Wednesday, May 13, 2009

A Imagem


Menina na frente de um filme...

Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


No post sobre Let The Right One in (scroll lá embaixo), Ricardo Lessa pergunta sobre imagem Full HD e como se compara com o melhor que se oferece em Cannes. Já no ano passado, a projeção do 24 City do Jia Zhang Ke (em HD), no Palais, (e, dois anos antes, a do Climates, do Ceylan), meio que jogou para o espaço a noção de filme/vídeo. Esses dois exemplos são claramente demonstrações de que devemos nos liberar de uma vez por todas daquela relação quase que umbilical com a chamada "imagem de cinema" (no sentido película, 35mm).

Hoje, com a projeção de Up, em Digital 3D, mais uma vez vem essa certeza, a imagem "de cinema" virou uma coisa mutante, e ela pode, inclusive, ser a imagem clássica de cinema, do batimento da película. Isso, claro, é algo bem diferente do que foi visto hoje no filme da Pixar. Outra coisa: há o que reclamar de uma imagem daquela? Para mim, não, mas queixas poderão ainda ser feitas, todas elas, creio, do ponto de vista estético, mas não técnico, imagino.

A seleção de Cannes 2009 ainda vem aí com novos filmes de defensores ferrenhos e orgulhosos do filme película, Quentin Tarantino um deles, e é certo que esse festival é o melhor lugar do mundo para criar parãmetros da imagem projetada em cinema, aspecto, aliás, que, para mim e para muitos, é uma parte essencial da experiência. Isso, claro, revela a vala que há entre uma situação de qualidade perseguida como esta aqui e o que temos na vida real de um multiplex.

E é aqui que tento responder ao Ricardo. Hoje, a tecnologia chegou ao nível estarrecedor de permitir que alguém tenha em casa uma imagem cinematográfica melhor (mais limpa, mais nítida, mais focada, mais equilibrada nas cores) do que a grande maioria das salas de cinema que operam no mundo. Adoraria estabelecer uma porcentagen dessa "grande maioria", mas eu realmente não saberia especificar.

Ex: a projeção 3D do Box Cinemas, no Recife, é escura e sem cor. De fato, o vermelho lá não existe.

No Estação Botafogo 1, no Rio, a imagem digital da Rain é inaceitável, escura e sem definição.

Na sala 3 (sala grande, de prestígio), do UCI Boa Viagem, no Recife, os blockbusters parecem sempre tristes, cabisbaixos.

Para não me acusarem de negativismo, porquê as salas comerciais não têm a imagem e o som do Kinoplex UCI Ribeiro Plaza Casa Forte? Será porque o equipamento é novo?

Sobre essa imagem em casa, gostaria de diferenciar o ver um filme num monitor (LCD/Plasma) de um filme da experiência de ver o mesmo num projetor Full HD. Esse segundo permite essa coisa lúdica de um facho de luz efetivamente projetado numa superfície, ou seja, há, de fato, uma aproximação do sentido de cinema, sala escura, etc. Essa aproximação seria válida?

Em fevereiro, Berlim fez a já discutida aqui 70mm Retrospektive, e mais uma vez me peguei me policiando. Aquelas imagens, daqueles filmes, pertencem ao passado emotivo da experiência cinematográfica. Elas são incríveis e cristalinas, e talvez tenham sido ainda mais no tempo em que existiram (décadas de 50, 60, 70, 80). Hoje, diante de uma projeção Full HD em casa, ou na frente dos balões coloridos da Pixar, tenho clara e nitidamente a idéia de que nunca fomos tão mimados, e de que a tecnologia é capaz de fazer as cores e as sombras os elementos mais corriqueiros que os olhos têm. Esse é o perigo, pois elas não são.

PS: Up passou com legendas em francês, negando a grita coordenada de exibidores e distribuidores brasileiros de que filmes em 3D não podem ser legendados,,, Pelo que eu vi hoje, é possível sim, e toda essa pequena polêmica (divulgada no Filme B, recentemente) me cheira a uma manobra comercial para estimular a dublagem no Brasil.

5 comments:

Márcio Vito said...

Pegando a deixa final, eu, quando só, não assisto a filmes dublados nem na Tv nem no cinema. Por puro hábito. Quando estou com as crianças da família, não me incomodo e curto as animações tranquilamente. Mas acho que enquanto não houver um aumento na quantidade de filmes dublados, o mercado exibidor não crescerá. E do tamanho que está, ou crescendo em shoppings, não acredito que haverá um encontro entre o filme que se faz no brasil e o brasileiro.

Saulo Benigno said...

Muito legal você falando da qualidade de imagens no cinema.

Estive hoje no cinema Box aqui de Recife (Sala 8) para ver Star Trek.

Fui empolgado para ver no cinema. Muitos falaram que era o Star Trek mais alto já lançado, eu estava empolgado para ouvir.

Bem, a imagem estava porca, cheia de traços de erro na tela, emporcalhada nas laterais. Não parecia ser em 'alta-resolução'.

O som estava fraco, muito fraco, só tinha som na frente, nos lados e ao fundo eu não ouvia direito, e não foi só eu que achei estranho.

Fora que as luzes laterais não foram apagadas. Achei tudo muito porco. Fiquei triste.

Com tanta tecnologia, HD TV e som de alta qualidade em casa, foi chato sair, pagar um ingresso caro, para essa péssima qualidade.

Chato.

Fábio Henrique Carmo said...

Acho que a queixa quanto à qualidade das exibições de Star Trek está sendo geral. Na sala em que eu vi aqui em Natal, não havia traços de erro, mas estava constantemente perdendo o foco e não creio que era por culpa do projecionista. Ao longo da projeção, ele consertou várias vezes o foco, mas o defeito continuava, principalmente na lateral esquerda. O som estava razoável, mas já estive em sessões com o som bem mais atraente, até na mesma sala. Ou os exibidores e distribuidoras passam a ser mais criteriosos, ou vão perder cada vez mais mais espectadores.

CinemaScópio said...

Pedro Butcher do Filme B me informa que não foi no Filme B que saiu material sobre legendas em filmes 3D, mas no UOL - http://uolcinema.blog.uol.com.br/arch2009-03-15_2009-03-21.html#2009_03-17_08_43_09-132414705-0

sorry.

Fátima Braga said...

O que esperar de um futuro onde as pressões comerciais prevalecem acima de uma sinceridade técnica e estética? Tais pressões não podem se transformar em desmandos, que impedem a visão sincera, pelo espectador, daquilo que ele pode e deve escolher e acha melhor para si. Se com legenda, se digital,se película, cabe às pesquisas com quem de fato ama cinema e o torna um objeto de apreciação, apontarem prováveis tendências, sem ficar pé inarredável em uma posição, contrariando outros tipos de gostos. Esta é minha sincera opinião.