberdade e perspectivas é um tema muito interessante.

Gobadi (conhecido no Brasil por Tempo de Embebedar Cavalos) partiu para fazer um filme urbano que poderia se passar no Rio de Janeiro ou em Marseille, excento pelo peculiar clima de repressão linha dura do Irã hoje, aspecto avaliado recentemente em Persépolis, que divide com esse filme pelo menos um incidente envolvendo a morte de um jovem.

Encontrei Gobadi hoje à tarde, ele disse que a maior parte dos atores e não-atores que aparecem no filme já não estão mais no país, e que a situação deles, se lá estivessem, seria difícil. “Eu mesmo não quero mais voltar para o Irã, pois meu país me deprime. Quero me estabelecer em Berlim e criar uma produtora que estimule jovens iranianos que não tem como sed expressar no Irã, músicos, cineastas, escritores”, nos disse.

Essa vontade de mostrar essa juventude faz o filme explodir em clipes efusivos a cada cinco minutos, como se de repente estivéssemos vendo a MTV Irã, e logo suspeitamos que Gatos Persas é um filme desesperado por transmitir uma mensagem.

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