Wednesday, February 17, 2010

Budrus


por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.co
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Em Budrus, Julia Bacha filma em Mini-DV e com a câmera trêmula na mão uma rara instância onde um enfrentamento entre judeus e palestinos é guiado por uma idéia inicial de paz. O conflito surge do muro erguido por Israel para garantir mais segurança para o país, isolando-o dos territórios palestinos. O problema é que o muro não começa na linha fronteiriça de Israel, mas quilômetros dentro das terras palestinas, desenhado com aparente arrogancia.

Uma das localidades afetadas é a vila de Budrus, onde surge uma resistência pacífica, que usa a energia das mulheres e crianças para enfrentar a chegada de tratores que irão por abaixo oliveiras importantes culturalmente para a comunidade. Numa passagem extremamente significativa, a comunidade também mostra preocupação de que as crianças não enxerguem o muro da escola que os ensina noções de cidadania.

Não há qualquer dúvida sobre onde está o ponto de vista de Bacha. Ela consegue duas entrevistas importantes com membros do exército de Israel, que acreditam num tom sempre polido na força e na necessidade de limpar a área. Há uma escalada de tensões e, depois de ações prolongadas de mulheres e crianças, rapazes começam a jogar pedras. O filme cria uma situação tensa e não é difícil lembrar de Avatar, de James Cameron, onde o lado fraco enfrenta a estupidez bem equipada dos menos justos...

Informações indicam que as batalhas (com feridos, mas sem mortos) levaram Israel a redesenhar o mapa dos seus muros e cercas, uma vitória para os moradores, reinterpretada pelo comandante israelense como uma vitória de Israel, que assim quis que as coisas fossem. Budrus é mais uma janela para entendermos de perto conflitos ancestrais normalmente descritos de longe pela mídia, com o tipo de “imparcialidade” que gera ainda mais confusão.

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