Thursday, February 18, 2010

Rompecabezas


por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Dois filmes com ponto de vista feminino passaram na competição, o melhor deles o argentino Rompecabezas (Quebra-cabeças), de Natalia Smirnoff. Muito envolvente, utiliza estrutura minimalista com resultados consideráveis. Maria Onetto, a mesma atriz tão bem utilizada por Lucrecia Martel em A Mulher Sem Cabeça, volta com um ar e uma postura não tão diferente. Interpreta uma dona de casa de Buenos Aires que descobre-se exímia montadora de quebra-cabeças.

Mãe de filhos homem crescidos, marido delicadamente machista, ela descobre na resolução peça a peça de imagens da cultura universal (Egito antigo e clássicos da pintura) uma energia que talvez estivesse faltando na sua vida. Isso aumenta depois que responde a um anúncio para que treine suas habilidades com um homem de meia idade rumo a um campeonato internacional. Uma das imagens do festival: ver essa mulher, sempre serena, não necessariamente infeliz, abrir um verdadeiro sorriso pelo simples fato de sentir-se bem consigo mesma.

É um filme de mulher sobre as conquistas necessárias de pequenas liberdades, cuidadosamente modulado pelas atuações super naturais e por um roteiro bem escrito. Salta aos olhos a capacidade que os argentinos têm de gerar filmes a partir do que parece ser pouca coisa, com grande confiança nos dramas humanos de boa qualidade e tom obviamente pessoal. Salta também aos olhos a influência de Martel não só em tentativas recentes do cinema brasileiro de curta e longa metragem, mas também nesse produto da própria Argentina.

Filme visto no Cinemax 9, Berlim, Fev 2010

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